Nate Beeler.
Estados Unidos podem parar o mundo
Por Juliana Damasceno
O impasse continua. Enquanto republicanos e democratas não chegam a um acordo derradeiro, os Estados Unidos e sua instabilidade política amedrontam os mercados mundo afora, gerando as incertezas típicas de uma espécie de “guerra” particular.
Enquanto aguarda-se o fim do caso, mais retaliações estão previstas: após cancelar uma viagem importante para a Ásia, Barack Obama já se pronunciou avisando que deverá vetar a última série de projetos de lei dos republicanos sobre gastos concebidos para reativar alguns serviços públicos em meio à paralisação, que nesta sexta-feira (4), já chega a seu quarto dia.
É de 1996 o último impasse sem acordos entre o governo federal e o congresso nacional americanos. Foram três semanas de retrocesso e muita discussão. Porém, nos dias atuais, sequer uma solução foi discutida pelo presidente e seus líderes no congresso e senado, mesmo com uma reunião realizada logo no início da semana. Para Obama, “uma legislação a conta-gotas para o orçamento do ano fiscal de 2014 não é uma maneira séria ou responsável de conduzir o governo dos Estados Unidos”.
Especialistas disseram ao Jornal GGN, na semana passada, que o acordo deveria acontecer no último horário possível antes da paralisação geral – o que não ocorreu. Na segunda (30), até mesmo a lendária Estátua da Liberdade estava fechada para visitação e a Nasa comunicou-se virtualmente para pedir desculpas pela não atualização de informações. Isso sem contar os milhões de americanos que não estão contando com a maior parte dos serviços públicos há quase uma semana.
Segundo o economista Pedro Galdi, da SLW Consultoria, enquanto os partidos não se moverem pelo bem comum, que é a população, a situação social e financeira dos Estados Unidos poderá se alastrar. “Os mercados já estão apreensivos pelo dia 17 de outubro, quando deverá haver uma definição. Caso isso não aconteça, o país poderá atravessar uma nova crise de enormes proporções, poderemos ter corrida a bancos, mudança nos planos do Federal Reserve – cujos discursos novos em Cleveland, St. Louis, San Francisco e Filadelfia já estão agendados para esta semana. E o que é pior, podemos esperar também um anúncio sobre a redução do crescimento no mundo, mesmo com algumas melhoras locais, o que naturalmente pode estar ligado à situação norte-americana atual”, explica.
Galdi foi taxativo em seus questionamentos sobre este impasse. “Até quando os republicanos farão esse trabalho sujo com Obama e com o mundo? Os dados do mercado de trabalho local não sairão hoje, por exemplo, por conta da paralisação, pois o departamento não está trabalhando. E segundo dados não oficiais, não são bons números. Esperarão os adversários políticos do presidente a situação se agravar ainda mais?”, questionou o economista.
Para os especialistas, a semana promete ser volátil. E o mercado em geral só se definirá quando os Estados Unidos finalmente chegarem a um acordo. Enquanto isso, afirma o executivo da SLW, podemos esperar o Fed recuando novamente na revisão de seu programa de estímulos, com o dólar oscilando.
Estímulo que, inclusive, poderá também ficar prejudicado, segundo Celso Grisi, presidente da Fractal e professor da Universidade de São Paulo. “Todas as áreas serão atingidas. Cortes terão de ser efetuados e o programa de saúde também sofrerá. O confronto é grande, proporcional à falta de bom senso da parte dos republicanos”, conta. Para ele, o mais grave ainda está por vir, caso a paralisação se estenda: o tecido social americano será esgarçado. “Nos guetos, regiões metropolitanas mais desfavorecidas, na classe média que já vem reduzindo seu padrão de vida desde 2008 e agora também deve se manifestar junto com a pobreza mais forte. Podemos esperar manifestações, protestos e movimentos populares assim que os cortes se acentuarem e as pessoas se sentirem mais desprotegidas. É uma brincadeira que pode custar caro e que agrava ainda mais o problema. E tudo por conta de uma bancada republicada egoísta, radical e envelhecida”.
Perigosa. É assim que professor e economista classifica a situação financeira do país. “O setor privado também será afetado. Inflação será estimulada pela redução de serviços oferecidos e demanda. Teremos um imobilismo nos Estados Unidos, bem como nos países onde cumprem um papel maior, como a China, de onde importa muito- o que é péssimo para o mundo todo. Na Europa, começa a desvalorização do dólar, o que torna o euro mais poderoso, mas com um produto europeu fora de mercado em matéria de preços. Podemos enfrentar também barreiras protecionistas. Para o Brasil, o fluxo de capitais pode ajudar a combater a inflação, entretanto, nossa competitividade será ainda mais reduzida com a valorização da moeda local, antecipando um efeito recessivo. Ganhamos na moeda, perdemos mercado no comércio exterior. Demanda mundial cai, nossas exportações ficam prejudicadas. Os leilões de swap prometidos pelo Banco Central até o fim deste ano podem ser repensados”, concluiu.
De acordo com relatório do Itaú Unibanco, divulgado à imprensa nesta sexta-feira (4), a tendência é de que o Fed retome a redução dos estímulos já em dezembro, caso a paralisação não se amplie por muitas semanas. Caso isso realmente aconteça, a instituição tem a expectativa de que sejam postergados até meados de 2014, o que pode causar mais estresse no mercado, uma vez que seria obrigado a romper com a política de forma abrupta. Para o Brasil, o alívio atual será apenas temporário.
O banco também afirma em seu relatório que acredita que a paralisação do governo americano representa riscos consideráveis, mas que devem ser resolvidos nos próximos dias, voltando o foco para a política monetária e a recuperação econômica local.
“O fechamento parcial do governo e a iminência do estouro do teto da dívida nos EUA serão o foco do mercado no curto prazo. O Congresso não chegou a um acordo em relação a um orçamento provisório e, como consequência, serviços não essenciais do governo foram paralisados. Estimamos o impacto econômico direto como sendo limitado - o efeito no crescimento anualizado no quarto trimestre deve ser cerca de 0,2% caso a paralisação dure uma semana, 0,4% caso sejam duas. Mas a dificuldade em formar um acordo aumenta a preocupação em relação às negociações para aumentar o limite do teto da dívida, que deve ser alcançado no dia 17 de outubro. As consequências são muito piores nesse caso. Caso o teto seja alcançado, o governo americano ficaria impossibilitado de repagar sua dívida, o que seria bastante negativo para a economia”, finaliza o banco (...). (Fonte: aqui).
domingo, 6 de outubro de 2013
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