segunda-feira, 8 de abril de 2019

A LOUCURA É ENTREGAR A ECONOMIA PARA ECONOMISTAS

Georges Pompidou (1911-1974), ex-presidente francês: "Das maneiras para se atingir o desastre, o jogo é a mais rápida, as mulheres a mais agradável e consultar economistas a mais segura". Mas, a História registra que Roosevelt consultou Keynes, refletiu sobre suas sugestões e argumentos, partiu para o New Deal e tirou seu país da grande recessão. (Não obstante, o próprio Roosevelt foi o condutor do processo - certamente com a oitiva de outros conselheiros -, corroborando o título do artigo a seguir).


Economistas não são cientistas: a loucura é entregar a economia para eles comandarem

Por André Araújo (No GGN).

Na Inglaterra, primeiro berço da moderna economia capitalista e depois berço também do neoliberalismo de mercado, há nos últimos vinte anos um movimento intelectual de revisão de certos conceitos na moda a partir dos anos Thatcher, a própria biografia da “Dama de Ferro” está sob pesada revisão para baixo e nessa linha segue a contestação ao “mainstream” do “economics”. Muitos pensadores ingleses chegaram à conclusão de que o estudo da economia como ciência nem deveria existir, é uma ciência precária que poderia ser mais voltada para o estudo da história econômica e não como “ciência” porque por esse caminho se construíram arbitrariamente “fórmulas pseudo científicas fixas” que são as causas de muitos desastres econômicos.

Há décadas este autor pensa da mesma forma e meus livros caminham por essa trajetória. As faculdades de economia que pretendem transformar esse conhecimento em ciência deveriam se transformar em escolas de estudos da História econômica e social, sem apelar para a matemática, pois de ciência não se trata; a aplicação do método científico é aceitável até certo ponto, mas sempre temperada pela observação conjunta da realidade política do momento.

O INSTITUTE FOR NEW ECONOMIC THINKING, de Nova York, onde estão três Prêmios Nobel de Economia (Krugman, Stiglitz e Sehn) segue um caminho não exatamente igual mas em paralelo, é um “think tank” de discussão das caixas pretas do “'mainstream' economics", o sistema de lições das universidades americanas (não todas, há escolas mais independentes) que se voltaram mais para a criação de ferramentas para especulação no mercado, com complicadas fórmulas para calcular preço de derivativos e não como visão de uma política econômica como instrumento de prosperidade geral.

Nos EUA há hoje também muita contestação ao “mainstream”, que se desborda para a política geral, mas no Brasil a Casa das Garças continua aferrada às “lições de casa” aprendidas nos anos 80 e 90, quando o mundo era outro; as lições hoje não servem mais, as necessidades do Brasil atual são crescimento e emprego e não estabilidade como valor exclusivo, o estável beneficia apenas quem já tem riqueza e renda mas não cria riqueza nova e nem elimina a pobreza.

