quarta-feira, 2 de março de 2022

LUIS NASSIF: TEM QUE SE PROIBIR AS CRIPTOMOEDAS, ENQUANTO É TEMPO

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Hoje em dia, há notícia de famílias vendendo a própria casa para entrar no cassino das criptomoedas.


Por Luis Nassif

Por que o Banco Central anunciou a intenção de regulamentar o mercado de criptomoedas, e não se proibi-lo? Simples: porque tem muita instituição ganhando dinheiro ainda.

Segundo a Polícia Civil de São Paulo, e a Polícia Federal, em menos de dois anos foram aplicados golpes de mais de R$ 6,5 bilhões e houve movimento de cerca de R$ 130 bilhões no ano passado. Mas pouco importa. Enquanto muitos ganharem, empurra-se com a barriga. Mais à frente, os ingênuos morrem com o “mico”, ficam com o prejuízo, e o mercado voltará seus olhos para outras bolhas. 

Faz parte de todas as bolhas financeiras, desde o Encilhamento, crise de 29, crise do subprime.  A desregulação generalizada vai criando bolhas de especulação. Quando os ativos convencionais estão suficientemente valorizados, buscam-se novas formas de especulação, derivativos, ativos com poucos parâmetros de preços – como obras de arte, jogadores de futebol etc.   

Até que, nesta era digital, cria-se uma ficção, de nome criptomoedas, sem relação alguma com qualquer laivo de realidade. Moedas permitem adquirir bens e serviços; jogadores geram receita para os clubes; derivativos (como diz o nome) derivam de ativos reais; obras de arte são apreciadas, geram status. Já as criptomoedas não têm relação com nada. São tão concretas quanto cassinos.

Tome-se o caso de Sam Bankman-Fried, CEO da FTX, fundada em 2019. Em menos de dois anos, Sam acumulou uma fortuna de US$ 24,5 bilhões, mais valiosa que a Nasdaq e o Deutsche Bank.     

No caso dos bitcoins, a criação de moedas depende de se ter uma plataforma de computadores, desafiados em um jogo de adivinhação gigante. Há uma quantidade pré-definida de moedas. Quem decifra primeiro a adivinhação, fica com direito às moedas. Atualmente, cada bitcoin vale US$ 42.000,00.      

Esse jogo, hoje em dia, consome cerca de 0,5% do consumo global de eletricidade. Apenas a energia utilizada para “mineirar” bitcoin por 60 segundos seria suficiente para alimentar uma família americana média por 17 anos. 

O mercado da contravenção     

As contraindicações desse mercado são muitas, qualquer uma delas sendo motivo para que as operações sejam proibidas:   
  1. A dificuldade de identificação dos investidores, abrindo um enorme espaço para o dinheiro do crime organizado. A ideia de submeter as criptomoedas à regulação tradicional é tolice. O mero anúncio do início da regulação esvaziará o mercado.
  2. Os grandes bancos internacionais, como o Credit Suisse, tinham no dinheiro do crime enorme fonte de receita. O ataque aos paraísos fiscais reduziu esse ganho. Agoira, as criptomoedas são o caminho adotado para trazer de volta o dinheiro cinza para o circuito oficial.
  3. A falta de uma instituição moderadora dos grandes movimentos especulativos, como são os Bancos Centrais para as moedas nacionais cria enormes volatilidades. Nos últimos dias o bitcoin perdeu 38% do seu pico, que ocorreu em novembro passado.
Tudo isso, mais a grande liquidez internacional, acendeu um vulcão que poderá explodir a qualquer momento.    

NFTs e criptomoedas, os siameses 

As criptomoedas surgiram a partir de uma tecnologia – o blockchain.

Em linguagem técnica, trata-se de banco de dados distribuído que é compartilhado entre os nós de uma rede de computadores. A partir daí criou-se essa loucura de moeda digitais que surgem do nada, de sistemas de computador consumindo doses cavalares de energia, e outras excentricidades. 

Moedas refletem o grau de competitividade ou a taxa de juros de cada país; ações refletem as perspectivas de lucros das empresas. Criptomoedas não refletem nada, é especulação pura na veia.     

Em cima dessa tecnologia, criou-se uma outra bolha, mais irracional ainda: os NFTs, desenhos de internet, meros jpeg, que, através de blockchain, podem se tornar propriedade dos especuladores. É o que chamam de token não fungível., ou seja um ativo digital único, irrepetível e indivisível. Apenas no ano passado, esse mercado movimento US$ 22 bilhões.

Nos últimos dias, o News UK, braço editorial de Rupert Murdoch, prepara-se para transformar em NFTs seu arquivo de fotos, desenhos animados e primeiras páginas.

Criou-se recentemente o Bored Ape Yatch Club, para leilões de NFTs. Atualmente existem 10.000 NFTs do Bored, desenhos como esses abaixo. O do meio, com chapéu de capitão, foi adquirido por US$ 200.0000,00.

