quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CINEMILLER


O cinema, em sua essência, é uma arte experimental. E, mais do que isso, é uma arte que sempre experimentou novas técnicas e narrativas. O flerte com as artes gráficas é antigo e vem desde Georges Méliès, que fez o primeiro filme de ficção-científica da história, A Viagem à Lua, em 1902.

Ao longo de todo o Século XX, o cinema utilizou como inspiração direta, ou mesmo indireta, diversos movimentos artísticos. Do expressionismo alemão aos filmes surrealistas de Luís Buñuel e Salvador Dali, chegando até a pop art de Andy Warhol e às adaptações de histórias em quadrinhos.

O namoro do cinema com as HQs ficou mais sério a partir de 2005, quando o cineasta Robert Rodriguez provou para o autor de quadrinhos Frank Miller que era possível adaptar com fidelidade sua obra Sin City para o cinema.

Sin City trouxe para a tela grande a sensação real de acompanharmos uma HQ em tamanho gigante. Ang Lee já havia tentado isso com seu filme do Hulk, mas o filme de Robert Rodriguez e Frank Miller foi bem mais radical.

Para transportar para a telona o universo em preto-e-branco criado no papel, Rodriguez desenvolve uma nova técnica. Sin City teve um processo de captura de imagem inteiramente digital e utilizou câmaras de alta definição. O envolvimento de Miller no processo foi tão intenso que ele terminou recebendo crédito como co-diretor.

A crítica, na época, batizou Sin City de “filme neo-noir”. O curioso é que quando Frank Miller concebeu sua série de histórias sobre a Cidade do Pecado sua principal inspiração foram os filmes noir da década de 1940. O cinema inspirou o quadrinho, que inspirou o cinema, que depois inspirou novamente o quadrinho.

Os experimentos de Rodriguez e Miller em Sin City sofreram uma radicalização maior ainda em 2007, quando Zack Snyder dirigiu 300, mais um filme inspirado em uma obra criada por Frank Miller. Desta vez, Miller não se envolveu no projeto, mas o aprovou desde o início.

Sin City foi radical, porém. Talvez o fato de ser em preto-e-branco tenha “facilitado”, se podemos dizer assim, a experiência visual. 300 foi mais longe ao utilizar as mesmas cores fortes dos quadrinhos e transformar em realidade a sensação de “ler” uma HQ em uma tela de cinema.

E para finalizar, uma irônica e triste constatação: Frank Miller foi o responsável direto pelo cruzamento definitivo entre quadrinhos e cinema, porém, ao utilizar esta técnica para sua adaptação solo do clássico The Spirit, de Will Eisner, no final de 2008, ele errou completamente e fez um filme que em nenhum momento honra o material original e deixa aquela esquisita sensação de não ter dito a que veio.
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(Marden Machado - http://cinemarden.blogspot.com/ ).

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