Acima um artigo deste mês autorado por Martin Wolf (clique em 'GGN', acima, para ver o link), o jornalista de economia de maior reputação mundial, que escreve semanalmente no FINANCIAL TIMES, uma visão crítica ao pensamento econômico falsamente científico do “mainstream economics”, aquele que no Brasil se vende como “moderno”.
A FALSA CIÊNCIA
Economia deve ser estudada como parte da política porque não existe economia pura, ela é derivada da política. Foram as universidades americanas que entraram pelo caminho da matematização da economia, com o foco na especulação com ações e derivativos. Modelos foram criados para determinar preços ideais, especialmente no cálculo de derivativos; passou-se a tentar adivinhar curvas a partir do presente, ignorando os fatores políticos, que são mais neutros nos EUA mas são muito mais impactantes em outros países. Das universidades americanas estudantes provincianos com base intelectual pobre  como muitos brasileiros do interior, absorveram essas “fórmulas determinantes” e de volta a seus países passaram a aplicá-las em contextos sociais, políticos e econômicos completamente diferentes daqueles que serviram de laboratório de universidades americanas. Apresentaram essas fórmulas como a última palavra da ciência econômica, absorvida sem filtro e sem adaptações, e toda a política monetária passa a ser executada com base nessas equações; as reuniões do COPOM são a síntese dessa falsa ciência, onde se trava para sempre o crescimento da economia: por cautela é melhor a paralisia do que o crescimento.
A ECONOMIA COMO POLÍTICA E ARTE
Uma visão da ciência econômica como parte da política foi o que Keynes fez  na célebre carta a Roosevelt em 31 de maio de 1933. Uma política econômica não pode ser fixa, servindo para qualquer situação, ela deve ser ajustada às circunstâncias sociais e políticas de cada ciclo. Se o problema crucial do Pais é o desemprego a política monetária deve ser endereçada a resolver esse problema e não outro.
Keynes recomendou a Roosevelt empregar gente em obras públicas, nem que fosse “para remover pedras de um lado da estrada para o outro lado”, apenas para gerar renda. Foi essa visão a semente do NEW DEAL, um programa econômico para tirar os EUA da recessão, era uma visão revolucionária, CONTRÁRIA ao pensamento econômico “mainstream” representado pela Chairman do Federal Reserve, Eugene Mayer, que achava que deveria ser deixado ao mercado resolver a crise, uma loucura, mas é exatamente isso o que hoje pretendem os economistas neoliberais brasileiros, esses de “fórmulas fixas”, com a velha cantilena, metas de inflação, reformas e privatizações, instrumentos  QUE JAMAIS TIRARÃO O BRASIL DA ESTAGNAÇÃO, metas de inflação engessam o investimento público e o crédito, reformas redistribuem a renda já produzida mas não criam renda nova, privatizações não significam criação de renda e emprego, ao contrário, esterilizam investimento em algo que já existe.
O economista André Lara Resende, um dos criadores do Real, depois de décadas com o pensamento “mainstream” por reflexão chegou à “economia das circunstâncias” propondo uma linha parecida com a de Keynes, ocupar a capacidade ociosa com expansão monetária, o que segundo ele nem sequer geraria inflação. Tudo isso parece lógico e racional, mas há uma “seita”, uma “igreja”, forjada nas universidades americanas; nas inglesas e francesas a música é outra, uma “seita” de lições decoradas por mentes medíocres e intelectualmente pobres  incapazes de ajustar a “lição de casa” ao mundo real.
Albert Hirschman, outro economista brilhante na linha de Keynes, alemão de cultura francesa,  professor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, lembra em suas memórias (em português AUTO-SUBVERSÃO) que “eles usam sempre a mesma receita para doenças diferentes, não mudam nem a dosagem”, referindo-se à pobreza das fórmulas desses economistas de cartilhas, Hirschman morreu com quase cem anos, tive o prazer de conhecê-lo.
A economia pode se recorrer do método científico mas esse precisa ser sempre temperado pela inserção da política e da análise social em suas conclusões. Economia não é só matemática, como pretendem as universidades americanas voltadas para um mercado de referências estáveis viciado em especulação.
A POLÍTICA MONETÁRIA DA CASA DAS GARÇAS
A partir do Plano Real os economistas dessa geração neoliberal criaram seu “bunker” na Casa das Garças, que deveria ser um centro de debates, um “think tank” com choque de opiniões, mas nunca foi isso, é um centro de reafirmação de ideias imutáveis, escritas em chumbo. A partir do Plano Real o BANCO CENTRAL esteve sob controle operacional e ideológico de economistas neoliberais de mercado, todos vêm do “mercado” e para lá voltam, mesmo nos governos do PT; essa política monetária asfixiante com obsessão na meta de inflação é a responsável central pela paralisia atual da economia brasileira, e nem 20 reformas e 100 privatizações vão alterar esse quadro; é preciso tirar a Casa das Garças do comando do Banco Central.
O artigo de Martin Wolf faz um balanço do desastre do pensamento econômico ortodoxo responsável por tanta miséria e sofrimento (vide acima).

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