"Os votos são antigos, vêm de 2015. São votos atrasados pela Light, que considera o vento —a mais universal das energias— incompatível com energia elétrica. Há anos, ventinho e apagão são sinônimos no pedaço carioca em que estou. Ou, não menos provável, também na Light esta coluna não é bem vista. Tanto que o apagão prefere atacar quando um texto já se aproxima do fim -e, de repente, a tela, o mundo, a vida somem em sombras. A volta? Em horas inúteis.
Personagem central do ano, Eduardo Cunha merece a prioridade. Desejo-lhe que permaneça como destaque, mesmo fora da Câmara. E assim seja em razão de um farto desfolhar de revelações que respondam à curiosidade latente da opinião pública: quem é e, sobretudo, o que é esse fenômeno da astronomia política chamado Eduardo Cunha?
A Dilma Rousseff, os votos de que perceba o excesso de mediocridade das formações ministeriais que concede às escolhas dos partidos, o que fazem em benefício próprio e em desaforo com o país. Não é uma peculiaridade de Dilma, bastando lembrar que no governo Fernando Henrique até Renan Calheiros e o semiletrado Iris Resende foram ministros da Justiça, além de outras preciosidades do gênero, vivas ainda ou já mortas. Mas para um governo envolto por situações críticas, um ministério respeitável e eficiente é a força mais neutralizadora dos assédios. Caso, é claro, o governo não conte com alguma tolerância da imprensa —situação em que Dilma e Fernando Henrique são recordistas em sentidos opostos.
Temos deputados demais, federais e nos Estados, vereadores demais, e pouquíssimos políticos de fato. O novo ano nada pode a respeito. Mas ao eleitorado cabe desejar que ao menos, nas eleições de outubro, não continue substituindo os escassos sérios por marginais, disfarçados ou não. E OAB, CNBB e outras entidades respeitáveis pedem os votos de que intensifiquem a discussão de temas corretivos da política e daí extraiam propostas inteligentes.
Ao juiz Sergio Moro, os votos de que reflita sobre uma atividade que ele designa com a abominável expressão "usar a imprensa". Notícias deliberadamente inverdadeiras ou imprecisas são violações da ética, tanto a pessoal como a profissional, sejam quais forem as pessoas e as profissões. Se essa prática é criticada na imprensa, não será na magistratura e no Ministério Público que se tornará legítima.
Aos integrantes da Lava Jato, os votos de que pensem, com a isenção disponível, em um efeito paralelo ao que os faz propagadores de delação premiada: impunidade com liberdade, em troca da denúncia de comparsas, é também um estímulo à criminalidade. Isto mesmo deve estar em muitas cabeças, neste momento. Como esteve na de Alberto Youssef e o levou ao crime outra vez, depois de sua delação premiada no caso Banestado, lá atrás, na qual figurou o compromisso de não voltar ao crime.
Os personagens do noticiário merecem os votos de que encontrem menos declarações suas que não fizeram e intenções que não tiveram. As próprias notícias justificam os votos de que recebam dos jornais tratamento menos desequilibrado entre as correntes políticas. À internet, desejo que não se importe com as acusações, propagadas por tantos jornalistas, de que está matando os jornais. Não é a internet que faz os jornais como estão.
A todos, a esperança de que deem um bom desconto no que se diz da situação do Brasil. E assim vivam um ano menos angustiante e mais lúcido do que lhes está induzido."
(De Jânio de Feitas, analista político, na Folha de São Paulo, post intitulado "Votos menos e mais inúteis", reproduzido no Jornal GGN - aqui.
Votos muito bem-vindos).
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