quarta-feira, 15 de maio de 2024

PERÉIO, O ATOR QUE AMÁVAMOS ODIAR

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- Peréio, Eu Te Odeio -

No crepúsculo de uma vida atribuladíssima, lá estava ele no Retiro dos Artistas, combinando a irreverência de sempre com a proximidade da demência.


Por Carlos Alberto Mattos

Paulo César Pereio faleceu no dia 12/5, aos 83 anos. Era um ator de quem podíamos esperar tudo – do melhor ao pior. No ano passado, apareceu em festivais um documentário sobre ele, que ratifica esse juízo.

Como afirma o título, Peréio, Eu te Odeio quer ser o oposto dos documentários hagiográficos, aqueles que só têm câmera e microfone para elogios ao personagem. O próprio Paulo César Pereio exigiu que fosse assim: um filme que falasse mal dele. E assim é: de ex-esposas e filhos a diretores e atores que já trabalharam com ele, todos o espinafram. Mau caráter, arrogante, indigno de confiança, provocador de desastres, e por aí afora. Em uma palavra: insuportável.

Sucedem-se os relatos exemplares: Pereio causando um acidente no Túnel Rebouças que parou o Rio de Janeiro, Pereio abandonando filmagens pelo meio, Pereio botando amigos em perigo por causa de drogas, Pereio respondendo na Justiça por deixar de pagar pensão à família, Pereio causando repulsa nos colegas pela falta de higiene pessoal. No crepúsculo de uma vida atribuladíssima, lá estava ele no Retiro dos Artistas, combinando a irreverência de sempre com a proximidade da demência.

O curioso é que, gradativamente, o filme de Allan Sieber e Tasso Dourado vai se convertendo um pouco no seu contrário. Se de fato repudiamos o comportamento e mesmo a figura física de Pereio, é inevitável que uma certa admiração sobrevenha pelo ator extraordinário que ele sempre foi e pela capacidade de sobrevivência de alguém tão suicida. Certa feita, ele escolheu seu epitáfio: “Morreu com 40 anos de atraso”. A disposição para se expor para além de qualquer amor próprio, com o intuito de chocar a audiência, é motivo tanto de espanto quanto de reconhecimento pela criação de um tipo inusitado. Até que ponto Pereio diverte ou irrita, é difícil precisar. 

O cartunista e animador Allan Sieber aparece como narrador diante da câmera. Conta como vinha tocando esse projeto desde o ano de 2000, sem patrocínio nem qualquer tipo de incentivo. Sua produtora Toscographics já havia realizado dois curtas alusivos a Pereio, direta ou indiretamente: a animação Onde Andará Petrucio Felker? e o cinéma-verité Superstição. Ter esse documentário, afinal, terminado é uma façanha em si mesma. Uma façanha editada com muita perspicácia para fazer as atuações de Pereio nos mais diferentes filmes ilustrarem seu jeito de ser e de ser visto pelos outros. Adeus, Pereio, o ator que amávamos odiar.  -  (Fonte: Carmattos - Aqui).

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O documentário, que ainda não tem data de estreia nos cinemas. é simplesmente imperdível. Como diria o outro: Não Vi, Mas Já Gostei.

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