sábado, 16 de abril de 2022

RÚSSIA, PARALELO 30


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No 'Xadrez para entender os dilemas da economia russa',  trouxe a análise do economista russo Andre Yakovlev sobre o que se passou no país pós-desmonte da ex-URSS e as oportunidades que se abrem agora, com as sanções econômicas. Guarda muitas semelhanças com o Brasil de 1930.

Primeiro, ambos os países forem submetidos a uma apropriação da coisa pública por grupos privados, o Brasil da República Velha, com o Estado apropriado pelos interesses agrários de Minas e São Paulo;  a Rússia pela privatização selvagem, que entregou grandes monopólios estatais para membros da nomenklatura.

Na Rússia, em um primeiro momento, os oligarcas se valem de seu poder de mercado para obter grandes margens de lucro no diferencial de preços entre os produtos industrializados e as matérias primas. No Brasil de 1930 ainda não tinha se iniciado a industrialização. Todo o lucro ficava com produtores de matérias primas que, depois, alocavam em bancos ingleses.

Nos dois casos, havia parceria entre os capitais internos e os internacionais. Os filhos de ambas as elites requentavam os grandes centros europeus, depositavam seus lucros na banca internacional e se associavam para explorar negócios internos.

Quando abre-se o comércio internacional, os lucros vão para a produção de matéria prima, tanto aqui quanto lá. O capital concentra-se, então, em meramente explorar os ganhos com matérias primas, em um modo primitivo de acumulação de capitais. É um modelo que gera excedentes que não são compartilhados pelo conjunto da Nação – embora explore riquezas do subsolo nacionais. Ao não estimular a industrialização, não gera empregos, não gera desenvolvimento. Com o tempo, perde legitimidade perante a opinião pública, mesmo em países de democracia imperfeita, como o Brasil e a Rússia de todos os tempos.

Em ambos os casos, todas as decisões de políticas públicas visam beneficiar exclusivamente o grande capital nacional ou associado ao externo. E a legitimação é dada por economistas que manobram conceitos em favor dos grandes capitais, acenando com promessas de bem estar que jamais serão cumpridas.

Há uma regra de ouro na gestão de políticas públicas: sempre que há opções, busca-se aquela que beneficie o ator econômico mais influente, mesmo em detrimento do desenvolvimento do país como um todo.

Aí, aparece o grande estadista nacional, o Sr. Crise, que não deixa opções.

No caso brasileiro, a crise das contas externas obrigou o governo Vargas a proibir o livre fluxo de capitais. Sem reservas cambiais, além disso, as importações tornaram-se caras e escassas. O resultado foi que os capitais acumulados do café tiveram que baixar à terra, ajudando a financiar o início da industrialização brasileira. 

No caso da Rússia, crises cambiais, em outros períodos, trouxeram de volta a fabricação de produtos básicos industrializados. Agora, na opinião de Andre Yakovlev, as sanções econômicas permitirão o florescimento de uma grande indústria substituta das importações.

Em ambos os casos, a imposição das novas regras – apesar de inevitáveis – só foi possível graças à chamada modernização autoritária. Tanto no Brasil da República Velha, quanto da Rússia pós-Boris Yeltsin, a apropriação do poder político pelos oligarcas faria com que, mantido seu poder, levassem o país ao fundo do poço, com seu capital devidamente preservado na banca europeia."





(De Luis Nassif, artigo intitulado "No Brasil de 30 e na Rússia de 2022, sanções são benéficas" - Aqui -, publicado no Jornal GGN, de que é titular.

Vale a pena ler os comentários suscitados.

Enquanto isso, mandatários de países ocidentais, a exemplo de Boris Johnson, se ufanam pelo fato de estarem fornecendo armamentos aos ucranianos, ansiosos em ver o circo pegar mais fogo ainda...).

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