terça-feira, 16 de maio de 2017

O DESIGN INTELIGENTE E A CIÊNCIA


Design Inteligente é propaganda, não ciência

Por Carlos Orsi

Bom, a esta altura acho que todo mundo já viu ou ouviu falar da notícia, publicada na Folha de S. Paulo, de que a Universidade Presbiteriana Mackenzie formou uma parceria com Discovery Institute dos Estados Unidos, famoso (ou infame) por desenvolver propaganda religiosa disfarçada de ciência, a fim de trabalhar na promoção da "teoria" do Design Inteligente. A parceria tem um site, que pode ser acessado aqui. O texto de abertura -- "(...) promove estudos científicos focados em complexidade e informação na busca de evidências que apontem para a ação de processos naturais ou design inteligente na natureza (...)" -- sugere que a coisa toda trata de ciência, mas isso é mera cortina de fumaça: trata-se, estritamente, de uma questão de política e relações públicas.

Porque o Discovery Institute é uma instituição de relações públicas. Se não acredita em mim, leia esta declaração de missão no site dos caras. Cito: "A missão do Centro para Ciência e Cultura do Discovery Institute é promover o entendimento de que seres humanos e a natureza são resultado de um projeto inteligente, e não de um processo cego e sem direção". Ou seja, eles têm uma mensagem pré-estabelecida e estão aí para vendê-la.

Agora, compare-se isso com a declaração da parceria Discovery-Mackenzie: "busca de evidências que apontem para a ação de processos naturais ou design inteligente na natureza". Ora bolas: ou bem você quer "promover o entendimento" de que alguma coisa é verdade, ou bem você quer "buscar evidências" de que alguma coisa é verdade. "Buscar evidências" para "promover o entendimento" não é prática científica, mas publicitária: se você quer convencer as pessoas de que o produto do seu cliente é o melhor, você não faz um levantamento científico, você corre atrás de depoimentos positivos -- ou paga atores para dá-los.

Não vou cansar o leitor deste blog com uma repetição, pela enésima vez, dos argumentos sobre evolução, criação e Design Inteligente -- já escrevi sobre o assunto, por exemplo, aquiaquiaqui e, mais recentemente, aqui. Esta última postagem cita a "estratégia da cunha", cuja concepção está umbilicalmente ligada à própria gênese do Discovery Institute.

A história da "cunha" está descrita no livro Creationism's Trojan Horse, que demonstra que a chamada "pesquisa" sobre Design Inteligente tem tanta validade quanto as "pesquisas" que aparecem em propagandas de pasta de dente ou as "enquetes" dos programas de propaganda política: não são esforços sinceros de busca da verdade, mas roteiros publicitários que chegam a conclusões predeterminadas. O documento  em que a estratégia da cunha é desenvolvida pode ser lido online.

Hoje em dia, a declaração geral de propósito do Institute é, até certo ponto, circunspecta -- diz que a instituição "abriga uma comunidade interdisciplinar de estudiosos e promotores de políticas públicas dedicados a revigorar princípios e instituições tradicionais do Ocidente e da visão de mundo de onde surgiram". Mas versões anteriores do site, citadas em Trojan Horse, eram mais explícitas. Por exemplo: "a ideia de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus é uma das bases em que a Civilização Ocidental foi construída..."

A meta declarada dos fundadores do Discovery Institute é substituir o que eles acreditam ser a visão de mundo hegemônica hoje no Ocidente -- ateia, materialista, marxista, freudiana, darwinista, caótica -- por uma visão cristã, encantada, divina, plena de propósito. O Design Inteligente é apenas uma ferramenta de propaganda para isso. Esta constatação não só foi aceita pelo consenso da comunidade científica, como também por todas as instâncias do Judiciário norte-americano, que identificaram o Design Inteligente como propaganda religiosa e, por isso, proibiram seu ensino em escolas públicas. 

Derrotada em seu berço, a "cunha" tenta migrar para o Brasil. É uma pena que tenha sido abraçada por uma instituição como o Mackenzie. A Fase I da estratégia da cunha preconiza a obtenção de credibilidade acadêmica; ao que tudo indica, tendo fracassado, em mais de três décadas de esforço concentrado, em conquistá-la por meio de pesquisa de qualidade, os criacionistas decidiram tentar simulá-la por fricção, associando-se a um nome respeitável. Os perigos são dois: um, a estratégia realmente enganar incautos; outro,  o contágio ocorrer na direção oposta.  -  (Fonte: Blog de Carlos Orsi - AQUI).

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O certo é que muitos se sentem incomodados com a tal tese do Design Inteligente/Criacionismo. Orsi inclusive. Orsi, aliás, já produziu outros posts em que aborda a questão, reproduzidos por este blog.

Voltando ao Design Inteligente, conviria a leitura do post a seguir (que não foi produzido por Orsi), publicado neste blog em outubro de 2013:

Dawkins e o Ateísmo



Richard Dawkins, o ateísmo militante

Richard Dawkins dispensa apresentações. O mais influente biólogo da atualidade, autor de 'O Gene Egoísta', 'O Relojoeiro Cego' e 'Deus, Um Delírio', é famoso por sua postura antirreligiosa e sua filiação à corrente evolucionista de Charles Darwin. Nessa palestra, o cientista levanta alguns pontos importantes sobre a relação entre a religião (em especial o cristianismo, mas não exclusivamente) e a ciência.

Dawkins critica, principalmente, o estilo explicativo da religião, citando o saudoso Douglas Adams. Segundo o biólogo, o principal argumento da Igreja para a existência de um deus superior é o design inteligente, ou seja, a complexidade dos seres vivos e sua harmonia são tão exuberantes que só poderiam ter sido criadas por um ser ainda mais complexo. A crítica que se faz a esse argumento é que esse ser superior também precisaria ter sido criado por um outro ser (de outro lado, teria surgido do nada. Como explicar, então, sua própria complexidade?).

A justificativa que os cientistas dão a esse design inteligente é o evolucionismo. A complexidade não surgiu do nada, mas de uma série de adaptações a circunstâncias externas ao longo dos anos. Obviamente, a teoria da evolução é perigosíssima para a religião, uma vez que desconstrói sua base estruturante. Justamente por isso, o cristianismo se ocupou - durante todas essas décadas - a tentar desmoralizar Charles Darwin e sua explicação científica.

Dawkins, então, traz algumas crenças que devem, sim, ser consideradas. Aliadas a estas, acrescentarei algumas que julgo pertinentes. Vamos a elas:

(Para continuar a leitura do post de Danilo Paz, clique AQUI).

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