segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

MULHERES QUE BRILHAM

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Filmes 'Ataque Dos Cães' e 'A Filha Perdida' envolvem artistas excepcionais na direção cinematográfica, roteiro e interpretação, e a italiana Elena Ferrante na criação literária.


Por Léa Maria Aarão Reis

O ano se inicia com notável protagonismo de mulheres relacionadas ao cinema - à arte cinematográfica; não ao cinema comercial. Pela segunda vez na história, além da neo-zelandesa Jane Campion uma outra mulher, a americana Maggie Gyllenhaal, disputou o Globo de Ouro de Melhor Direção. Já a atriz britânica Olívia Colman reafirmou seu  grande talento no filme A filha perdida. Ela é uma das grandes atrizes da sua geração.

Uma coadjuvante, a cantora irlandesa Jessie Buckley, que agora se lança no grande cinema nesse The Lost Daughter, quase rouba o desempenho de Olivia Colman fazendo o  personagem da professora Leda Caruso quando jovem mãe. Grande talento, uma revelação. 

Nicole Kidman, profissional aplicada, vem elogiada pela crítica internacional ao relembrar a lenda de Lucille Ball e recebe o prêmio de Melhor Atriz também no Globo de Ouro.

E para acompanhar esse time feminino brilhante que agora sucede ao Oscar de 2021, recordamos outras duas profissionais de peso ainda em cartaz. A diretora Chloé Zhao, do premiado e excelente Nomadland e  a excepcional atriz Frances McDormand com sua dupla indicação: além de atriz  ela é produtora desse belo filme.

Jane Campion ganhou o importante prêmio concedido anualmente pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood com o provocador faroeste psicológico Ataque dos cães, um réquiem ao mito do caubói machista. Há doze anos ela não filmava e é forte concorrente ao Oscar 2022, em fevereiro.

                                     (Filme 'A Filha Perdida') 

The power of dog é sobre a dificuldade de um homem sair do armário vivendo em ambiente hostil, e as frustrações, e suas consequências, em expor e assumir  a plenitude da sua identidade. O cobrador que chega para penalizá-lo pela  personalidade fendida é um jovem que age justamente em defesa da mãe ultrajada.

Em A filha perdida, o perfil de  Leda Caruso é o de uma mulher de 48 anos, brilhante professora universitária, em férias à beira do mar da Grécia. Ela se vê assaltada pelas lembranças das  dificuldades que viveu, na juventude, quando precisava criar e assistir as duas filhas pequenas e ao mesmo tempo completar a sofisticada formação de alta especialista em literatura comparada.

A proximidade nessa praia grega com uma jovem mãe, Nina (a bonita Dakota Johnson) e a filha pequena dela, hospedadas nas proximidades do seu hotel, funciona como gatilho na memória para uma viagem interior de culpa nunca resolvida que a acompanha.

O roteiro e a direção admiráveis dessa história são da atriz Maggie Gyllenhaal, vencedora de um Globo de Ouro pela minissérie The Honourable Woman e indicada no passado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Crazy Heart. Duas vezes ela foi sugerida para o Globo de Ouro pelos filmes Secretary e Sherrybaby.

Quem faz a professora Leda Caruso é uma atriz muito especial, a inglesa Olivia Colman, a ''filha'' de Anthony Hopkins no filme Meu pai.

 
(Filme "Ataque dos Cães")

Colman trabalha com extraordinária intensidade a personagem criada pela escritora italiana Elena Ferrante, autora do livro com título homônimo, Storia della bambina perduta. Requintada escritora que nunca revelou sua identidade, Ferrante vem se integrar a esse grupo de notáveis artistas com A filha perdida que foi traduzido para o português e lançado no Brasil em 2015.

Nessa história é apresentado, com excepcional honestidade, o esforço intelectual de uma jovem mulher e a sua exaustão física precisando atender ao mesmo tempo as duas filhas pequenas. E a convergência cultural, social e, muitas vezes a necessidade econômica embutidas no conceito contemporâneo de maternidade, hoje revisto, sem idealizações, e expondo, cruamente, além do feminismo, a essência do princípio feminino.

Trata-se de uma dessas ''histórias que relatam conflitos de mulheres inteligentes - professoras, escritoras - confrontadas com suas memórias de violência bruta e misoginia de suas juventudes”, diz a escritora Meghan O'Rourke, em um ensaio para  o jornal The Guardian'.

Tida como uma das grandes escritoras contemporâneas pelo The New York Times, Elena Ferrante faz lembrar Clarice Lispector. "Talvez pelo desespero, pela nostalgia, por uma angústia no feminino. E pela crueza da linguagem, próxima de uma poesia meio desalmada'', escreve a crítica literária portuguesa Isabel Lucas, a quem ocorre também a potente literatura de Sylvia Plath”.

Para quem se interessar pela obra de Elena Ferrante, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica História da Menina Perdida são alguns dos outros títulos de autoria da escritora desse seleto grupo de mulheres arrojadas.  -  (Fonte: Carta Maior - Aqui).

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