terça-feira, 25 de outubro de 2022

RETRATO DOS ANOS DA PESTE

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Vimos sustentando, há meses, que o comportamento de autoridades brasileiras no enfrentamento da pandemia de covid certamente seria o fator determinante da continuidade, ou não, de referidas autoridades frente aos destinos do País (e mantemos tal convicção, a despeito dos resultados alcançados por determinados agentes no primeiro turno das eleições 2022). A angústia foi  a companheira de inúmeros cidadãos Brasil afora, e foi nesse clima que nos vimos tomados por semanas, meses a fio enquanto perdurou o flagelo. Ministros da Saúde se sucediam implacavelmente, quase todos passando a léguas da competência. Alguns, como Pazuello, completamente leigos na questão crucial, tapados mesmo, lambuzados de vaidade, preocupados não com os doentes e pessoas comuns e expostas ao drama, mas com a cúpula, por sua vez inteiramente alienada e dona de tudo.
A jornalista Hildegard Angel acompanhou os principais episódios dessa luta inglória, que deixou como saldo de cerca de 680 mil óbitos (número correspondente a algo como 11% das mortes globais por covid, quando a população do Brasil alcança aproximadamente 3% da do Planeta). Eis o seu relato - na verdade um 'corte' - sobre a Hecatombe da Asfixia Amazonense (ao Brasil 247):
  

("Andrea Barbosa, ex-esposa do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, afirmou que durante a crise da falta de oxigênio em Manaus (AM), que resultou na morte de dezenas de pessoas sufocadas em decorrência de complicações da Covid-19, ele 'estava dando uma festa' regada a whisky. 'Tinha gente morrendo um quilômetro abaixo da casa dele no momento em que estava dando uma festa em casa. Sei disso porque, infelizmente, minha filha estava lá”. - Aqui). 

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Esta declaração agora de novo divulgada de Andrea Barbosa, ex-mulher de Pazuello, não é nova.

Em plena pandemia, ela corajosamente veio a público revelar isso. A grande mídia, sob os encantos da política econômica de Guedes que só favorece os ricos, ignorou o depoimento. Deixou passar batido. Uma revelação dessa importância misturou-se a uma enxurrada de outras, todas ignoradas.

Bolsonaro e Pazuello não mataram tanta gente sozinhos. Contaram com a cumplicidade conivente dos farsistas de jaleco branco, dos charlatões de consultório, do CFM, de grupos macro de redes hospitalares e planos de saúde, de laboratórios, de políticos e lobistas propineiros. Todos vendo nessa peste do Terceiro Milênio oportunidade para faturar e enriquecer ainda mais. O número de bilionários do Brasil mais do que dobrou. A fila para comprar jatinhos de última geração triplicou, precisava distribuir senha.

E todos com ar grave, doutoral, com estetoscópio enrolado no pescoço como um cachecol, para aparecer na TV e dar orientações erradas, com o objetivo expresso de provocar mais mortes. Mercadores da tragédia.

No "mercado negro" das propinas, tentavam passar nos cobres, para os próprios bolsos, hospitais da rede federal, para serem praticamente "doados" a grandes grupos de saúde. Não conseguiram, porque vazou. Eu mesma tratei de divulgar, assim que soube do conchavo.

Enquanto rolava toda essa indignidade, os bolsonaristas aloprados davam ataque de pelanca nos WhatsApp e mídias sociais, defendendo o negativismo do maligno que nos preside. Tudo era toldado pela vista grossa.

Chocante, e isso vai entrar para os anais da História, foram os 100 anos de sigilo impostos pelo Exército ao processo de Pazuello. Foi o EB "fazer a egípcia" para um general fardado proferindo comício politico, o que é vedado pelo regulamento da arma.

Assim, imaculado, sem uma gotinha de sangue no paletó, o ministro da mortandade, que usava a máscara errado, sobre os olhos, e nunca tinha ouvido falar no SUS, se elegeu deputado federal com 205 mil votos.

A mídia, hoje tão lúcida, atenta e democrática, tem suas mãos (...sujas? ...) de sangue na lobotomia coletiva realizada no Brasil para sustentar a perversidade de Paulo Guedes.  -  (Aqui).

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