terça-feira, 16 de outubro de 2012

O INSTITUTO DA METRÓPOLE


Os pobres e o Instituto Millennium
 
Por Paulo Nogueira

Não conhecia o Instituto Millennium.

Depois de conhecer, concluí imediatamente que poderia ter continuado a não conhecer.

É o triunfo do arquiconservadorismo nacional. Naveguei pelo site, e vi basicamente uma duplicação desinspirada do que você já vê na grande mídia brasileira: as mesmas pessoas, os mesmos articulistas, as mesmas ideias, o mesmo nhenhenhém.

E a mesma desconexão com o mundo moderno.

Vejamos o que o Millennium tem a dizer sobre o tema mais importante da agenda dos líderes globais: a questão da desigualdade social.

Nada. Simplesmente nada. É como se isso não existisse no Brasil. A história está abarrotada de situações em que a extrema desigualdade levou ao caos social, ou a revoluções. Mas para o Millennium isto não é um problema brasileiro.

Vejamos.

A desigualdade é o tema de uma reportagem especial desta semana da excelente revista The Economist, conservadora como o Millennium – mas com a diferença de que é competente, lúcida e persuasiva na defesa de seu ideário.

A Economist afirma, com razão, que o movimento Ocupe Wall St trouxe a desigualdade para a mesa dos debates mundiais. Nos Estados Unidos, ela está no centro da campanha de Obama para derrotar Romney e ganhar uma nova temporada na Casa Branca.

Nos últimos 30 anos, escreve a Economist, uma “dramática” concentração de renda nos Estados Unidos remeteu a uma situação “parecida ou pior” do que a que marcou a infame “Gilded Age” do começo do século 20. Foi a era dos “barões ladrões”, como passaram para a história magnatas americanos como os Vanderbilts, e da miséria para a maior parte da sociedade.

Foi um tempo de extravagâncias chocantes. George Vanderbilt II, por exemplo, ergueu ao longo de seis anos na Carolina do Norte a Biltmore, uma mansão de 250 quartos na qual trabalharam 1000 pedreiros. Passados cem anos, a casa de Bill Gates em Seattle não faz feio diante de Biltmore.

A fatia da riqueza nacional das 16 000 famílias mais ricas dos Estados Unidos – 0,01% — quadruplicou nas três últimas décadas. “A ampliação da desigualdade começa a preocupar até os plutocratas”, afirma Economist.

Não os nossos, aparentemente. Ou não, pelo menos, os agrupados no Millennium. Eles parecem ignorar que, quanto menos desigual uma sociedade, menores as chances de radicalismos ou extremismos florescerem.

A despeito dos avanços recentes, o Brasil tem uma iniquidade pavorosa. No mundo da economia, há uma medição para isso, o chamado Coeficiente Gini. Os países escandinavos, como sempre, são os que aparecem no topo dos lugares em que a distribuição de renda é boa.

O Brasil é um dos últimos colocados. Tem disputado com a África do Sul a duvidosa honra de ser o primeiro da relação dos iníquos.

Segundo números do Banco Mundial, os 20% mais ricos do Brasil concentram 43,3% da riqueza nacional. Os 20% mais pobres têm 2,9%.

O Millennium se bate por esse status quo. Brotam de lá as habituais ladainhas em relação ao excesso de impostos do Brasil. Isso lembra a pregação cínica de Romney, um especialista em achar maneiras de evadir impostos – com o assim chamado planejamento fiscal, uma arte disseminada entre a plutocracia brasileira. (A Receita cobra na Justiça uma dívida de 2,6 bilhões de reais da Globo, presentíssima no Millennium pelo acionista João Roberto Marinho e mais os colunistas de sempre.)

O Millennium defende um mundo velho, feito de privilégios – e é por isso que não influencia e não comove os brasileiros. (Fonte: aqui).

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O criador do Millennium: Armínio Fraga. O articulista, portanto, não deveria 'estranhar'. Afinal, o 'nerd que salvou o Brasil', como recitava a mídia metropolitana nos anos fernandistas, foi, antes de prestar serviços ao Brasil(!) como ministro, assessor especial do megaespeculador George Soros - e continua no exercício de edificante ofício. Aliás, como cioso defensor dos interesses dos especuladores e rentistas (olha o pleonasmo!) de amplo espectro, em recentíssima entrevista manifestou seu mais veemente desagrado ante às reduções da taxa Selic por parte do Governo Federal. O que nos leva a fortalecer a convicção de que a política econômica dilmista segue o rumo certo.

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