quinta-feira, 6 de julho de 2017

NO MUNDO MÁGICO DAS METAS DE INFLAÇÃO


Miriam Leitão no mundo mágico das metas de inflação

De André Araújo:

No seu comentário de 28 de junho no jornal CBN da hora do almoço, a inefável Miriam Leitão, com seu ar de pitonisa e grande mestra da economia, saudou a maravilhosa notícia de que o Conselho Monetário Nacional vai anunciar a meta de inflação para 2019 e 2020 em queda.

Eufórica e sem se afetar pelo ridículo de se estabelecer uma variável que depende da política econômica de um novo governo a ser eleito em 2018, Miriam não se perguntou em momento algum QUAL O PREÇO que o Brasil paga para  uma inflação cada vez mais baixa. 

O preço NÃO É NEUTRO, o preço para uma  DEFLAÇÃO em maio é muito alto, a fatura cobra a PARALISIA ECONÔMICA DO PAÍS, uma imensa massa de desempregados;  é a queda do poder de compra que faz os preços baixarem e com isso se atingir a tal meta. Vale a pena? Depende para quem, para os rentistas e os titulares de altos salários é ótimo. O ganho deles está garantido, a moeda vale muito, os preços estão estáveis mas para que isso aconteça é preciso sacrificar a vida de milhões de desempregados e subempregados, grande parte da sofrida população brasileira se sacrifica sem dinheiro para comprar o elementar para a sobrevivência; é essa miséria que garante essa política. Consegue-se então a tal meta à custa de muito sofrimento e privação para que poucos se beneficiem da moeda valorizada, os poucos que têm essa moeda sobrando nos bolsos, gerada por juros altos ou super-salários.

Melhor negócio para a população seria todos terem alguma renda certa mesmo com preços não tão estáveis, sempre é melhor ter emprego e renda mesmo com alguma inflação do que não ter nada com moeda estável. De que adianta ser estável para quem não tem moeda?

