terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O DIA MAIS ESQUISITO DO ANO

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Confesso que só pretendia escrever sobre festas de Ano Novo, mas talvez fosse mais apropriado dizer 'não-festas' de Ano Novo, caso de meu pai, ex-seminarista (e daí?), que nunca deu bola pra essas festanças ('Quero distância'). Mas ocorre que eu teria de explicar a relação Ano Novo e (ex) seminário, o que demandaria um longo texto - se é que existe mesmo algum liame entre uma coisa e outra ou tudo não passe de especulação de minha parte -, sem contar a reação de meu pai caso ele tomasse conhecimento de minha "indiscrição".

Felizmente deparei com o texto abaixo, do notável Alex Solnik, sobre o tema. Convindo registrar que nada tenho contra as Boas Festas de final de Ano e começo de outro, embora não fique alucinado em 'me jogar' em Copacabana. 

Ao Solnik.
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O Dia Mais Esquisito do Ano


Por Alex Solnik

Não vou dizer que o 31 de dezembro deveria ser cancelado, porque se não fosse ele, o último dia do ano seria o 30, mas sempre achei esse dia meio esquisito, que não serve para nada, a não ser ficar deprimido por não poder estar naqueles reveillons que saem nas revistas dos famosos, nos quais tudo pode acontecer, a mulher maravilha pode se apaixonar por você, ao menos por uma noite, você pode ficar embriagado em alto estilo, de smoking e tudo o mais, um dia ao mesmo tempo útil e inútil, as lojas estão abertas mas não há clientes, ninguém mais aguenta fazer compras, não há nada a fazer, senão esperar que acabe, um dia de muita ansiedade, ou frisson, o que vou fazer à meia-noite? é a grande dúvida, é quando afloram todas as superstições, nos outros 364 dias ninguém pula as sete ondinhas, nenhuma mulher pensa na cor da calcinha, ninguém pensa em comer lentilha, mas nesse dia, sim, tem que pular ondinha, tem que escolher a calcinha certa, tem que comer lentilha enquanto se espera o grande êxtase, os fogos de artifício nos céus de todo o mundo, à meia-noite, o divisor de águas entre o que foi e o que será, o “grand finale”, o resumo da ópera, “fecham-se as cortinas do espetáculo” e, como num passe de mágica, a partir de meia-noite e um minuto tudo será diferente.

Quando a gente acorda no dia seguinte, ébrio ou sóbrio, percebe que lá fora as nuvens são as mesmas, cai a mesma chuva ou brilha o mesmo sol, como ontem, e apesar disso, apesar de o mar em que mergulhamos hoje ser o mesmo de milhões de anos atrás, velhíssimo, portanto, apesar de sabermos que nesse ano tanto o mar, quanto nós e a Terra ficaremos mais velhos, acreditamos que este será um ano “novo”.  

Cujo fim começaremos aguardando ansiosamente.  -  (Aqui).

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