quarta-feira, 30 de março de 2022

SOBRE O FILME 'OS OLHOS DE TAMMY FAYE'

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EM NOME DE DEUS


Por Carlos Alberto Mattos

É uma pena que os fiéis da neopentecostal não assistam a Os Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye)É bem verdade que muitos filmes e documentários estadunidenses já reportaram a transformação do Cristianismo evangélico em show business e trampolim para enriquecimento de seus pastores. Mas essa versão “pé na jaca” da história da dupla Jim Bakker e Tammy Faye tem motivos de sobra para constrangimento dos convertidos.

Uma comédia de constrangimentos, sem dúvida. Vemos a evolução da fé caricata de Tammy desde a infância, passando pelo encontro com o jovem pregador Jim até a formação do império televisivo e a derrocada do casal por obra dos tubarões ultraconservadores. É muito divertida a composição de entusiasmo cristão, fascinação pelo pop e sexualidade enrustida dos dois. E é impressionante como esses três ingredientes vão se transformar em perversões à medida que Jim e Tammy se especializam em fazer as doações dos fiéis (chamados de “sócios”) progredirem geometricamente. “Deus aboliu os nossos votos de pobreza”, diz Jim no auge da ambição e do cinismo.

As ações da dupla tinham, porém, um diferencial que contribuiu para levá-los à ruína. Especialmente da parte de Tammy, havia um viés progressista difícil de engolir em tempos de governo Reagan. Tammy é pintada como uma feminista cristã que defendia os gays e chegou a apresentar uma bomba peniana em seu programa.

O filme de Michael Showalter traça em paralelo a trajetória profissional e a vida conjugal de Jim e Tammy, pontuando continuamente os rebatimentos de uma na outra. A sutileza não é o forte, mas nisso parece fazer jus aos modelos originais. Era preciso condensar em 126 minutos a excrescência exemplar de um sistema baseado no cinismo e na ganância.

Andrew Garfield está ótimo como Jim, mas se existe uma bênção especial a ser tirada do filme é a performance insuperável de Jessica Chastain. Apoiada pela maquiagem e as perucas, como ela também premiadas no Oscar, a atriz encarna à perfeição as várias idades de Tammy, sua voz de Betty Boop, o jeito cafona de se conduzir, a falta de noção e as mil ambiguidades da personagem. Louvada seja! Amém.  -  (Fonte: Blog Carmattos - Aqui).

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Entreouvido na fila de cinema
"'Deus aboliu os nossos votos de pobreza', diriam os Jim Jones e pastores tupiniquins vidrados em verbas públicas sob a forma de dinheiro vivo, barras de ouro ou coisas do tipo". 

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