sexta-feira, 12 de julho de 2019

BRASIL ATRAPALHAVA PLANOS DOS EUA PARA AMÉRICA DO SUL, DIZ EX-EMBAIXADOR

Todos os analistas isentos há tempos têm ciência (ou especulam) das motivações geopolíticas que 'inspiraram' a formação do cenário ora vigente. A questão é procurar saber se para consecução dos objetivos visados houve respeito às leis e aos princípios expressamente alinhados na Carta Magna, em especial os da soberania e dos interesses nacionais (pré-sal; tecnologia nacional; grandes conglomerados empresariais, como os atuantes na construção civil etc.). Qual o papel eventualmente exercido por instâncias brasileiras e estrangeiras nesse processo? No passado, prosperaram no Brasil os brasilianistas, pesquisadores estrangeiros, em sua maioria americanos (aqui) financiados e academicamente preparados para se tornarem 'especialistas' em Brasil. As 'ações geopolíticas' externas e - notadamente - internas (incluindo a Lava Jato - após analisada pelo STF) postas em prática nos últimos tempos certamente inspirarão novos estudos e alentadas dissertações de estudiosos em geral. Convindo lembrar que quando tal ocorrer os analistas disporão de elementos mais abrangentes, a exemplo da íntegra do Dossiê Intercept.
           Thomas A Shannon, ex-embaixador no Brasil (2010 a 2013)
Brasil atrapalhava planos dos EUA para América do Sul, diz ex-embaixador
Do Consultor Jurídico (Conjur)
O governo dos Estados Unidos acompanhava com bastante atenção — e preocupação — as iniciativas do governo brasileiro de criar um bloco político forte e coeso na América do Sul. Especialmente na forma como a construtora Odebrecht havia se tornado parceira do governo nesses planos. Quem conta é o ex-embaixador dos EUA no Brasil Thomas Shannon, que ficou no posto entre 2010 e 2013.
O principal foco de atenção, afirma, eram as relações entre Brasil e Venezuela. “O Brasil identificou o modo como a Venezuela direcionava sua indústria de petróleo de modo a se integrar com o mercado americano. Então, algo precisava ser feito para trazê-la à América do Sul”, conta o diplomata, mencionando a crescente animosidade entre o então presidente venezuelano Hugo Chávez e os Estados Unidos. O pano de fundo era o projeto brasileiro de “construção de uma grande e coesa América do Sul”, diz Shannon, hoje consultor do escritório de advocacia Arnold & Porter.
Shannon falou a jornalistas do site Poder 360, da revista Época e do jornal Miami Herald, dos EUA, parceiros da associação de jornais Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês).
De acordo com o ex-embaixador, as intenções do Brasil ficaram claras com o financiamento do BNDES ao porto de Mariel, em Cuba. A obra foi tocada pela Odebrecht e o banco investiu R$ 624 milhões. Ela colocaria o Brasil como importante ator nas relações internacionais no Caribe, especialmente diante da postura do governo americano na época de manter os embargos a Cuba, mesmo com os sinais de abertura econômica.
Shannon afirma que os EUA acreditavam que o Brasil caminhava para a construção de um bloco internacional coeso de orientação progressista e de esquerda. Isso seria um obstáculo à reanimação da Área de Livre Comércio das Américas, ou Alca, um projeto dos governo dos EUA de criar um bloco comercial com incentivos tarifários, mas que foi rejeitado pelos países latino-americanos.
Car wash
As análises de Shannon abrem mais algumas páginas no capítulo norte-americano da “lava jato”. A Odebrecht assinou um dos maiores acordos de leniência da história com o Departamento de Justiça dos EUA (DoJ). E ele só foi possível graças ao livre trânsito de informações e provas entre os procuradores do DoJ e os procuradores da “lava jato” em Curitiba. Entre as provas, extratos de contas da construtora nos EUA.
O acordo de leniência prevê pagamento de R$ 8,5 bilhões pela empreiteira, dos quais 80% foram enviados ao Brasil — e glosados pelo MPF em Curitiba. Em troca de abrir mão do dinheiro, os EUA exigiram a presença de um “monitor externo de cumprimento do acordo”, para que faça relatórios a cada 120 dias.
Esses relatórios “provavelmente incluem” informações “proprietárias, financeiras, comerciais e concorrenciais sigilosas”, diz o acordo.
O que Shannon conta, portanto, é que o MPF brasileiro ratificou um acordo em que uma empresa brasileira, reconhecida pelo governo americano como importante para os interesses do governo brasileiro, se comprometeu a enviar aos EUA relatórios sobre suas atividades comerciais.

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