sábado, 13 de fevereiro de 2016

VIDA E OBRA DE DALTON TRUMBO, ROTEIRISTA DE CINEMA


Dalton Trumbo, a vida e a obra

Shellah Avellar, do blog Sensorion

Aos que me leem que tentem descobrir o que acontece aqui e, quando o souberem, ousem perguntar a qualquer homem: Onde está a Justiça?
E, se necessário, exigi-la, porque ela, a Justiça, jamais foi solidária com aqueles que, para manter o status, assumem a dupla máscara do bufão e do lacaio, da delação e da traição.
Não há intenção, aqui, de eleger alguma doutrina, seita, filosofia, ou ismos de quaisquer espécies como os detentores da mais absoluta verdade, porquanto todos cometem os erros dos seus líderes humanos.
Ou de seus animais racionais?
Vamos nos ater aos fatos, visto que este filme é baseado numa história real.
O Macartismo (McCarthyism), foi cunhado para criticar as ações do senador norte-americano Joseph McCarthy, cuja intensa patrulha anticomunista gerou perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos EUA do final dos anos 1940 até meados dos anos 50.
A suspeita de infiltração comunista no exército e na sociedade americana resultou numa caça obsessiva a pessoas comunistas e/ou simpatizantes da esquerda.
James Dalton Trumbo (1905/1975), roteirista e romancista, membro do Hollywood Ten, um grupo de profissionais da indústria cinematográfica que se recusou a testemunhar e denunciar os companheiros da mesma, perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito montada em 1947 pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos para averiguar a suposta infiltração na indústria de cinema.
Em face disso, é preso. O episódio dá origem ao filme TRUMBO: LISTA NEGRA, na qual estes profissionais estariam inclusos e, em sendo assim, teriam sido impedidos de trabalhar.
Hedda Hopper (1890/1976), colunista influente de jornal de fofocas, defende um discurso esquizofrênico e monocórdio para seus pares, em nome dos Direitos Americanos de um nacionalismo exacerbado contra um inimigo comum. Propositalmente, Jay Roach, diretor, (responsável pela bem-sucedida série Austin Powers) passeia a câmera pela plateia “uniforme e branca”.
Muito bem caracterizada por Helen Mirren, Hopper é o retrato da elite (americana?), que ora pincela em tintas cordiais ora as carrega de ameaças, para tornar seu discurso digno de fé.
Entretanto os pontos altos do filme são dados pela cumplicidade e apoio familiar, que, apesar dos conflitos gerados pela necessidade de sobrevivência, ainda dá o tom da coerência entre discurso e ação do personagem.
Após 11 meses de prisão, Trumbo retorna e continua escrevendo roteiros, com remuneração aquém de sua performance, e ainda assim é premiado e reconhecido: seus ferrenhos opositores finalmente são obrigados a se render à sua excelência. 
No discurso final, o olhar de Trumbo (ator Bryan Lee Cranston) varre um mar de rostos, um por um, com atenção, cuidado, respeito, remorso, e a compaixão pela situação imposta, que os fizeram machucar-se uns aos outros. Um pensador infalível, vigiando seus iguais com um entusiasmo exausto e uma dignidade solitária.
Para quem tem olhos de ver e compartilhar do nó na garganta, com o choro contido e amargurado da mulher Cleo Beth Fincher (Diane Lane) quando Trumbo finalmente reassume seu lugar no cenário cinematográfico.
E vibrar, quando a sua resoluta filha Nikola Trumbo (Elle Fanning) se alia ao Movimento pelos Direitos Civis, e o provoca para reassumir sua autoria e receber seus prêmios. (OSCAR por The Brave One - 1956 - e Roman Holiday - 1953 -, entre outros).
Sugiro que assistam até o fim, quando da descida dos créditos, e possam assistir ao depoimento emocionado do roteirista ao homenagear a filha, a quem dedica o Oscar recebido.
O rumor que sobe de todos os cantos do Planeta, esta angústia que por séculos reúne rancores e ódios dispersos, pode entoar o canto de uma terrível colheita.
(...)
(Cena marcante:) Quando a filha Nikola, ainda menina, pergunta a Dalton se ela é comunista, ele a questiona: “Se você levar para a escola um sanduíche que você gosta muito e um amigo estiver sem lanche. Você compartilha sem pestanejar e sem se arrepender?" Ela responde que sim.

(Para continuar, clique  aqui).

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Em 1947, Dalton Trumbo era um dos principais roteiristas de Hollywood quando, juntamente com outros artistas, foi preso e incluído na lista negra do governo por suas crenças políticas. O filme narra como Dalton usou palavras e perspicácia para vencer dois prêmios Oscar e expor os absurdos e injustiças dessa lista negra que enredava a todos, da colunista social Hedda Hopper a nomes fortes do cinema como John Wayne, Kirk Douglas e Otto Preminger.
Trumbo: Lista Negra‘ concorreu em duas categorias do Globo de Ouro (Bryan Cranston, Melhor Ator em Filme Dramático, e Helen Mirren, Melhor Atriz Coadjuvante), e a três prêmios Screen Actors Guild (Melhor Elenco, Ator Principal e Atriz Coadjuvante) - Aqui.
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A filha de Trumbo insta o roteirista a sair do anonimato e assumir publicamente a autoria de seus trabalhos e receber os prêmios com que fora contemplado. É que era prática comum, nos amargos e paranoicos tempos do Macartismo, roteiristas e outros profissionais se 'esconderem' no anonimato, ou pseudônimos. Woody Allen explorou essa realidade em um de seus filmes.
Sem dúvida, um filme para ser visto.

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