Em dezembro, o órgão de vigilância de publicidade do Reino Unido proibiu a promoção do “token do torcedor”, tentativa de criar NFTs com os brasões de clubes. Recentemente, a HM Revenue and Customs, autoridade fiscal do Reino Unido, anunciou a apreensão de NFTs, em uma investigação de fraude que envolve e 250 empresas fictícias.

Os alertas

Os alertas vêm de todos os lados.

O Financial Stability Board (FSB), que monitora autoridades financeiras em 24 países, publicou um relatório com alertas relevantes. O FSB estimou em US$ 2,6 trilhões o mercado de criptoativos.        

Diz o relatório: “Bancos sistemicamente importantes e outras instituições financeiras estão cada vez mais dispostos a realizar atividades e obter exposições a ativos criptográficos. A prevalência de estratégias de investimento mais complexas, inclusive por meio de derivativos e outros produtos alavancados que fazem referência a criptoativos, também aumentou”. E completa: “Se a atual trajetória de crescimento em escala e interconectividade de criptoativos para essas instituições continuar, isso pode ter implicações para a estabilidade financeira global.”

O relatório analisou três aspectos do mercado: as moedas não lastreadas, como o bitcoin; os stablecoins, lastreados em ativos reais e que, teoricamente, deveriam ter menor volatilidade; e as plataformas de negociação de ativos criptográficos.

Alerta para os riscos dos stablecoins. Seriam eles os riscos de crédito, incompatibilidade de liquidez e risco de corridas repentinas às suas reservas.  

O meio ambiente e o bitcoin

Não há limites para a bolha que se formou. Em Montana foi fechada uma das últimas usinas a carvão do estado. Devido às restrições climáticas, viu minguar sua clientela. Em 2020 operou apenas 46 dias. No final de 2020, uma empresa de “mineração”. de bitcoins contratou a empresa, montou um data center alongado com mais de 30.000 computadores especializados em minerar bitcoin.

As emissões da queima de carvão da mina foram da ordem de 187.000 toneladas de dióxido de carbono, apenas no segundo semestre do ano passado, 5.000% a mais do que no mesmo período de 2020.    

Não é o único caso. Ocorreu o mesmo com uma usina de carvão desativada no norte do estado de Nova York, outra no oeste da Pensilvânia, em Kentucky.      

As fraudes


A Securities and Exchange Commission (SEC) começou a investigar relações entre a Binance – a maior empresa de criptomoedas do mundo – , empresas que faz câmbio com criptomoedas, e duas empresas de trading, ligadas a Changpeng Zhao, CEO da Binance. As tradings foram criadas para cumprir regulamentos nos Estados Unidos. A sede da empresa é a Ilhas Cayman. E as investigações identificaram suspeitas de lavagem de dinheiro e de fraudes fiscais.      

No Brasil, o Banco Santander entrou na Justiça contra a Binance, acusando-a de dificultar “de maneira maliciosa” a investigação de um desvio de R$ 30 milhões de uma conta bancária da Gerdau. Segundo a Folha, a empresa registrou na Receita uma fintech com telefone e e-mail falsos.

Não apenas ela. A Atlas Quantum, com 15 mil bitcoins de mais de 200 mil clientes no mundo, negociou R$ 4 bilhões em contratos de investimento coletivo. Desde 2019 os clientes tentam sacar o dinheiro, e não conseguem. Outra corretora, a BWA Brasil, f echou as operações deixando investidores sem receber R$ 300 milhões. E o golpe maior foi de Glaidson Acácio dos Santos, o tal “faraó do bitoin”, com golpe de R$ 1,5 bilhão.

Outro caso foi de um piloto de Stock Car, Randon Brown,. Ele aceitou como patrocinador de sua equipe a LGBcoin.ioi, uma criptomoeda cujo nome é abreviação de Let´s Go Brandon. depois de atingir um pico de US$ 6,4 milhões de captação, a moeda desabou e virou pó.

As criptomoedas não estão sendo utilizadas apenas para narcotráfico, mas para organizações políticas criminosas. Sábado passado, a Política Montada Real do Canadá congelou mais de 100 contas financeiras 251 endereços de bitcoins foram compartilhados com casas de câmbio, para brecar suas negociações.   

O Banco Central 

Hoje em dia, há notícia de famílias vendendo a própria casa para entrar no cassino das criptomoedas. E o Banco Central promete regulação até o final do ano.

Não tem lógica. A partir de agora, todo futuro prejuízo em criptomoedas poderá ser debitado ao BC e aos seus responsáveis. Como dois e dois são quatro, há uma bolha prestes a estourar. A demora de Roberto Campos Neto em impedir o prejuízo de milhares de pessoas o sujeitará, futuramente, a responder por crime de responsabilidade. - (Fonte: Jornal GGN - Aqui).

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