terça-feira, 25 de julho de 2017

A IGNORÂNCIA ECONÔMICA DA LAVA JATO


A ignorância econômica da Lava Jato

Por Luis Nassif


Volto ao último Roda Viva, que discutiu a condenação de Lula, e o desempenho da procuradora Thaméa Danellon, uma espécie de Deltan Dallagnol paulistano.
Trata-se de uma procuradora bem-sucedida, bem avaliada por seus pares. Portanto, seu nível de informação está em linha com o melhor do pensamento médio do Ministério Público Federal. Isso é que assusta!
A primeira surpresa é com o desconhecimento completo de Thaméa sobre as características de uma economia de mercado e relações de causalidade. Montou uma equação simples: as nações desenvolvidas são menos corruptas do que as nações não desenvolvidas. Logo, se acabar com a corrupção, a nação se desenvolverá.
Jamais leu sobre o papel da pirataria na ascensão do Império Britânico, ou o papel dos barões das ferrovias e do petróleo no capitalismo norte-americano. Ou ainda, a importância da colonização mais espúria na sustentação de grandes impérios.
Foi bem corrigida pela economista Zeina Latif, que definiu corretamente as relações de causalidade. Nações desenvolvidas têm instituições mais sólidas e, por isso, a corrupção é menor. Ou seja, a corrupção é menor porque as nações se desenvolveram e não o inverso.
E o custo da corrupção é uma gota perto do custo da máquina pública. É o Brasil improdutivo pesando sobre o Brasil que produz.
O que mais incomoda no discurso de Thaméa, no entanto, é a ideia de que o MP não tem que pensar nas consequências de seus atos. Se viu indícios e suspeitos, tem mais é que mandar bala. É a síndrome do Robocop.
Para bagunçar um pouco mais a cabeça da procuradora: a corrupção é menos negativa para a economia que o combate à corrupção que não deixa pedra sobre pedra no caminho. O dinheiro da corrupção volta para a economia, irriga a economia, enquanto uma obra paralisada é queima de ativo, joga no lixo os investimentos já feitos.
Não é por outro motivo que uma das bandeiras da futura Procuradora Geral Raquel Dodge será discutir com a corporação o custo-benefício de determinadas medidas. A troco de quê paralisar uma obra sob suspeita de corrupção? O que impede as investigações o fato da obra estar paralisada ou não?
Significa condescendência com a corrupção? Evidente que não. Significa os semideuses descerem à terra e fazerem jus aos seus vencimentos, desenvolvendo metodologias menos danosas, avançando nas investigações sem destruir as empresas, prendendo os culpados sem liquidar com empregos. Principalmente porque são mantidos com recursos públicos, impostos pagos pela sociedade civil. 
Enfim, a corporação precisa escalar alguns degraus de conhecimento e parar de se comportar como a ralé intelectual que quer apenas sangue e cadeia.  -  (Fonte: Jornal GGN - aqui).
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O problema é que a carga de temas para concursos na área jurídica é brutal, de modo que as prioridades de estudo recaem sobre os assuntos diretamente ligados ao universo pleiteado. Eles ocupam todos os espaços. Eventualmente, abordagens envolvendo micro e macroeconomia podem ficar em segundo, terceiro plano. A sensibilidade analítica de cenários econômicos poderá fluir de debates específicos e/ou da leitura de livros e de artigos e análises divulgados em publicações diversas, mas isso esbarra na questão disponibilidade de tempo (e muitas vezes em falta de disposição...). A visão holística da realidade do mundo e especificamente de um país não é obtida facilmente; requer muita energia e determinação, além, claro, de muita reflexão. Resumindo: Ostentar a condição de advogado, promotor, procurador, juiz etc. não supre, por si só, as exigências.   

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