domingo, 20 de março de 2016

ECOS DA CONDUÇÃO COERCITIVA DE LULA


As críticas da ombudsman da Folha a Jânio de Freitas

Por Luis Nassif

Meu ex-colega Jânio de Freitas não é intocável. Eu mesmo tive algumas pinimbas com ele na própria Folha. Mas para questionar Jânio há que se ter um grau de conhecimento do submundo da política e dos lobbies que vai muito além da formação convencional de um jornalista de aquário – mesmo sendo uma bela profissional, como Vera Guimarães, a ombudsman da Folha.
Desde muito tempo, no famoso episódio das licitações ferroviárias do governo Sarney, Jânio convive com fontes diretamente ligadas ao centro fluido do poder, aquele em que se articulam empreiteiras, polícia, políticos, lobistas, juízes. E desse centro extraiu não apenas grandes denúncias que marcaram sua carreira, como desenvolveu uma capacidade de juntar peças nos jogos mais delicados que vai muito além da formação convencional de um jornalista.
A ironia de Vera no título do artigo – “Quando até o Universo conspira” – é típica de um certo tipo de leitor que, não atinando com o contexto geral, limita-se a colocar tudo o que não compreende no bolo da teoria conspiratória.
Segundo ela,
Há alguns dias, o decano Jânio de Freitas, um dos colunistas mais antigos e identificados com o nome do jornal, noticiou em sua coluna a existência de um plano obscuro destinado a prender o ex-presidente Lula quando de sua condução coercitiva para depor. Um câmera havia "ouvido algo" e estranhou um jatinho com a porta aberta, parado próximo à área VIP de Congonhas, ao lado de um carro da Polícia Federal. O colunista não sabia por que não havia dado certo, mas estava convicto da culpa do juiz Sergio Moro e dos legionários da Lava Jato.
Também aqui caberiam algumas perguntas básicas: jatinhos são presença estranha na área VIP do aeroporto? O carro da PF não integrava o comboio que levou Lula para depor? A imprensa estava toda lá, informa o autor: ninguém mais foi capaz de perceber o golpe engendrado ou eram todos cúmplices?
Ora, a desconfiança de Jânio foi montada em cima de um conjunto de evidências e confirmada por diversos fatos. Se Vera avançasse além da leitura do seu jornal, acompanhasse todas as notícias sobre a Lava Jato (como certamente Jânio faz), conseguiria desenvolver uma compreensão mais sofisticada do episódio e identificar as peças relevantes para avaliar com mais consistência a hipótese aventada por Jânio.
1.    A falsa desculpa da Lava Jato, de que levou Lula para depor coercitivamente no Aeroporto de Congonhas visando preservar sua imagem. Ora, no decorrer da operação ficou nítido que havia alternativas muito mais respeitosas, como o de colher o depoimento na própria casa de Lula.
2.    Ela fala em “plano obscuro” para prender Lula. Obscuro para ela. Há uma guerra mundial em curso pela prerrogativa do cargo e todos os colunistas políticos sustentando que se o caso voltar para Curitiba Lula será preso. Nunca houve nada tão claro no horizonte político brasileiro. Em que mundo vive Vera?
3.    Pergunta ela: “jatinhos são presença estranha na área VIP do aeroporto?”. Jatinho da PF, no momento em que uma pessoa depõe coercitivamente, é uma presença absolutamente estranha. Tão estranha que as versões da própria PF é que o jatinho visaria transportar Lula para Guarulhos, caso ocorressem tumultos em Congonhas. Ou seja, a própria PF precisou se escudar em uma desculpa – pouco convincente, aliás – para explicar a presença do jatinho. E a ombudsman considera o fato perfeitamente normal e estranha que mais nenhum repórter tenha atinado para o fato. E considerou normal prestar depoimento para a Polícia Federal na sala Vip de um aeroporto. Francamente!
Se ela, que é a consciência crítica do jornalismo atual, não atinou, não se vá exigir dos repórteres que foram fazer a cobertura uma compreensão do todo. Queria o quê? Que uma fonte saísse escondida da sala – na frente de 300 pessoas – para confirmar ou desmentir?
4.    Chamar a teoria de estapafúrdia é mais uma demonstração de falta de acompanhamento mais estrito do noticiário. Estapafúrdio é julgar que Lula foi levado até a área Vip do Aeroporto de Congonhas para poder apreciar as decolagens de aviões de carreira ou se encantar com a fuselagem do avião da PF. (Aqui).
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Na manhã do dia da condução coercitiva do ex-presidente, as redes sociais exibiram vídeo no qual - diretamente do aeroporto de Curitiba - o deputado federal Jair Bolsonaro, acompanhado por alguns parceiros, convocava amigos em geral para 'logo mais' se fazerem presentes naquele local (aeroporto de Curitiba) para aplaudir a chegada de Lula. 
A TV Globo, comenta-se, deslocara equipe especial para Curitiba, a qual no mesmo dia retornou a São Paulo (ou Rio) de mãos vazias.
Se inexistia a expectativa da chegada de Lula a Curitiba, por que a mobilização? Ou tudo não passara de mera expectativa do parlamentar e equipe global? 

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