domingo, 5 de maio de 2013

O VENENO DA AUSTERIDADE

"A austeridade mata a dignidade."

Austeridade faz mal à saúde, revela pesquisa

Por Kate Kelland (da Reuters)

As políticas de austeridade estão tendo um efeito devastador sobre a saúde na Europa e América do Norte, provocando suicídios, depressão e doenças infecciosas, e reduzindo o acesso a atendimento médico e remédios, disseram pesquisadores (...).

Detalhando uma década de pesquisas, o economista político David Stuckler, da Universidade Oxford, e Sanjay Basu, professor-assistente de medicina e epidemiologista na Universidade Stanford, disseram que suas conclusões mostram que a austeridade é altamente nociva para a saúde.

Em um livro a ser lançado nesta semana, os pesquisadores dizem que mais de 10 mil suicídios e até 1 milhão de casos de depressão foram diagnosticados durante o período que eles chamaram de "Grande Recessão", que foi acompanhado de medidas de austeridade na Europa e América do Norte.

Na Grécia, medidas como cortes orçamentários nos programas de prevenção à Aids coincidiram com um aumento de mais de 200 por cento nas infecções pelo vírus HIV desde 2011 -- o que tem como explicação também a disparada no uso de drogas, num contexto em que o desemprego juvenil chega a 50 por cento.

A Grécia também registrou seus primeiros casos de malária em várias décadas depois de cortes nos programas de controle do mosquito transmissor.

Nos EUA, mais de 5 milhões de pessoas perderam o acesso a tratamento médico durante a recessão, disseram os pesquisadores, e na Grã-Bretanha cerca de 10 mil famílias se tornaram sem-teto por causa das medidas governamentais restritivas.

"Nossos políticos precisam levar em conta as sérias, e em alguns casos profundas, consequências das escolhas econômicas", disse David Stuckler, pesquisador-sênior da Universidade de Oxford e coautor do livro "The Body Economic: Why Austerity Kills" ("A economia do corpo: por que a austeridade mata", em tradução livre).

"Os males que encontramos incluem surtos de HIV e malária, escassez de medicamentos essenciais, perda do atendimento à saúde e uma evitável epidemia de abuso do álcool, depressão e suicídio", disse ele em nota. "A austeridade está tendo um efeito devastador."

Mas Stuckler e Basu disseram que os efeitos negativos sobre a saúde pública não são inevitáveis, mesmo durante as piores crises financeiras.

Na Suécia, por exemplo, programas ativos de inclusão no mercado de trabalho contribuíram para uma redução no número de suicídios, mesmo durante uma recessão. Países vizinhos onde isso não acontece registraram um grande aumento nos suicídios.

E, nos EUA, durante a Grande Depressão de década de 1930, a cada cem dólares adicionais distribuídos pelo programa New Deal havia cerca de 20 mortes a menos a cada mil nascidos vivos, 4 suicídios a menos a cada 100 mil pessoas, e 18 mortes por pneumonia a menos a cada 100 mil pessoas.

"No final, o que vimos é que a piora da saúde não é uma consequência inevitável das recessões econômicas. É uma escolha política", disse Basu na nota. (Fonte: aqui).

................
Analistas sóbrios, diante do acima relatado, ficam a imaginar sobre como estaria o Brasil caso não tivesse seguido a receita heterodoxa pela qual optou, que se resume em: criação de novos mercados internos a partir da elevação real do valor do salário mínimo e da ampliação dos programas sociais, expansão do crédito via bancos estatais, desonerações fiscais e celebração de novas parcerias comerciais (África e Ásia). Foi, de fato, escolha inteiramente colidente com a política eleita pelos países da zona do euro, e mais: o contrário do que o próprio Brasil fez ao encarar(?) as crises globais das décadas de 1980 e 1990.

Nenhum comentário: