terça-feira, 19 de janeiro de 2016

PETRÓLEO: O FATOR ARÁBIA SAUDITA E AS SOMBRIAS PERSPECTIVAS MUNDIAIS


Petróleo e religião na Arábia Saudita

Por Luiz Felipe de Alencastro

O preço do petróleo continua caindo. Especialistas não excluem que o barril possa descer até US$ 20 ou a um valor ainda menor. Há uma restrição da demanda global e, em particular, um recuo das importações chinesas. No entanto, existe, obviamente, um excesso de produção de petróleo no mercado.

Uma das razões centrais da fartura da oferta é a política da Arabia Saudita, potência sunita, de manter um alto nível de produção nos seus poços. Para enfraquecer o Irã, potência petrolífera xiita, seu principal rival na região e no mundo muçulmano. Mas também para torpedear a concorrência dos produtores americanos de óleo de xisto. Tal política, viável no médio prazo, é facilitada pelos baixos custos de produção do petróleo saudita.

Ghawar, o maior campo de petróleo do planeta, de onde é bombeada 7% da produção mundial, ilustra o peso descomunal da Arábia Saudita no mercado.

Como assinala um colunista do "The Times" (somente para assinantes) o custo de produção em Ghawar é de US$ 5 e todos os poços do campo estão bombando. Mudanças em Ghawar e na produção saudita terão um forte impacto no mercado.

A estatal Saudi Aramco, a maior companhia de petróleo do mundo, controlando 15% das reservas mundiais e valendo possivelmente US$ 10 trilhões, terá uma fatia de seu capital ofertada nas bolsas ainda neste ano. Confrontada à queda do preço do petróleo, a Arábia Saudita também reforma sua economia.

Desde logo, a direção da companhia, deverá gerir as demandas contraditórias de seus acionistas privados, que buscam maiores dividendos, e de seu acionista principal, o governo saudita, que persegue objetivos políticos e estratégicos. Tal dilema, familiar aos que acompanham a gestão da Petrobras, poderá impactar a produção saudita e aumentar os preços do petróleo.

Outro fator que pode influenciar a evolução do mercado tem a ver com conjuntura social saudita e mais diretamente com a situação de Ghawar. Plantados na região majoritariamente xiita do leste do país, os poços de Ghawar estão rodeados por comunidades que entretêm uma relação conflituosa com Riad. Principalmente depois da execução, no começo deste mês, por ordem do governo saudita, do proeminente líder religioso xiita Nimr al-Nimr.

Há incidentes e protestos xiitas na região de Ghawar. Observadores mais pessimistas evocam a possibilidade de uma guerra civil no país.

Num artigo na revista "Forbes" intitulado "Quem não sabe Economia está condenado a repetir a História", Michael Lynch, um conhecido especialista da economia do petróleo, descarta as influências geopolíticas nesta e na precedente (em 1986) queda acentuada dos preços do petróleo.

Para ele, em 1986, como agora, tudo se resume à soma da atual recessão com a superprodução engendrada anteriormente pelos investimentos maciços na alta especulativa dos preços das commodities. No contexto atual, teria existido ainda a crença equivocada no crescimento contínuo da economia chinesa.

Resta que a desconsideração da História nunca ajudou o entendimento da Economia. Sobretudo no que concerne o Oriente Médio e o mercado de petróleo.
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(Luiz Felipe de Alencastro é cientista político e historiador, professor emérito da Universidade de Paris-Sorbonne e professor da Escola de Economia de São Paulo - FGV. É membro da Academia Europaea).
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Fonte: AQUI.
(Mais comentários suscitados por esse elucidativo texto podem ser lidos AQUI).
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Paulo Henrique Amorim: A economia mundial caminha célere para uma deflação de preços e de ativos. Isto significa: o segundo tempo da crise financeira global. O arranjo sino-americano que comandou a expansão  entre 94 e 2007 desmoronou. 

Barril a US$ 27: senta que a crise é braba!

O ansioso blogueiro recebeu de um arguto amigo navegante essa resumida análise do significado do barril de petróleo a US$ 27.

(Leia a aula de Sergio Gabrielli)

Tomou um susto: o arranjo se desmoronou !

E imediatamente ligou para o Tiresias, o profeta cego que vê longe.

Mais longe que a Urubóloga e seus economistas de bancos, que não previram que o preço do petróleo chegaria a US$ 27, e ganham a vida a fazer previsões.

- Grande Profeta, quer dizer que vaca foi pro brejo ?

- Foi.


(Para continuar, clique AQUI).

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Wall Street repercute a crise
Daryl Cagle. (EUA).

Ao que este blog arremata: 

Bem que o profeta Tiresias poderia concluir afirmando: 

"Até bem pouco, quando Tio Sam vivenciava momentos de risco e incerteza, logo tratava de inventar uma guerra de proporções consentâneas com suas 'necessidades' geoeconômicas. Atualmente, até essa alternativa parece se revelar temerária..."

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