sábado, 5 de setembro de 2015

LAVA JATO: UMA OPINIÃO


A novela Lava Jato e seu principal ator estão chegando ao fim?

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Toda novela é uma sequência de capítulos que narram diversas historietas mais ou menos entrelaçadas que contribuem, de uma maneira ou de outra, para a construção de uma grande narrativa. No centro desta geralmente estão a queda e o resgate do protagonista e o triunfo e queda do vilão. Os escritores geralmente não gostam de revelar as estruturas profundas de suas narrativas, mas as mesmas podem ser inferidas a partir da obra. Um expectador atento não presta atenção às artimanhas retóricas utilizadas para prender a atenção do telespectador. É a maneira como o tema central vai sendo lentamente colocado e explorado que revela aquilo que não foi dito pelo autor e pelo escritor.

A Lava Jato é um processo judiciário, mas também é uma novela. Uma novela noticiosa, repetida diariamente, com novos fatos, historietas e capítulos. Durante algum tempo a novela Lava Jato foi dominada por um delator, mas novos delatores-personagens surgiram. A trama foi se tornando complexa, com prisões mais ou menos injustas e concessões de liberdade mais ou menos duvidosas. A narrativa televisiva do processo é singela e retrata uma oposição mística: bem absoluto x mal absoluto. A personagem central da narrativa é heróica e não tem defeitos. Sérgio Moro foi apresentado ao respeitável público como um paladino da Justiça numa armadura reluzente. Após assistir esta novela noticiosa durante algum tempo, percebi que sua estrutura profunda se organiza como se fosse um esquema Ponzi.
Um esquema Ponzi é uma sofisticada operação fraudulenta de investimento do tipo esquema em pirâmide que envolve o pagamento de rendimentos anormalmente altos ('lucros') aos investidores, à custa do dinheiro pago pelos investidores que chegarem posteriormente, em vez da receita gerada por qualquer negócio real. O nome do esquema refere-se ao criminoso financeiro ítalo-americano Charles Ponzi.” https://pt.wikipedia.org/wiki/Esquema_Ponzi
Esta definição dada pela Wikipédia é razoável, pois contém todos os elementos necessários para entender o golpe. O esquema geralmente funciona enquanto for capaz de distribuir lucros para os participantes. Mas para que isto ocorra mais e mais pessoas devem ser aliciadas a aderir à pirâmide garantindo a remuneração dos participantes mais antigos. Cada novo membro do esquema é estimulado a conseguir novos adeptos para garantir seus próprios lucros. Quando as adesões mínguam a pirâmide colapsa. Os últimos participantes são os primeiros a levar prejuízo. Alguns poucos conseguem resgatar o que investiram. E os iniciadores do esquema se apropriam de grandes quantias em dinheiro.
A novela da Lava Jato encenada diariamente nos telejornais sob o comando de Sérgio Moro funcionou mais ou menos como um esquema Ponzi. Cada delator era estimulado a delatar um novo suspeito sob promessa de benefícios. Os novos delatados também eram instigados a fazer o mesmo para minimizar suas condenações trazendo novos réus às garras do verdugo togado. A cada nova delação Sérgio Moro ganhava grande destaque nos capítulos noticiosos, pois a imprensa resolveu esquecer as boas notícias do governo Dilma Rousseff para se concentrar na destruição da imagem da Petrobras. O esquema e a novela, contudo, entraram em colapso no exato momento em que José Dirceu e alguns empresários se recusaram a delatar outras pessoas e passaram a questionar tanto a condução do processo quanto a credibilidade dos delatores. Sérgio Moro foi então discretamente aposentado pela mídia. O show judiciário perdeu a graça ou vai continuar?
O herói da Lava Jato só voltou a ser notícia quando resolveu processar um blogueiro e quando o salário dele foi revelado nas redes sociais. A imprensa, contudo, não se interessou muito pela moralidade ou imoralidade dos 77 mil reais pagos mensalmente a Sérgio Moro pela União. O galã da telenovela noticiosa também não fez questão alguma de explicar como e por que passou a ganhar o dobro do teto. A armadura brilhante dele enferrujou ou não era tão brilhante como gostariam os produtores da telenovela?  Não o vi dar entrevista prometendo devolver o que ganhou acima do limite constitucional.
A pirâmide de delações premiadas que caracterizou a novela noticiosa Lava Jato já entrou em colapso. Veremos em breve quanto Sérgio Moro vai lucrar ou perder em razão de sua conduta judiciária e artística. Ele será submetido a intensa provação e promovido como Fausto De Sanctis? Cairá em desgraça como João Carlos da Rocha Mattos, Juiz Federal que também ficou famoso e depois foi processado, condenado e encarcerado?  Aguardaremos ansiosos os próximos capítulos desta nova saga.
O público alvo da novela noticiosa (encenada para destruir a Petrobras e as empresas que prestavam serviços à petrolífera brasileira) foi a classe média urbana. Tudo indica que a obra fez sucesso entre os tucanos e seus eleitores. Entre os operários demitidos em razão da Lava Jato a novela certamente não fez muito sucesso. Entre os empresários que foram presos e economicamente afetados a obra certamente é impopular. Os políticos envolvidos também não gostaram muito da interpretação de Sérgio Moro e alguns certamente já tramam vinganças. À medida que a novela noticiosa acaba e o interesse da população esfria o suposto herói ficará mais e mais exposto. No auge de seu poder o Juiz Federal ficará paradoxalmente mais frágil. E então o melodrama da queda dele poderá começar. Antes disto, porém, os nossos comerciais… (Fonte: aqui).

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Fato: A Operação Lava Jato irá além de setembro do próximo ano: o Conselho Superior do Ministério Público Federal, presidido pelo Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autorizou a força-tarefa a prorrogar suas atividades por mais um ano; trabalhos de investigação do MPF serão estendidos até setembro de 2016 - aqui.

Fato 2: Os privilégios salariais de certas categorias causam perplexidade, para dizer o mínimo. Trata-se, sem dúvida, de postura fora da curva, para usar a expressão cunhada pelo ministro Barroso, do Supremo (que, aliás, também integra o rol). Independentemente da crise econômica que assola o país, uma questão salta aos olhos: a desmoralização do artigo 37 da Constituição Federal no que respeita ao teto salarial, em face de penduricalhos diversos, por sinal isentos, também, do imposto de renda. Os argumentos utilizados pelos defensores de tais excrescências - especialmente os responsáveis pela preservação das leis - deveriam ser encarados como agravante para o caso de imaginária punição.  

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