quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

NO RASTRO DE METEORANGO KID

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"Procura-se Meteorango Kid Vivo ou Morto" contextualiza ou presta tributo a um clássico do cinema de invenção brasileiro. Vejam online no Festival de Brasília.


Por Carlos Alberto Mattos

Faz 52 anos que a Bahia gestou seu fruto mais suculento na colheita do Cinema Marginal. Meteorango Kid, Herói Intergalático, primeiro filme de André Luiz de Oliveira, condensava as angústias e o desejo de rebeldia de uma geração espremida entre os grilhões da ditadura, a caretice de uma família burguesa e a saída possível pelas drogas e a transgressão. Lula, seu personagem central, passava por experiências reais e fantásticas em Salvador num dia de aniversário, terminando por se crucificar na praia.

O filme era produto do caldo cultural e político de 1969, ou seja, hippismo, rock, underground, Tropicalismo, contestação e desbunde. Exerceu forte influência no chamado cinema de invenção da época. Edgar Navarro credita a ele sua passagem de cinéfilo a realizador. Walter Carvalho o considera “uma epifania”. Marcelo D2 vê ali uma semente do hip hop brasileiro.


Edgar, Walter e Marcelo dizem isso no documentário 
Procura-se Meteorango Kid Vivo ou Morto, de Marcel Gonnet e Daniel Froes com roteiro e pesquisa de Rafael Dias. Trata-se de um bonito e bem construído tributo ao filme de André Luiz, além de um resgate de seu processo no tempo. Lá estão Lula Martins, o protagonista, a atriz e maquiadora Danielle, que fazia um gay no filme e se emociona com as lembranças, Moraes Moreira, Tuzé de Abreu, Luiz Carlos Maciel… E André Luiz de Oliveira, é claro, na sua postura atual mais chegada a um guru indiano que a um jovem iconoclasta.

Ele se recorda da vergonha que tinha da família rica e bem posta na sociedade baiana. Fala do início da carreira, da influência recebida do ateliê de Mario Cravo (ele quase se casou com Kadi Cravo) e da importância de Rogério Duarte no aporte do esoterismo e no cartaz do filme, que lembra o tarô. Para André Luiz, o mundo ia acabar depois de amanhã. E quase acabou mesmo quando ele foi a Londres com o filme e entrou numa bad trip tremenda que o botou em coma. Depois, nos anos 1970, vieram a prisão, uma passagem pelo manicômio judiciário e o resgate de si mesmo a partir de A Lenda de Ubirajara (que Tuzé define como “um baseado em José de Alencar”).

O documentário faz uma excelente contextualização das cenas de Meteorango Kid, recorrendo aos depoimentos, a fotografias de bastidores e a boas cenas de making of de A Lenda de Ubirajara. É principalmente muito divertido e absolutamente baiano em sua essência. - (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui).

(Procura-se Meteorango Kid Vivo ou Morto será exibido neste link entre 20h de 8/12 e 19h59 de 14/12).

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