sexta-feira, 27 de junho de 2014

PIB DOS EUA TEM A MAIOR QUEDA TRIMESTRAL DESDE A CRISE DE 2008


Por Marco Antonio Moreno

O Departamento de Comércio indicou quarta-feira que o produto interno bruto caiu a uma taxa anual de -2,9 por cento, em lugar de -1,0 por cento como tinha sido informado em maio, e de 0,1 por cento estimado em abril.

Conquanto se tenha apontado que os problemas da economia derivam de um inverno excepcionalmente frio e de uma seca de longa data que assola Estados como Texas ou Califórnia, onde se recupera a água dos duches e sanitários para voltar a usar, a magnitude da queda sugere muitos outros fatores para além dos relacionados com o clima.

Os Estados Unidos enfrentam o que temos chamado de uma estagnação de longo prazo, pela debilidade do seu setor industrial, pelas enormes bolsas de desemprego e pela existência majoritária do chamado "trabalho precário", fantasmas que também existem na Europa com os débeis sinais de crescimento e a nula recuperação do emprego. Ainda que os governos digam o contrário e lancem números otimistas, o emprego nunca mais voltará aos níveis existentes de antes da crise de 2008.

Para os Estados Unidos, o crescimento baixou 3 pontos percentuais desde a primeira estimativa que o governo fez em abril, quando sustentou que a economia teria uma expansão de 0,1 por cento. A diferença entre a segunda e a terceira estimativa foi a maior nos registros que remontam a 1976. Os dados do PIB conhecidos nesta quarta-feira baseiam-se nos registros mais completos disponíveis e diferenciam-se dos anteriores fundamentalmente nos dados do consumo. Como assinalamos anteriormente, o investimento privado teve uma queda de 11,7 por cento e o PIB tinha sido impulsionado pelos dados do consumo privado. Tinha-se estimado anteriormente que o consumo teria uma subida de 3,1 por cento, mas estabeleceu-se agora em 1 por cento. Se entendemos que o consumo representa 70 por cento do PIB dos Estados Unidos, podemos compreender por que a queda do PIB foi tão demolidora.

Os efeitos das alterações climáticas

Estima-se que o mau tempo pôde provocar a redução do crescimento até -1,5 por cento no primeiro trimestre. Os efeitos das alterações climáticas, que os Estados Unidos sempre negaram, começam a passar a fatura. A procura de transporte, maquinaria, computadores e produtos eletrônicos sofreu uma queda de 17 por cento. Os pedidos destes produtos, que vão desde torradeiras de pão a aeronaves, e que estão destinados a durar três anos ou mais, caíram pela primeira vez em três meses. Por sua vez, as exportações reduziram-se numa taxa de 8,9 por cento, em lugar de um ritmo de 6,0 por cento, o que resulta num déficit comercial que cortou 1,53 pontos percentuais ao crescimento do PIB. O débil crescimento das exportações está relacionado com as gélidas temperaturas durante o inverno.

Estes dados deitam por terra a recuperação dos Estados Unidos e da economia global. A economia encontra-se repleta de bolhas especulativas e os leitores não devem surpreender-se que até o Banco Central Europeu e Wolfgang Schauble comecem a falar de novas bolhas imobiliárias à beira de estourar, como já o fez o Fundo Monetário Internacional seguindo o que temos apontado em numerosos artigos.

A economia global encontra-se nas proximidades de um círculo vicioso e será sacudida por um novo tsunami financeiro que desta vez não poderá contar com os apoios dos governos e das instituições que deveriam vigiar a estabilidade do sistema. Todas as instituições monetário-financeiras como o FMI, o Banco Mundial ou os bancos centrais não têm feito mais que cuidar dos interesses da banca, saqueando as poupanças e a riqueza dos contribuintes, expropriando o direito ao trabalho, esgotando os recursos do planeta e transferindo riqueza dos mais pobres para os mais ricos. A economia aproxima-se de uma nova recaída e os dados desta quarta-feira podem ser o começo do declínio. (Fonte: aqui).

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Sem dúvida, a queda de 2,9% na taxa anualizada no PIB norte-americano foi brutal. Mas, dada a baixíssima repercussão na mídia dos EUA, parece ter havido 'compreensão' em face do desastre; os sites de cartuns, por exemplo, não mostram desenhos irônicos e galhofeiros de artistas gráficos da terra de Tio Sam malhando o 'pibinho', tampouco artigos catastrofistas assinados por analistas econômicos, ao contrário do que se vê no Brasil, onde até mesmo a elevação de 2,5% do PIB observada em 2013 - elevação percentual que coloca o país entre os cinco melhores desempenhos mundiais no período - foi malhada ou solenemente ignorada.

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