sábado, 6 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018: UM ENFOQUE SOBRE RECENTES ACONTECIMENTOS


"Há muitas pesquisas sendo realizadas por agora com amostras que giram em torno a dois a três mil entrevistados com os quais os institutos pretendem ter, e têm, 95% de confiança e dois pontos de margem de erro para mais ou para menos.

Seria um sonho de consumo para qualquer instituto de pesquisa aferir a preferência com uma amostra de milhões de brasileiros.

Ora, foi precisamente isso que Bolsonaro proporcionou ao preferir dar a entrevista à Record em lugar de ir ao debate na Globo: expôs o seu eleitorado ao escrutínio de uma proporcionalidade amostral com milhões de eleitores.
A audiência medida segundo as fontes habituais apontou para 26,2 pontos para o debate entre os candidatos contra 12 pontos para a entrevista.
É inevitável constatar que assistiram a entrevista os eleitores decididos e os eleitores potenciais ou simpatizantes das propostas da extrema direita que ainda estão tomando decisões. Os dois grupos, o do debate e o da entrevista, reuniram 38,2 pontos totais (26,2 + 12) o que reduz os 12 pontos de Bolsonaro a 31,4% desse universo, que não inclui por exemplo a audiência de outros canais (o SBT teve 11,8 pontos) nem os que por razões diversas resolveram não assistir ao debate, nem à entrevista. Esses números poderiam ser assimilados a uma espécie de “votos válidos”, o que reduziria proporcionalmente o eleitorado se fosse considerado esse universo maior. Se somássemos a assistência do SBT, por exemplo, os 12 pontos de Bolsonaro representariam tão somente 25% da audiência.
Porém a entrevista para Bolsonaro não era uma coisa qualquer, foi a sua primeira aparição pública de campanha depois da alta hospitalar. Razão porque, perante o seu eleitorado, teve significado maior. Agrega-se a isso o fato de que vivemos clima de densa polarização política. Esses dois fatores sugerem que o eleitorado da extrema direita deva ter assistido maciçamente à entrevista, o que torna a contagem da audiência particularmente interessante, exatamente porque no mesmo horário ocorria o debate que, por razões análogas, reunia o eleitorado não bolsonarista.
Ir a uma entrevista na mesma hora do debate foi um erro estratégico porque definiu de forma extraordinariamente precisa o peso do eleitorado bolsonarista.
No campo do debate, reconheçamos, a polarização ocorreu provavelmente em torno às candidaturas que têm chance de ir para o segundo turno ou que têm lideranças emblemáticas. Isso sugere que a maioria da audiência era composta por eleitores de Haddad e de Ciro, além de outros candidatos, claro. Em comum, nesse grupo, certamente, algum grau de rejeição ao candidato que dava entrevista no mesmo horário. Essa audiência reuniu 68,6% dos telespectadores
Para Bolsonaro, a entrevista deveria ter transbordado em muito aquilo que compõe o seu eleitorado conhecido. Noutros termos deveria, considerando seus 30% de eleitorado assegurado, ter reunido ampla margem de interessados, com audiência desejável superior aos 40%. Isso não ocorreu o que sugere que a extrema direita pregou para convertidos.
A ver tais números na antevéspera da eleição há que se considerar se não constituem um limite muito próximo do teto. Essa talvez seja a razão porque, obsessivamente, a campanha da extrema direita queira levar as eleições no primeiro turno."



(De Ion de Andrade, post intitulado "O debate e a entrevista simultâneos definiram o peso real de Bolnoraro", publicado no GGN - aqui
Um dos aspectos mais importantes passou intocado: o fato de que a TV Record, concessão pública, incorreu em crime eleitoral na medida em que concedeu espaço exclusivo ao candidato Bolsonaro, deixando de oferecer idêntico tratamento aos concorrentes do beneficiado. Independentemente das razões que inspiraram candidato e emissora a celebrarem a parceria, o fato é que, sintomaticamente, conforme se vê AQUI, 'Globo abre guerra e denuncia crime eleitoral da Record e Bolsonaro, com aval do TSE').

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