sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A ÚLTIMA LIÇÃO DEIXADA PELO REI PELÉ


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Gênio incontestável dentro do campo, imperfeito enquanto homem. Pelé, falecido nesta quinta-feira, 29 de dezembro, deixou uma última e involuntária lição.

Neste momento em que a opinião pública se divide entre a exaltação ao atleta Pelé e os insultos ao cidadão Edson, por conta do polêmico processo de reconhecimento de paternidade movido pela filha Sandra Regina, o melhor caminho é reconhecer a fragilidade dos ídolos.

Por mais extraordinárias que sejam as suas realizações, ídolos são antes de tudo seres humanos, com fraquezas, contradições, falhas.

Com Pelé não foi diferente. Era fisicamente forte, inteligente, disciplinado, cerebral e explosivo. Completo e perfeito do ponto de vista desportivo, a ponto de Edson separar o homem do atleta.

Humano fora das quatro linhas do campo, Edson Arantes do Nascimento esquivou-se de polêmicas políticas e sociais. Frustrou os que desejavam nele a contundência de um Muhammad Ali.

Na intimidade familiar, o imbróglio com a filha Sandra Regina decepcionou os que buscavam no Edson a perfeição do Pelé.

São críticas em certa medida pertinentes, não fosse o nível dos questionamentos direcionados ao ex-jogador. Como se outros gigantes das artes, da ciência e dos esportes fossem irrepreensíveis em todos os aspectos da vida.

Edson cometeu erros em sua vida, como eu, você, nossos amigos e familiares cometeram e cometem, em maior ou menor grau. Foi só mais um humano, imerso nos valores do tempo e do ambiente em que viveu.

Pelé, por sua vez, foi gigante, unanimidade. Um dos raros vultos da História onde o adjetivo genial pode ser usado sem comedimento.

É possível, sim, reconhecer a grandiosidade do jogador e tudo o que a existência de Pelé representou não só para o futebol, mas para a cultura mundial, embora Edson tenha passado longe da perfeição. Podemos chorar a morte do Rei, mesmo sabendo o quanto foi plebeu em sua existência enquanto homem.

A passagem de Pelé nos deixa, como último ensinamento, que é possível reconhecer a fraqueza dos ídolos e buscar admirá-los por aquilo que os tornou célebres."



(De Marcos Sacramento, texto sob o título acima, no topo, publicado no DCM - Aqui.

Pelé se bastava, Edson não cabia em si. A natureza humana é movediça, ao que parece.

No mais, recordações da Copa de 1970. Muitas mesmo).

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