sábado, 23 de fevereiro de 2019

POR QUE NÃO A REFORMA DA ECONOMIA?, POR ANDRÉ ARAÚJO

(GGN).
Por que não a reforma da economia?
A confraria dos comentaristas de economia da grande mídia está eufórica com a tramitação da reforma da Previdência. Alguns prognosticam cenários cor de rosa, 3,5% de crescimento da economia já em 2019. Ou são ingênuos ou são enganadores de seu público.
Uma das razões centrais, não a única, da inviabilização da atual Previdência é a ESTAGNAÇÃO do crescimento econômico, porque as receitas não crescem, mas as despesas não param de crescer. Cada vez há mais aposentados e menos empregados pagando a Previdência. Essa parte não é culpa do Sistema da Previdência, se há um culpado é a POLÍTICA MONETÁRIA que, visando atingir a inflação na meta, paralisa de propósito a economia, porque se ela crescer a inflação pode sair da meta. 
Hoje a inflação está muito abaixo da meta, algo apontado pelos comentaristas como virtude quando, dentro das condições de uma economia que precisa crescer, indica doença e não saúde, significa queda acentuada de poder de compra, razão principal da estagnação da economia brasileira nos últimos cinco anos, os preços não sobem porque não há pressão de compra, é um índice de sofrimento.
É estranho para um País que precisa crescer que a moeda física emitida esteja ESTAGNADA há dez anos em torno de R$ 230 bilhões, correspondendo a 3% do PIB, quando nos EUA, País que inventou a moeda eletrônica, a moeda física emitida corresponde a 7,6% do PIB.
A escassez de moeda é parte dos erros absurdos da POLÍTICA MONETÁRIA, que visa exclusivamente a atingir a meda de inflação e usa o poder de criação de moeda do Estado para estimular o crescimento, algo que o Banco Central americano, o Federal Reserve System, faz desde sua criação em 1913, mesmo porque na Lei que criou o Sistema a PROSPERIDADE COM PLENO EMPREGO é um dos dois objetivos da política monetária dos EUA.
O Banco Central do Brasil tem, como único objetivo, a estabilidade. E não tem objetivo de estimular o crescimento. Discussões sobre introduzir esse objetivo no Banco Central do Brasil provocaram horror no ‘Partido do Banco Central’, uma confraria de ex-Presidentes e ex-Diretores aliados a economistas neoliberais de grande limitação intelectual, que acham que atingir a meta de inflação é o único e fácil objetivo da política econômica.
A CULTURA DO BANCO CENTRAL
Desde o Plano Real, o controle do Banco Central do Brasil foi entregue a dirigentes que vêm do mercado financeiro e para lá voltam quando saem do Banco.
Criou-se então uma ‘cultura’ de objetivo único da política monetária, a inflação na meta, abandonando qualquer ideia de usar a política monetária como instrumento de crescimento, algo que todos os países ricos do mundo fazem quando necessitam estimular suas economias.
No Brasil criou-se a mitologia do objetivo único da política monetária, com apoio da mídia econômica, de manter a inflação na meta. Com isso, essa ‘cultura do Partido do Banco Central’ criou-se a POLÍTICA DE ESTAGNAÇÃO PERMANENTE, incompatível com a pobreza de 180 milhões de brasileiros que precisam ser objeto de uma política de inclusão numa economia em crescimento. Não há absolutamente nada no Projeto Paulo Guedes nessa direção.
O que se vê é uma política para dar segurança ao investidor especulativo que vem do exterior e como resultante presume-se que esse investimento especulativo vai gerar crescimento. Mas crescimento a partir do quê? Investimento que cria emprego é na economia produtiva e nesta só se investe se há DEMANDA, o que depende de renda antecedente para justificar o investimento na produção. Não há no horizonte nada que indique uma política de rendas que crie demanda para justificar investimento na economia produtiva. Portanto, nessa trajetória de uma política econômica voltada exclusivamente para dar garantias ao mercado financeiro não há nenhuma base de partida para o crescimento.
AS NARRATIVAS DOS ‘SE FIZER ISSO ACONTECE AQUILO’
Esse ‘Partido do Banco Central’, que é hoje quem faz a política econômica, já plantou vários  ‘contos do vigário’, tendo como vítima a população.
  1. SE A INFLAÇÃO FICAR NA META OS JUROS VÃO CAIR – A inflação está abaixo da meta há dois anos e os juros no Brasil são os mais altos do mundo, assim como são os mais altos do mundo os lucros dos bancos, sobre capital, sobre ativos, sobre carteira de crédito.
  2. SE MELHORAR AS GARANTIAS DO SISTEMA FINANCEIRO OS JUROS CAEM – Foi feita uma completa reforma do Código de Processo Civil para enfraquecer a defesa dos devedores e permitir aos credores uma execução muito mais rápida de dívidas com retomada célere de carros e casas, abolidos os recursos de defesa, como os Embargos à Arrematação. Com tudo isso OS JUROS NÃO CAÍRAM.
A mídia econômica representada na grande imprensa é máquina de propaganda desses contos do vigário.
A nova narrativa é que ‘com a Reforma da Previdência virá o crescimento’. É mais um conto do vigário, não há uma correlação para uma política de crescimento, que depende de criação de demanda, ao contrário, do ponto de vista econômico a Reforma vai enxugar renda e, portanto, diminuir a demanda.
O objetivo é garantir mais dinheiro com o Estado para o pagamento de juros. Uma Reforma da Previdência é necessária como fator de justiça social para evitar que os pobres paguem com impostos aposentadorias absurdas de 30, 40 ou 50 mil reais para quem se aposenta com 53 anos, mas não será suficiente para acabar com o déficit público estrutural da União, Estados e Municípios. Este déficit só será atenuado com o crescimento da economia.
UM PAÍS NÃO QUEBRA
O onipresente jornalista da GLOBONEWS Gerson Camarotti declarou várias vezes no dia da entrega da reforma da Previdência que o ‘Brasil quebrou’. Falou pela manhã e à noite, como se tivesse descoberto a bomba atômica. Falta cultura econômica e histórica ao jornalista.
Países podem ser conquistados, ocupados, bombardeados, mas PAÍSES NÃO QUEBRAM. Pode haver moratória na dívida externa, isso não é quebra.
Países são entes físicos e humanos, não são entes contábeis. Uma empresa quebra e tem seus portões lacrados, mas um País não se fecha e nem se lacra, não importa que condições financeiras tenha. Através da História econômica, países entraram em grave crise financeira e dela saíram. Só os EUA tiveram 11 mega crises financeiras, das quais saíram pela mão do Estado imprimindo dinheiro. A última foi em 2008. O México, no começo da década de 1990, teve uma enorme crise financeira e a resolveu estatizando todo o sistema bancário, depois de resolvida a crise desestatizou. Portugal, no fim da ditadura salazarista, também estatizou todo o sistema bancário e depois desestatizou.
Estados têm instrumentos para crises financeiras, têm um poder que muitos não sabem usar, como hoje o Estado brasileiro, arrendado ao mercado financeiro, um Estado de grande País com medo do mercado, que é algo muito menor que um Estado.
Um sintoma impressionante, há 60 anos os índices econômicos eram relatados em número de sacas de café, de veículos produzidos, de quilowatts de energia fornecidos, de barris de petróleo extraídos e refinados.
Hoje TODA a mídia econômica se contenta com índice da Bolsa e do câmbio, são PRISIONEIROS DO MERCADO e não sabem.
Já a política econômica do Brasil é prisioneira do mercado, mas seus executores sabem muito bem as razões dessa rendição.  -  (Aqui).

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