quinta-feira, 3 de agosto de 2017

COMENTÁRIO POST: DA VOLÚPIA DO PODER


"'Entre um burro e um canalha, não passa o fio de uma navalha'

E quando se é um pouco de cada...?

Rodrigo Janot perdeu para Rodrigo Janot. Perdeu para a mesma armadilha que engoliu homens ao longo da História da Humanidade pelo mesmo motivo quase sempre registrado melhor do que ninguém pela frase que virou clichê de tão manjada, de Maquiavel: "O poder corrompe".

O Janot meio tímido no início do primeiro mandato, que duvido tenha sequer fantasiado em seu mais alto delírio tudo o que estava por vir, deu lugar a um Janot que, embriagado pelo poder absoluto que lhe foram concedendo, agigantou-se aos seus próprios olhos, num processo muito semelhante que atingiu Moro, delegados da polícia federal e os procuradores da lava jato.
Interessante constatar que esse poder não veio de uma "luta por espaço", brilhantismo intelectual ou mesmo "táticas aguerridas"... Veio da inacreditável omissão e covardia do PT, de sua incapacidade vista nos governos Lula e Dilma de enfrentar batalhas pesadas contra quem joga sujo, e a mais inacreditável ainda omissão do STF, em que, provavelmente Dilma, Lula, Eduardo Cardozo, todos se calçavam, no mesmo pensamento: "Temos o STF como último guardião da Lei, uma hora alguém imporá limites a essas distorções da Lava Jato, não é possível que deixem Janot e Moro fazerem o que quiserem...."
Mas era possível, e como não há vácuo de poder, à medida em que o governo Dilma e Lula não reagiam, o outro lado avançou, nunca foi tão fácil destruir o inimigo como no Brasil desses tempos; não duvido sequer que, diante de tanta passividade, os piores instintos SÁDICOS de gente como Janot, Moro, delegados da polícia federal e os procuradores, tenha sido ATIÇADO como se sente estimulado o marido que espanca a mulher e ela não reage, apenas chora e pede ao marido que cesse a violência... Mais patético impossível!
Podemos sobre a frase de Maquiavel inclusive fazer uma suposição que reputo não só válida como verdadeira em relação a Janot e seus cúmplices de Lava Jato: se o poder já corrompe quem é apto a conquistá-lo, quem luta por ele, IMAGINEM O QUE NÃO FAZ A QUEM O RECEBE DE PRESENTE, sendo apenas um comum servidor público concursado, e de repente estar viajando de primeira classe pelo mundo todo, dando palestras, recebendo aplausos em restaurantes, sendo ouvido pela Globo toda semana, isso num processo de estímulo à vaidade que aquela criatura JAMAIS SONHARA PARA SI, e tendo EM SUAS MÃOS o poder de "vida ou morte da própria presidente de seu país e a condenação do maior líder vivo do planeta, o mais aclamado nas últimas décadas, Lula?
Não é pouco poder, não é pouco adubo para um ego pobre, de quem sabe que está no auge de sua vida, no momento mais emblemático de sua história pessoal... Haja CORRUPÇÃO TAMANHA, PARA TANTO EGO.
Em síntese, resume a história de Janot, e se confunde com a história da própria Lava Jato.
Certa está Hannah Arendt, atualíssima nesses dias, diga-se, ela e sua teoria tão humana, tão perfeita, da banalização do mal.... Tiremos Janot, Moro e cia desse "Estado de Exceção" que lhes foi meio que dado de presente pela Globo, a não reação do governo Dilma e a criminosa e pusilânime omissão do STF, o que vemos? Dois seres humanos meio toscos, covardes, sádicos às vezes, desonestos no exercício de suas funções, parciais, e por fim, totalmente corrompidos, perdidos num jogo de espelhos entre os interesses de seus aliados internos e externos e suas vaidades.
O que Janot tenta agora é salvar sua biografia, ou talvez esteja entrando numa fase de sua vida muito semelhante à que se obrigou a entrar Fernando Henrique Cardoso, uma vida patética, caricata, essencialmente de AUTOENGANOS, onde a realidade já não conta, e a pessoa cria para si mesma amigos, familiares, um "mundo-matrix" onde brinca de se iludir o resto da vida, já que a verdade se torna algo simplesmente INSUPORTÁVEL.
Rodrigo Janot é esse comum que teve a oportunidade rara, raríssima, de transformar seu tempo, seu país, realizar uma obra talvez menos "grandiosa" - no sentido dos holofotes da sociedade sobre si -, mas DIGNA, dessas que faz um homem sentir-se recompensado pelo resto da vida. Homem comum, usando a frase do grande Milllôr Fernandes, eu diria que abraçou um pouco de cada: foi burro, tanto quanto foi canalha!
É isso que a História registrará com fartas provas, e como todo homem razoavelmente inteligente, no fundo intui, no fundo sabe o que fez, porque fez, com que intenções fez. Rodrigo Janot pode enganar seus orgulhosos companheiros de MPF, pode enganar a manada humana tosca de nossa elite e classe média, mas não pode enganar nem a si mesmo, por mais que tente, nem Dona História, que o tempo incumbe de tirar todas as máscaras.

Não passará nem um fio de navalha quando toda a verdade sobre ele aparecer.
" 



(De Eduardo Ramos, em comentário ao post “Millor, a Lava Jato e a fábula do burro ou do canalha, por Luis Nassif“, convertido no post intitulado "E quando se é um pouco de cada?"
"...todos se calçavam no mesmo pensamento: 'Temos o STF como último guardião da Lei, uma hora alguém imporá limites a essas distorções da Lava Jato, não é possível que deixem Janot e Moro fazerem o que quiserem'." - Este blog se junta ao rol dos que acreditaram nessa 'máxima': víamos os excessos, os desrespeitos aos direitos e garantias individuais, e achávamos que a qualquer momento a Corte Suprema adotaria providências saneadoras...).

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