A estabilidade é completa no cemitério da Consolação após meia noite, que bom.
Inflação é apenas uma entre inúmeras variáveis da economia, não o único fator importante, tanto que a MISSÃO do Federal Reserve System americano inserida na Lei que o criou em 1913 é de mirar em duas metas: a de EMPREGO vem antes da de ESTABILIDADE. Fazer meta de inflação paralisando a economia é muito fácil, derruba-se tudo, mas TUDO mesmo, produção, emprego, infraestrutura, hospitais sem remédio, polícia sem combustível, escolas sem merenda, os juros várias vezes acima da média mundial, aí chega na META de inflação, que lindo, um resultado maravilhoso à custa de ruínas da economia, da sociedade (...), do saneamento, do sistema de saúde pública.
Como uma comentarista de economia como Miriam Leitão pode falar dez minutos sobre meta de inflação sem, em NENHUM MOMENTO, se perguntar qual o preço de se levar o Pais à deflação de Maio ou a metas cada vez mais baixas projetadas para futuros governos na vã tentativa de achar que um governo eleito em 2018 vai seguir essa cartilha equivocada que está destruindo a economia brasileira, outrora dinâmica e criativa, que teve as maiores taxas de crescimento do planeta entre 1945 e 1975, com inflação?
Na sequência vem a colunista global com outra pérola: tem que ser assim porque isso é uma POLÍTICA DE ESTADO, e não de governo. COMPLETAMENTE ERRADA. Política econômica, da qual a meta de inflação é uma variável, é POLITICA DE GOVERNO e não de Estado, muda o Governo e muda a política econômica; aliás um governo pode ser eleito exatamente para mudar a política econômica, é lição de História em nível de secundário, não precisa ser PhD.
Cada Presidente faz sua política econômica, não está de modo algum amarrado à política do governo anterior, mesmo porque o novo pode achar a política anterior completamente errada.
Roosevelt em 1933 MUDOU RADICALMENTE a politica econômica do anterior Presidente Hoover, a ponto de ter que demitir o Chairman do Federal Reserve, Eugene Mayer, que era deflacionista como Hoover e se recusava a produzir estímulos monetários para combater a depressão, exatamente o que era necessário e que Roosevelt fez com sucesso, criando a Reconstruction Finance Corporation, que injetou dinheiro em 8.000 bancos e 20.000 empresas.
Política econômica é OPÇÃO, nada é de graça, inflação muito baixa pode ser atingida artificialmente com recessão prolongada como no Brasil, e daí? É bom? Eu acho péssimo.
Não é a opinião de nenhum radical brizolista, é uma visão de fora, de Mark Weisbrot, da Universidade de Michigan e diretor do Centro de Estudos de Política Econômica de Nova York, mas não é só dele, é uma visão de grandes economistas, alguns Prêmio Nobel, como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, é uma percepção mais arejada FORA DA ORTODOXIA, porque o mundo gira, as circunstâncias mudam de País para País, não se pode aplicar o mesmo remédio para doenças diferentes, na bela lição de Albert Hirschman. Mark Weisbrot é o economista para quem a taxa de juros que o Governo do Brasil paga em seus títulos é INJUSTIFICÁVEL, ou melhor, ele tem uma explicação: DEVE-SE AO DOMÍNIO DOS BANCOS SOBRE O GOVERNO.
Com uma inflação em Maio ABAIXO DE ZERO, portanto já deflação e meta agora apontando para 3% ao ano, a  taxa básica de juros (a SELIC) a 10,25%, o juro em papéis sem risco é de 7% ao ano, quando a média mundial para títulos da divida pública está em torno de 1% ao ano.
Não há explicação técnica, econômica ou política para o Brasil, um Pais solvente com reservas de US$376 bilhões, pagar SETE VEZES mais que outros países. Podia pagar metade dessa taxa, os recursos que seriam economizados são duas vezes maiores que o déficit do orçamento federal e muito maiores do que o tão trombeteado déficit da previdência social.
Paga-se JUROS MAIORES QUE O NECESSÁRIO sem uma explicação lógica, juros que correspondem em 2016 a 7,6% do Produto Interno Bruto, MAIOR item da despesa federal.
À dívida federal em 2016, de R$ 3,112 trilhões,  soma-se o saldo das chamadas “operações compromissadas”, outra forma de dívida do Governo através do Banco Central, mais R$ 1,096 trilhão, o que somado à divida em títulos chega-se a um espantoso volume de dívida federal bruta de R$ 4,2 trilhões,  sujeita a esses juros estratosféricos, dívida essa que não cessa de crescer, o que demonstra ser a atual política econômica INVIÁVEL a médio e mais ainda a longo prazo; os números não fecham, como já se sabia quando essa política se iniciou. Escrevi mais de 30 artigos sobre esse tema, agora chega-se ao resultado lógico de um programa errado.
Ao mesmo tempo (propaga-se) a tese ortodoxa anunciada incessantemente pelos “economistas de mercado” no mantra infinitamente alardeado nos  comentários de TV e jornais: “COM A QUEDA DA INFLAÇÃO, CAEM OS JUROS E A ECONOMIA COMEÇA A CRESCER”
Mostrou-se completamente falsa a afirmação de que OS JUROS ESTÃO CAINDO NO SISTEMA BANCÁRIO, (na realidade) ELES ESTÃO SUBINDO: o Banco Central informa que em Maio de 2017 os juros médios para o tomador privado do sistema bancário não param de subir, desmentindo o mantra, subiram de 129% para 132%, portanto OS JUROS  NÃO ESTÃO CAINDO, a tese dos “economistas de mercado” é FALSA, o Brasil jamais sairá da recessão com essa política monetária pró-recessão, anti-crescimento e anti-emprego; é uma NÃO POLÍTICA, pela sua mediocridade, falta de lógica, preguiça mental, pouca inteligência, insensibilidade.
