sábado, 16 de dezembro de 2023

RADIOGRAFIAS SIMPLES DE UM QUADRO DANTESCO

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A parte mais incisiva de "A CRISE CLIMÁTICA EXIGE MUITO MAIS DO QUE APENAS UM SHOW MIDIÁTICO" (Aqui).

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Um relatório publicado no início de novembro pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) indica a escassez de financiamento necessário para enfrentar os imperativos do aquecimento global: "As necessidades de financiamento da adaptação (medidas a serem tomadas para reduzir os impactos das mudanças climáticas) dos países em desenvolvimento são entre 10 e 18 vezes maiores do que os fluxos financeiros públicos internacionais". 

De acordo com o PNUMA, os custos projetados dessa adaptação nos países em desenvolvimento são de cerca de US$ 215 bilhões por ano, na década atual. Apesar dessas necessidades, o financiamento público multilateral e bilateral para adaptação destinado aos países em desenvolvimento diminuiu 15%, caindo para irrisórios US$ 21 bilhões, em 2021. O Pnuma acredita que o planejamento e a implementação da adaptação parecem estar estancados, com enormes implicações em termos de perdas e danos, especialmente para os países mais empobrecidos e para os setores mais vulneráveis do planeta.

Esse organismo da ONU especializado no clima identifica sete maneiras de aumentar o financiamento por meio do gasto interno e financiamento internacional e do setor privado. Outras vias incluem o aumento e a adaptação do financiamento às pequenas e médias empresas e uma reforma da arquitetura financeira global.

Um novo Fundo de Perdas e Danos também precisará avançar para mecanismos de financiamento mais inovadores para alcançar a escala necessária de investimento. "Perdas e danos" aponta para as compensações que devem receber os países em desenvolvimento que mais sofrem com o impacto dessa crise, pela qual não foram responsáveis (https://www.unep.org/resources/adaptation-gap-report-2023).

Melhoria do clima respeitados os direitos humanos

Na perspectiva da Anistia Internacional, "O péssimo histórico de direitos humanos dos Emirados Árabes Unidos ameaça o êxito da Cúpula". Embora Dubai tenha prometido permitir que "vozes diversas sejam ouvidas" na COP28, sua promessa "é inadequada e serve para destacar o contexto normalmente restritivo dos Emirados Árabes Unidos em matéria de direitos humanos e as severas limitações impostas pelo país aos direitos e à liberdade de expressão, bem como à reunião pacífica".A preocupação dessa organização com "o fechamento do espaço cívico e a possibilidade de espionagem digital e vigilância" durante a COP28 é tangível: "[Esse evento] deve ser um fórum em que o direito à liberdade de expressão e de manifestação pacífica seja respeitado. E onde a sociedade civil, os povos indígenas e as comunidades e grupos da linha de frente afetados pelas mudanças climáticas possam participar abertamente e sem medo. Os cidadãos dos Emirados e as pessoas de qualquer outra nacionalidade devem poder criticar livremente Estados, empresas e políticas, incluindo as dos Emirados Árabes Unidos, para que possam contribuir na definição de políticas sem sofrer intimidação".

Por outro lado, como observa Anistia, o fato de os Emirados Árabes Unidos serem um dos 10 maiores Estados produtores de petróleo do mundo explica por que se oponha à rápida eliminação dos combustíveis fósseis: "O setor de combustíveis fósseis gera enorme riqueza para relativamente poucos atores corporativos e Estados, que têm interesse em bloquear uma transição justa para as energias renováveis e silenciar aqueles que lhes fazem oposição".

Mas, aqui não se esgota a preocupação da Anistia porque a COP28 será presidida pelo sultão Al Jaber, nada menos que diretor-executivo da ADNOC, a empresa estatal de petróleo e gás do país, sempre preocupada em expandir sua produção.

A Amnistia Internacional instou o sultão a demitir-se do seu cargo na ADNOC "por considerar que há um claro conflito de interesses que ameaça o sucesso da COP28 e que é sintomático da crescente influência que o lobby dos combustíveis fósseis tem exercido sobre os Estados e na COP" (https://www.amnesty.org/es/latest/news/2023/11/global-cop28-climate-change-summit-essential-need-to-knows/).

Agora ou nunca

Segundo a revista National Geographic, a Antártida perde 151 bilhões de toneladas de gelo por ano, uma soma equivalente ao peso da rocha que conforma o Everest, o pico mais alto da Terra (https://www.nationalgeographic.es/medio-ambiente/2021/10/datos-para-entender-la-realidad-del-cambio-climatico).

Por outro lado, em apenas 70 anos, as casas de 200 milhões de pessoas estarão abaixo do nível do mar, irremediavelmente sepultadas pela água.

E as Nações Unidas dizem que os desertos crescem vorazmente por causa das secas extremas. Todos os anos, a Terra perde mais de 12 milhões de hectares –quase toda a terra cultivável da Alemanha– devido à desertificação, à degradação do solo e à seca.

Os incêndios estão se tornando mais frequentes e devastadores. Da Austrália à Califórnia, passando pela Grécia, Espanha e Portugal e pelo Amazonas, quase não há região no mundo que esteja livre desses incêndios, cada vez mais prolongados e extensos. Estima-se que, somente entre 2018 e 2020, as chamas devastaram aproximadamente 120 mil quilômetros quadrados de superfície.

Um milhão de espécies estão em risco de sobrevivência. Um número impressionante de habitantes do planeta, incluindo 40% de todos os anfíbios conhecidos (cerca de 3.200 espécies), estão ameaçados pelo impacto dos excessos humanos. As mudanças climáticas, a poluição, o desmatamento, a sobrepesca, o desenvolvimento industrial e as espécies invasoras ameaçam a biodiversidade.

Radiografias simples de um quadro dantesco, que corresponde ao aumento anual da pobreza e até da fome de bilhões de pessoas em todo o mundo. E isso contrasta com o negacionismo climático de setores do poder político e econômico em vários continentes. A humanidade ameaçada, o planeta quebrado. Os tempos estão ficando mais curtos em um ritmo acelerado. É por isso que, nos dias de hoje, infinitos olhos se voltam para Dubai quase em desespero. Uma nova oportunidade para retificar a marcha planetária que ameaça a própria sobrevivência dos seres vivos? Tudo indica que não restam muitas opções de ‘peças de reposição’ e nem muito tempo disponível.

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