Por José Roberto Torero
Diário, é verdade que a mentira tem pernas curtas. Mas também é verdade que elas não precisam mais correr. Agora elas voam!
Por exemplo, esses dias o Queiroga disse que 4.000 pessoas morreram por causa da vacina e essa informação se espalhou pelo Brasil rapidinho. Depois se viu que são só uns dez ou quinze casos que estão sendo relacionados com a vacina. Mas e daí? Quase ninguém vai saber disso e um montão de gente vai ficar com a informação das 4.000 do Queiroga. E, se mais gente acredita na mentira que na verdade, a mentira ganhou a parada.
Olha, Diário, eu vou te contar uma verdade: eu entendo muito de mentirologia. Sou um estudioso profundo. Um mentirólogo!
Por exemplo, eu sei que na mentira tem três partes: a mentira, o mentiroso e, a mais importante, o acreditante.
A MENTIRA tem que ter um pedaço de verdade e alguma parte bem absurda, porque todo mundo gosta de acreditar em coisas absurdas. Por exemplo: “a filha da Dilma é dona da Havan”. Por um bom tempo, muita gente acreditou nisso, porque nessa frase tem duas coisas que existem (a filha da Dilma e a Havan) e uma coisa absurda: uma ser dona da outra. Pena que depois o Veio ficou famoso e acabou com essa história.
No tocante ao MENTIROSO, o importante é falar com certeza. Ele não pode dizer que “há estudos preliminares que indicam”. De jeito nenhum! Ele tem que falar com segurança e dizer que a informação vem de uma fonte segura. Por exemplo: “O japonês que ganhou o Nobel de Medicina descobriu que aquele jatinho do bidê provoca...”
Mas o mais importante nessa história toda é o ACREDITANTE. Ele não pode ser do tipo desconfiado, que vai na fonte da informação. Por exemplo, ele tem que acreditar no que lê sobre um livro, não pode ler o livro. E ele tem que acreditar que está fazendo o bem quando espalha a mentira do mentiroso. Tem que pensar que está delatando a Dilma e prevenindo os usuários de bidê.
O ACREDITANTE acaba se tornando um mentiroso mais perfeito que o MENTIROSO original, porque acredita na MENTIRA e a espalha com certeza absoluta, pensando que está revelando um segredo e fazendo uma coisa boa.
Pode acreditar que é assim, Diário. Pra você eu não ia mentir. - (Fonte: Carta Maior - Aqui).
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