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"Shuster, da equipe da revista Time, passou meses ao lado de Zelensky, apesar da resistência dos generais do presidente em dar tamanho acesso ao jornalista."
O livro O Showman - Os bastidores da guerra que abalou o mundo e forjou a liderança de Volodymyr Zelensky, do jornalista americano Simon Shuster, pode não explicar historicamente as razões do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, prestes a completar três anos. Mas detalha aspectos da personalidade do presidente ucraniano que talvez ajudem a compreender as razões para o enfrentamento ainda não ter acabado pelas vias diplomáticas.
Shuster, da equipe da revista Time, passou meses ao lado de Zelensky, apesar da resistência dos generais do presidente em dar tamanho acesso ao jornalista. O curioso é que, intencionalmente ou não – já que, presume-se, pelo subtítulo, que o autor estaria falando de um herói e não de um vilão – seu protagonista pode ser entendido de duas maneiras. Uma é de que se trata de um comediante transformado num bravo presidente, que liderou um movimento de resistência no seu país contra os russos. Outra – como foi o caso da minha leitura – é de que se trata de uma personalidade narcisista, que, ao invés de cumprir o acordo diplomático com o presidente russo Vladimir Putin, intermediado pela Turquia, para que a Ucrânia se tornasse um país neutro entre Ocidente e Oriente, preferiu ceder ao canto da sereia da Organização do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos. Ao tentar filiar a Ucrânia à organização, Zelensky conduziu seu país a uma guerra que, segundo estimativas de alguns especialistas, já matou mais de 400 mil soldados, milhares de civis, e ameaça o mundo com um conflito nuclear.
O livro oferece algumas pistas, talvez não intencionais, de que, ao invés do herói propalado pelo Ocidente, Zelensky era extremamente despreparado para ocupar a presidência. Ele se elegeu valendo-se do personagem ficcional de um professor de história que interpretava no programa cômico na tevê O servo do povo, de grande sucesso na Ucrânia, que prometia acabar "com tudo que está aí" e fazer tudo novo. A Ucrânia sofria com a corrupção e a desilusão com a classe política, mas o personagem que Zelensky interpretava, além de não apresentar qualquer saída para os problemas que atacava, não era real. A oposição solicitou que o programa que xingava tudo e todos fosse tirado do ar durante a campanha presidencial, já que se tratava de campanha disfarçada, mas a justiça eleitoral do país achou por bem mantê-lo.
O resultado é que seu governo foi um desastre logo de cara. Como passara a vida na ribalta e não no palco da realidade, Zelensky não tinha quadros políticos, mas apenas seus amigos comediantes – que entendiam de comédia, mas não da gestão de um país. Para negociar com os experientes diplomatas russos, Zelensky mandou um amigo, dono de uma empresa de vídeo, que chegou na reunião de camiseta e boné virado para trás. O enviado voltou impressionado com o fato de os diplomatas russos usarem ternos.
Segundo Shuster, o governo de Zelensky era tão ruim que, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a popularidade do presidente era de 20%. O autor afirma que a guerra ajudou a mantê-lo no cargo. Zelensky começou a usar uma camiseta verde-oliva como se fosse um soldado em combate: ganhou centenas delas de presente de uma confecção de camisetas, para fazer propaganda. A camiseta virou moda, enquanto os soldados reais morriam no campo de batalha. A narrativa de Shuster mostra um Zelensky de personalidade infantil, brincando de super-herói, fazendo posts nas mídias sociais e criando situações de risco para o exército para ser filmado por jornalistas, entre outras frivolidades.
Em 2023, Zelensky suspendeu as eleições e se tornou um ditador. Resta, agora, saber como o seu ídolo, Donald Trump, reagirá (segundo o livro, Zelensky ficou decepcionado ao não conseguir selfies com Trump quando o encontrou para discutir a questão da Rússia durante o primeiro mandato do americano). Por essas e por outras, cabe ao leitor de O Showman decidir em qual dos dois Zelensky apostar: na figura notável, como definida pela jornalista americana Anne Applebaum, ou no farsante inscrito nos detalhes de Shuster. - (Fonte: Revista Piauí - As Melhores Leituras de 2024 - Aqui).
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Respingos de Netanyahu.
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