segunda-feira, 11 de maio de 2015
A TESE MÍOPE DO COMBATE À INFLAÇÃO MEDIANTE O DESEMPREGO
"O âncora do Jornal da CBN do meio-dia teria um lugar garantido em qualquer novela da Globo: cara, postura, voz, gestual de chefe de estação do interior nos anos 30. Mas o aspecto bonachão não tira a graça dos absurdos que ele entretém em seu horário, ideal para ouvir no carro quando se volta para o almoço em casa.
Tem um quadro chamado Call de Abertura onde hoje entrevistou um tal de Teco (que ridículo usar apelidos em conversa pública) que disse que o Banco Central está feliz da vida com o desemprego. Quanto mais desemprego, mais fácil atingir a sacrossanta meta de inflação de 4,5% em dezembro de 2016. Que coisa importante, a meta é tudo na vida, o desemprego é um detalhe sem nenhuma importância. Milhões de brasileiros ferrados não é nada, o bom é O CENTRO DA META.
Que ainda exista um pensamento econômico que consagre o desemprego como ferramenta de politica econômica é um retrato cabal da pobreza, da mediocridade, da ausência de qualquer projeto mais inteligente por parte dos "economistas" de boca cheia de anglicismos, loucos por uma carreirinha no Itaú ou no Bradesco, economistas “de porta de faculdade”, os Teco da vida e os seus ídolos, Levys e Altamires do Banco Central.
Mas será que não tem mais nenhum Delfim, nenhum Simonsen, nenhum Roberto Campos, pessoas com alguma massa cinzenta de cultura econômica dentro de uma cultura geral e politica avançada? Como é possível sequer dizer que o desemprego é bom para o Banco Central. Pensar semelhante asneira já é grave, dizer é horrível, praticar é crime.
Há 80 anos John Maynard Keynes desmontou o pensamento ortodoxo que glorificava a reserva de desempregados como boa para o capitalismo. Combater a inflação com o desemprego é como combater a dor de cabeça com afogamento, acaba a dor e acaba o dono da cabeça.
Para que serve a inflação baixa? Para as pessoas poderem comprar comida a preços razoáveis; mas se o freguês está desempregado e não tem renda, para que serve a inflação baixa? Para quem não tem dinheiro no bolso a inflação tanto faz ser 30% ao ano ou ser zero.
O tal Teco expressa a cartilha dos economistas burros, categoria onde a burrice é mais abundante do que nas demais profissões. Politica econômica precisa saber dosar inflação com prosperidade; às vezes a inflação é necessária para reativar a economia, para aliviar as dívidas. A inflação não é uma variável no vácuo, ela decorre de outras variáveis. Trazer a inflação para o centro da meta é expressão que dá orgasmo a muitos economistas, mas pode ser um desastre para qualquer economia; hoje na Europa muitos economistas tentam fazer inflação e não conseguem.
O modelo de metas de inflação é uma das maiores fraudes em ciência econômica, é uma política tola e viciosa; não tem que haver meta de inflação nenhuma: a politica econômica deve ser flexível ao máximo para se amoldar às circunstancias e ciclos. Meta de inflação é um engessamento da economia em torno de uma só variável. Não tem coisa mais burra sob o sol.
Os EUA nunca adotaram essa ideia. Alan Greenspan tem um papel antológico sobre a estupidez desse modelo que poucos países adotam. As razões dele são óbvias; qual a vantagem de engessar um instrumento de politica econômica? Para reativar uma economia paralisada, a inflação é uma ferramenta.
Em 1933, no auge da Grande Depressão, o candidato presidencial Herbert Hoover, postulando a reeleição, disse que sua política seria mais do mesmo, mais recessão para combater a Depressão. Keynes deu uma entrevista ao New York Times mostrando a burrice dessa ideia. Acabou com Hoover e abriu as portas da Casa Branca para Roosevelt, que fez o contrário, jogou moeda na economia para levantar o sistema.
Qual a lógica de BUSCAR O CENTRO DA META em dezembro de 2016 com a economia arrasada, no chão, desemprego nas alturas? Conseguir o CENTRO DA META, e daí? Acontece o quê? Resolveu o quê?
O que vai acontecer é ainda pior: vão tentar chegar nesse centro da meta, não vão conseguir, mas pelo caminho vão destruir a economia produtiva para... NADA. A burrice é a mercadoria mais abundante do planeta."
(De Motta Araújo, no Jornal GGN, post intitulado "Economistas de circo: O desemprego é bom" - aqui).
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