segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

BISSEXTO É ISSO AÍ


Por Ivan Lessa

Mal deu tempo para se pegar pé e prumo em 2011 quando tudo começou a acontecer.

De bissexto a bizantino passando por bizarro.

Lá para as bandas das primeiras páginas dos jornalões, blogs e informatecões.

Quem estava no bem-bom, como a maior parte de nós, das classes médias ascencionais de países que vão “bem, muito obrigado”, com presidente ou presidenta, tem assunto que não acaba mais.

Um ano verdadeiramente revolucionário ainda a mugir e já tentando dar seu salto mortal e tentar cair de pé.

Egito. Sol quante queimando a nossa cara. Quem diria? Aqueles camelos ruminantes com cara de serem os únicos a conhecerem o verdadeiro segredo da múmia continuam a parecer serenos e pensativos.

Mas, ah!, a tempestade interior que por eles passa e deixa apenas, atrás de si, na areia, bolotas negro-esverdeadas como se dando a dica para o que a esfinge da direita queria dizer. Maktoub! Como nas histórias em quadrinhos.

Com essa ninguém contava. Nem mesmo o bom Hosni Mabarak, que se mandou de pronto e 25 jatos repletos de tesouros para a cidade balneária de Sharm el-Sheik, onde ainda se encontra, talvez, à espera de um convite de Tony Blair, talvez de seu parente distante Obama.

Agora que foi uma revolução, foi. E na base do twitter e dos celulares garante-me a imprensa informática e a outra também.

Não sou um dos 500 mil seguidores de ninguém no Facebook. Rede Social, para mim, ainda é aquela grandona, na fazenda, onde rapaz eu me espichava junto com uma moça e tome ferro.

Agora é mania que virou filme e, vai por mim, ainda vai pegar Oscar paca. Sou mais O Discurso do Rei, mas a zebra tem seu dia de manduricá, conforme dizíamos no norte, lá na Paraíba, e quem viveu viu.

Se quebrei a cara, foi menos, bem menos do que muito tunisiano. Twittaram lá também. A turma foi para as praças, berrou, pegou sereno, agitou, e ainda acabou muita gente boa, ou mais para lá do que para cá, se enfiando numas barcaças indo pegar uma pizza fria em Lampedusa, ilha italiana onde já teve um Leopardo famoso. Agora, exibem tunisianos.

Sem bissextismos mesmo, só mesmo os irlandeses que compareceram em massa, 70%, ao sufrágio universal na esmeraldinha ilha. E ficou tudo como estava, pois esse o sentido oculto das eleições em ordem.

E terremoto na Nova Zelândia? Esse foi só para ver se o resto do mundo estava acordado ou fingindo de morto.

Bissextando ainda, e com o cheiro de revolução no ar, com um soupçon de sangue, lá estão outros países da África do Norte e adjacências, o Maghreb.

A África do Norte é pródiga em adjacências. Trata-se de seu grande produto de consumo interno. Bahrein, Iêmen, Argélia, Jordânia, mais pra cima um tico, todos esses países de repente, sem um Nostradamus que os guiasse, se amotinaram, se amotinam e botam pra quebrar.

Líbia. Disputou no fim-de-semana, pau a pau, o Oscar de “torta de flato” (que história é essa de “torta de amora” ? É gíria na base da rima cockney, e veio de cá, uai!, raspberry tart. É o Prêmio Pum, pomba! Raciocinem, lembrem, adaptem bonitinho. Brraaap!). Vexame dos bons, mortandade pra valer é com os líbios, regidos por Muamar, O Louco, e seus vários filhos de aspecto quase, quase normal. Khadafi, com suas várias ortografias (Gaddafi, Quaddafi e por aí afora) fez ouvidos de marceneiro líbio às sanções que as Nações tentavam lhe empurrar e resistirá, diz ele, até o último burro de carga líbio.

Depois, claro, como todos os outros ditadores assassinos irá passar o resto de sua vida com seus seus muitos milhões, falam em bilhões, num desses valorosos países do continente africano.

Bom, aliás, não esquecer a Somália. Há anos se fantasiam de pirata, sem perna de pau, mas com cara de mau, e fazem refém, ou desfazem-nos, conforme o lança-perfume que andaram cheirando, e gritam obscenidades do alto da popa.

Khadafi, para mim, acaba indo numa dessas. Reescrevendo seu livro de contos Fuga do Inferno. Aquele mesmo que teve prefácio elogioso de Pierre Salinger, ex-assessor de imprensa do nunca assaz pranteado presdiente John Kennedy.

Por falar em pirata. O único Cisne Negro que vale alguma coisa mesmo é aquele com o Tyronne Power e o Laird Cregar.

Isto, claro, depois de, segundo suas palavras, deixar seu adorado país num carnaval de sangue.

Falar de carnaval agora, mesmo anêmico, não dá certo. Veremos na quarta, que já é março, volta às aulas, talvez a bissextice inesperada e pouco querida dê uma travada e volta todo mundo a fazer de per si suas besteiras de sempre. Mas mais inofensivas.

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