sexta-feira, 18 de maio de 2012

AQUECIMENTO GLOBAL


Ignorância ou pilantragem?

José Inácio Werneck

O patriotismo é o derradeiro refúgio dos pilantras, disse certa vez o escritor inglês Samuel Johnson. Em matéria de discussão sobre aquecimento global, o derradeiro refúgio é a nuvem cirro, aquela fininha que vemos bem alta no céu.

Segundo a ínfima minoria de climatologistas que, por venalidade ou mera vontade de aparecer, insiste em dizer que não há perigo no crescente lançamento do CO2, o dióxido de carbono, na atmosfera, a nuvem cirro vai nos salvar porque se tornará ainda mais esgarçada e, graças a isto, permitirá que mais calor escape da Terra para o espaço.
 
É uma teoria que, de saída, encerra um erro fatal. Pressupõe as duas coisas que procura desmentir: 1) que o aquecimento global existe; 2) que o CO2 contribui para ele.
 
De fato, é impossível negar a paulatina elevação da temperatura média terrestre, pois ela vem sendo medida por observatórios espalhados por todo o planeta há mais de um século. É também impossível negar que o CO2 seja um gás do efeito estufa - isto é, um gás que retarda a perda de calor da Terra para o espaço. Isto é comprovado em testes empíricos em qualquer laboratório escolar.
 
Segundo a frustrada e patética ex-candidata a candidata republicana à Presidência dos Estados Unidos, Michele Bachman, o CO2 só pode ser benéfico, por contribuir para o crescimento das plantas e para impedir que a Terra perca calor em excesso. É uma afirmativa que nega o velho ditado em inglês “too much of a good thing is a bad thing”. Algo que também poderíamos dizer em português, afirmando o óbvio ululante: “a diferença entre o remédio e o veneno está na dose”.
 
Noventa e sete por cento dos cientistas que estudam o problema afirmam que o aquecimento global é um perigo para a humanidade. Três por cento afirmam que não devemos nos preocupar. A nuvem cirro nos salvará. Ou alguma outra coisa pode acontecer.
 
Se 97% de eletricistas disserem que sua casa mais cedo ou mais tarde pegará fogo porque tem um defeito de fiação e três por cento garantirem que você não precisa se preocupar, em quem você acreditará?
 
Há poucos anos hackers, cuja identidade ainda está sendo investigada mas que parecem ser protegido por interesses econômicos, conseguiram acessar e-mails de cientistas britânicos e fizeram um grande alarido, afirmando que eles haviam falsificado os dados sobre aquecimento global. Ao fim, os cientistas foram considerados culpados apenas de linguagem descuidada e coloquial, que era entendida pelos profissionais do ramo mas poderia parecer estranha a quem não vivesse no meio.
 
Há em todo mundo “doutores em climatologia” que procuram uma fama rápida gritando e gesticulando contra os estudos científicos e adotando posições demagógicas. Outro dia me enviaram uma imitação cabocla deste tipo, em um show do Jô Soares. Foi a primeira vez que o assisti mas, de saída, achei que anfitrião e convidado se equivaliam: até pela maneira espalhafatosa de trajar, Jô Soares não pode ser levado a sério e seu entrevistado personificava à perfeição o espírito do programa. (Fonte: aqui).

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