quarta-feira, 7 de abril de 2010

MUNCH ALÉM DO GRITO


Cinéfilo que se preze conhece, e muito bem, "O Grito". O quadro de Edvard Munch - pintor norueguês que viveu na Alemanha - mostra uma figura deformada, pouco mais do que um vulto, que lança um grito numa ponte. Pintado no século 19, os historiadores garantem que surgiu como uma reação do autor ao impressionismo. Ao desespero da figura soma-se o apocalipse de céu e terra que se misturam numa massa única e caótica, em cores de fogo. "O Grito" virou um marco não só das artes visuais, mas do pensamento. Muitos críticos veem no quadro de Munch a origem do movimento expressionista, que marcou o cinema alemão nas primeiras décadas do século 20. Em Hollywood, a incorporação do claro/escuro do expressionismo à vertente policial produziu o filme noir.

Munch ficou marcado pelo "O Grito". A obra é emblemática, por certo, mas não representa o conjunto da obra do autor. Uma grande exposição na Pinacoteca de Paris visa a lançar nova luz sobre esse artista tão mítico quanto misterioso. Chama-se "O Anti-Grito" (L’Anti-Cri) e vai até 18 de julho. A ideia é restituir a verdadeira dimensão de Munch, que teria sido adulterada pela exagerada notoriedade de sua obra mais conhecida. Na Noruega, ele é considerado o maior pintor de todos os tempos. Pode parecer exagero, mas o mérito da mostra da Pinacoteca, ao propor uma nova leitura da obra do artista, recupera o Munch combativo que, mais do que qualquer outro pintor, foi um homem ‘contra’. Com uma lógica verdadeiramente anarquista, ele se opôs ao impressionismo, ao naturalismo e ao simbolismo para criar uma forma de expressão contrária a tudo aquilo que havia recebido como modelos de sociedade e arte desde a infância. Suas relações mais profundas eram com a literatura e a poesia, e ele se experimentou no cinema, que engatinhava quando já era um pintor consagrado.

(Fonte: Estadão).

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