Miriam Leitão é uma falsa profeta, ela está anunciando como bom aquilo que é ruim:
DEFLAÇÃO NÃO TIRA O PAÍS DA RECESSÃO e a economia não sai da crise com uma política monetária restritiva, a busca fanática de metas de inflação cada vez mais baixa não leva a nada, e sim a mais crise, mais recessão e mais desemprego, o caminho é o inverso, é uma política de ESTÍMULOS MONETÁRIOS pró-crescimento, com o risco de alguma inflação, preço baixo para o pais sair da recessão e trazer o desemprego para índices normais históricos do Brasil, de 4 a 5%.
Mesmo a mais ortodoxa escola de economia NÃO patrocina a ideia de se buscar METAS DE INFLAÇÃO cada vez mais baixas em meio a uma recessão, a qualquer custo. Não é preciso ser keynesiano, heterodoxo, desenvolvimentista para ver o erro dessa política. Um economista clássico também vê o erro, os clássicos usam receitas anti-cíclicas para combater recessão, é da melhor escola, para isso existe a ciência econômica usando a inteligência para minorar o sofrimento e não para agravá-lo como faz a não-ciência da equipe Meirelles-Goldfajn.
Os comandantes da política econômica são medíocres, incapazes de alguma ideia mais elaborada, se aferram a fórmulas simplistas e simplórias, ineficientes e irracionais, incompatíveis com a complexidade da economia brasileira. que hoje exige MEGA INVESTIMENTOS em infraestrutura, juros baixos para criação de empregos.
Miriam Leitão diz algo absurdo como achar ótimo fixar a META DE INFLAÇÃO para 2020 porque, segunda ela, essa é uma política de Estado e não de Governo.
(Conforme já observado...) Está completamente enganada, META DE INFLAÇÃO é parte da  política econômica que  em todo lugar e tempo é POLITICA DE GOVERNO, governos são eleitos para executarem determinada política econômica,  que é derivada de uma VISÃO DE PAÍS que cada governante tem, um Presidente eleito em 2018 pode preferir uma política de expansão monetária, jogando no lixo da história a META DE INFLAÇÃO, modelo insuficiente se usado isoladamente como único objetivo de uma politica econômica. Miriam Leitão demonstrou não ter conhecimento da história econômica, da história do pensamento econômico, não conhece novas doutrinas que estão sendo elaboradas e defendidas após a crise de 2008, a nova “economia das circunstâncias” que não usa modelos rígidos e fórmulas pré-determinadas criadas em escolas de economia matematizadas, hoje fora do renovado pensamento econômico pós-crise financeira de 2008, crise essa gestada exatamente por essas escolas HP, hoje em grande desprestígio e procurando outros caminhos, como a Universidade de Chicago.
Os comentários hoje abundantes sobre mudanças ridículas de índices (por exemplo: em junho  o mercado acha que a inflação de  2017 seria 3,48% e agora acha que será 3,46%) servem apenas para cálculos para o mercado de derivativos, não têm nada a ver com os interesses da população que não aposta em curva de juros futuros; toda a análise econômica hoje, Miriam Leitão reflete isso, está voltada para a roleta do mercado futuro de índices, câmbio e juros,  isso é uma pequena parte da economia, não é A ECONOMIA que se refere ao interesse geral da população,  um  mundo muito maior que isso.  -  (Fonte: aqui).
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O leitor Joel Lima pegou o bote e observou: "É que nem temperatura do corpo. Com 39 graus, você tem  de tomar remédios pra abaixar a febre e procurar um médico o mais rápido pra atacar o que causa a infecção. Com 35 graus, alguém tem que te levar prum hospital na hora porque você está com risco de perder a vida. Na economia, temperatura abaixo do normal é depressão econômica, e como o André Araújo já disse mil vezes não HÁ receita teórica prum país do tamanho do Brasil sair de uma depressão depois que entra nela. O exemplo mais parecido seria os EUA da grande depressão de 29. O que o Roosevelt fez assim que tomou posse foi o país não quebrar de vez e a esperança da população não sumir. Mas o que acabou com a depressão americana foi, de fato, a entrada do país na Segunda Guerra. O Brasil entrando numa depressão, é mais fácil termos uma guerra mundial do que um Roosevelt [rs]."
De fato, a entrada dos EUA na Segunda Guerra alavancou a economia norte-americana [dois dos muitos itens que pesaram: produção de matérias-primas as mais diversas e produção, em massa, de armamentos e veículos bélicos], mas outras iniciativas também influenciaram, a exemplo da flexibilização das dívidas bancárias, desafogando os produtores rurais e agroindustriais, o que se revelou possível após o auxílio estatal aos bancos, a que se referiu Araújo. [Com o fim da Guerra, a infraestrutura instalada foi readaptada e direcionada, em parte, para outras alternativas igualmente estratégicas - assegurando empregos e renda]. 
Mas a senhora Miriam tem todo o direito de expressar suas opiniões pessoais, independentemente do juízo que delas se possa fazer. Coerentemente, o personagem da próxima edição de seu programa de entrevistas - GloboNews - será o atual presidente do Banco Central.

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