sábado, 14 de maio de 2011

VOLTANDO AO BULLYING


Bole-bole 

Ruy Castro

Não apenas Joãozinho e Maricotinha estão sendo vítimas de bullying por aí. A língua portuguesa, também. E, entre as formas de bullying a que a língua tem sido submetida, inclui-se a onipresença, sem tradução, da palavra bullying - embora seu significado não seja tão aparente como se pensa e escape a 100% dos que a leem ou ouvem pela primeira vez e não têm obrigação de conhecer seu uso original em inglês.

O conceito (não a prática) pode ser relativamente novo em psicologia, mas os dicionários inglês-português sempre souberam o que era bullying. O velho e infalível "Vallandro", por exemplo (minha edição é de 1966 e continua invicta), não faz mistério quanto ao significado de bully, substantivo e verbo:
"S [substantivo]. Fanfarrão; tirano; indivíduo arrogante e cruel; etc. V [verbo]. Intimidar, maltratar, oprimir; bravatear." Daí bullying, com farta escolha de equivalentes em português: tirania, arrogância, crueldade, intimidação, maltrato, opressão, bravata.

(...) a psicóloga Rosely Sayão alertou para a banalização do conceito - tudo agora é bullying - e para o risco de se estar criando uma geração incapaz de lidar com as diferenças (de sexo, idade, tamanho, comportamento). Como se, para que não haja bullying, as crianças devam ser como soldadinhos de chumbo, cada qual em seu canto - meninos para cá, meninas para lá, rapazes e moças idem -, e em que ninguém terá de aprender a se defender.

Dias antes, na coluna "Gente boa", do "Globo", o compositor e cantor Edu Krieger ofereceu, em troca da palavra bullying, uma bela aproximação em português: bulir - segundo o "Houaiss", tocar (em algo ou alguém); causar incômodo ou apoquentar; produzir apreensão em; fazer caçoada; zombar. Com bulir, vê-se que, em certos casos, o que parece bullying pode ser só um caso de bole-bole.

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No post "Palavrinha fula (II)", publicado neste blog em 21 de abril, eu também sugeri a palavra 'bulir' em troca do tal bullying...

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