quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

EUA E BRASIL: IMPRESSÕES DE QUEM NOS VISITOU HÁ POUCO


O Brasil tem a resposta?

Por Joe Nocera, in The New York Times

Não muito tempo depois que eu voltei da minha recente viagem ao Brasil, liguei para alguns economistas para obter uma melhor compreensão de onde o país ficou economicamente. Para mim, no Rio de Janeiro você se sente um pouco como em Xangai: não havia muitas opções de compras high-end em bairros como Ipanema - e havia muita pobreza nas favelas. Mas também houve um monte de coisas nesse meio. O que é mais impressionante a um visitante é quantos cidadãos de classe média parece haver. Carros estavam em toda parte. Os engarrafamentos, eu passei a acreditar, são um sinal aqui de uma crescente classe média. Eles significam que as pessoas têm dinheiro suficiente para comprar automóveis.

O que eu vi no Rio de Janeiro não era uma ilusão. Apesar de seu ponto de partida bastante extremo, o Brasil é um país que viu a desigualdade de renda cair ao longo da última década. O desemprego está perto de níveis mínimos recordes. E o crescimento da classe média é bastante impressionante. Na maioria das estimativas, mais de 40 milhões de pessoas foram puxadas para fora da pobreza na última década.

A extrema pobreza, diz o governo, foi reduzida em 89 por cento. A renda per capita continuou a crescer, mesmo que o crescimento do PIB tenha se abrandado.

No entanto, os economistas com quem falei foram uniformemente negativos sobre o futuro de curto prazo da economia brasileira. Eles apontaram, para começar, para a desaceleração do PIB, que eles esperam para breve. Apesar dos enormes ganhos econômicos do país desde o início deste século, lembram que têm havido muito poucos ganhos de produtividade a acompanhá-los.

De fato, vários economistas me disseram que o desemprego baixo é uma das principais razões para a economia estar tão terrivelmente ineficiente. Muito da economia está nas mãos do Estado, disseram-me, e, além do mais, era uma economia baseada no consumo com falta de investimento necessário. E assim por diante.

Eu tenho a sensação de que muitos economistas acreditam que o Brasil tenha tido mais sorte do que boa gestão, mas que agora a sua sorte está se esgotando. Em um artigo recente sobre a economia brasileira, The Economist colocou cruamente: "O Declínio", lia-se em sua manchete sobre o País.

Ao ouvir os economistas, no entanto, eu não pude deixar de pensar sobre a nossa própria economia.

Nosso índice G.D.P. de crescimento (PIB) foi de mais de 4 por cento no terceiro trimestre de 2013, e, é claro, a nossa produtividade tem aumentado implacavelmente. Mas, apesar do crescimento, o desemprego não parece conseguir cair abaixo de 7 por cento. E a classe média vai sendo estrangulada lentamente, graças, pelo menos em parte, aos ganhos de produtividade. A desigualdade de renda tornou-se um fato da vida nos Estados Unidos, e enquanto os políticos criticam esse fato, eles mesmos também parecem incapazes de fazer qualquer coisa sobre isso. O que me fez pensar: qual economia corre realmente melhor?

Há alguns anos, Nicholas Lemann, do The New Yorker, escreveu um longo artigo sobre o Brasil, em que citou um e-mail que recebeu da presidente do Brasil, Dilma Rousseff. "O objetivo principal do desenvolvimento econômico deve ser sempre a melhoria das condições de vida", ela disse a ele. "Você não pode separar os dois conceitos."

Em outras palavras, o governo de esquerda do Brasil, que reconhecidamente não gasta muito tempo se preocupando com o crescimento por si só, mas o conecta com o alívio da pobreza e o crescimento da classe média. Assim, ele tem um salário mínimo elevado, por exemplo. Tem leis tornando extremamente difícil dispensar um empregado retardatário. Ele controla o preço da gasolina ajudando a tornar a condução acessível.

Por outro lado, aqui nos Estados Unidos, o Congresso se recusou a estender o seguro desemprego. A lei agrícola prevê um corte em cupons de alimentos. Vários outros programas para ajudar os pobres ou os desempregados foram reduzidos. Mesmo aqueles que se opõem a esses cortes sem coração supõe que uma vez que a economia volte, tudo ficará bem novamente. O crescimento vai cuidar de tudo. Assim, nos Estados Unidos, tende-se a se ver o crescimento econômico menos como um meio para um fim mas como um fim em si.

É, naturalmente, possível que a economia do Brasil possa bater na parede e alguns dos ganhos obtidos possam ser revertidos. Uma nova ênfase no investimento e empreendedorismo, provavelmente, poderia ajudá-la.

Os protestos espontâneos no verão passado foram os resultados da nova classe média que quer o tipo de coisas que a classe média sempre quer: melhores serviços, escolas de melhor qualidade, menos corrupção.

Ainda assim, o exemplo Brasil dá origem a uma pergunta que nós não fazemos o suficiente neste país:

Qual é o ponto de crescimento econômico, se ninguém tem um emprego? (Fonte: aqui).

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Indiferentes, economistas como Armínio Fraga insistem em considerar absurdamente desmedidos os critérios de ajuste do salário mínimo (inflação + variação do PIB) e em pregar que "algum desemprego" seria salutar para o Brasil, visto que reduziria as pressões de demanda...

Combate à miséria e à pobreza + geração/preservação de empregos formais + investimentos públicos = o Brasil tem, sim, a resposta.

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