domingo, 5 de fevereiro de 2017

DA INTOLERÂNCIA ILIMITADA


"Esses fdp vão embolizar ainda por cima (procedimento de provocar o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local). Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela.





(De Richam Faissal Ellakkis, neurocirurgião, então prestador de serviço no hospital da Unimed São Roque, Estado de São Paulo, num grupo de whatsapp de médicos, a propósito de Dona Marisa Letícia Lula da Silva, naquele momento internada em estado gravíssimo no Hospital Sírio-Libanês, São Paulo. O 'profissional' foi demitido pela Unimed na sexta-feira, e o corpo de Dona Marisa, cremado ontem, sábado, em São Bernardo, SP.

Ricardo Kotscho dá - aqui - uma mostra dos dantescos tempos amargados por essas sofridas plagas:

"... A troca de mensagens entre médicos começou quando Gabriela Munhoz, de 31 anos, reumatologista do Sírio, informou a um grupo de whatsapp de antigos colegas de faculdade que dona Marisa estava no pronto-socorro com diagnóstico de AVC hemorrágico de nível 4 na escala Fischer, considerado um dos mais graves, prestes a ser levada para a UTI.

Thiago Herdy relata que, na noite de quarta-feira, o hospital informou que Gabriela fora demitida por causa do compartilhamento de informações sigilosas, sem dizer a data em que isso aconteceu. Como um rastilho de pólvora, a mensagem de Gabriela se espalhou por outros grupos de whatsapp formados por médicos.
É assustador pensar que nossas vidas podem ficar nas mãos de médicos que torcem pela morte de pacientes.
Pedro Paulo de Souza Filho, médico que atua fora do Sírio-Libanês, foi o primeiro a enviar informações sobre o estado de saúde de dona Marisa no grupo "MED IX", uma referência à turma de formandos em Medicina de 2009 na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Este médico postou imagens de uma tomografia atribuída a dona Marisa Letícia, acompanhada de detalhes que foram confirmados, em seguida, por Gabriela, sempre segundo a reportagem de Herdy, que acrescenta:.
"Os dados foram compartilhados por Pedro Paulo a partir de um outro grupo de médicos intitulado "PS Engenho 3", e atribuídos ao cardiologista Ademar Poltroniei Filho. Em postagem publicada no mesmo grupo, um colega de Gabriela, o médico residente em urologia Michael Hennrich, brincou quando ela disse que dona Marisa não tinha sido levada ainda para a UTI: "Ainda bem!". Gabriela respondeu com risadas.
Residente no Hospital Evangélico de Curitiba, no Paraná, Hennrich disse ao jornal que não ironizou a gravidade da saúde de dona Marisa, mas se referiu a um erro no corretor ortográfico do telefone da colega, que trocou UTI por URO.
É preciso tomar cuidado: além de prestar serviços no hospital da Unimed de São Roque, Richam Faissal Ellakkis, o autor do comentário que abre este texto, atua também em outras unidades de saúde da capital paulista.
Se o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) não tomar providências urgentes, todos corremos o risco de ser atendidos por médicos que fazem parte desses grupos de whatsapp.
"O compromisso e a ética ante a saúde de cada um dos cidadãos colocam-se, sem distinções de qualquer natureza, sempre acima de interesses que não sejam fiéis à dignidade inviolável da pessoa doente junto aos seus entes queridos", afirma a entidade em nota divulgada na última segunda-feira.
Muito bonito e tranquilizador, mas é preciso que este compromisso com a ética seja cumprido na prática médica.
Vida que segue").

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