sexta-feira, 10 de março de 2017

IMPRESSÕES SOBRE RECESSÃO E PIB


O xadrez dos economistas que inventaram a recessão

Por Luis Nassif

3,6% de queda do PIB em 2016 não é culpa de Dilma Rousseff. Arriscaria a dizer que nem é culpa de Michel Temer. Quem levou o país à maior recessão desde 1930 é uma subciência econômica, uma submissão atrasada a um pensamento econômico equivocado, raso, que transformou o conhecimento científico em matéria de fé, abolindo princípios básicos de uma economia de mercado.
A culpa de Dilma e Temer foi a da semi-ignorância de uma, da ignorância ampla de outro, deixando a condução do país nas mãos de técnicos e Ministros de pequena estatura, escasso conhecimento geral.
A tragédia brasileira pós-redemocratização é fruto direto da ação deletéria dos economistas brasileiros, alguns com interesses financeiros explícitos – como a geração do Plano Real -, outros com a ignorância fatal dos falsos especialistas, os que confiam cegamente em respostas de manuais, com total incapacidade de enxergar o todo.
A economia sempre foi uma ciência auxiliar das políticas públicas, assim como o financeiro é auxiliar dos projetos de uma empresa. Cabe ao financeiro avaliar os custos, as formas de financiamento, apontar os limites, mas sempre se subordinando à estratégia definida pelo Board da companhia.
Os erros de Dilma em 2014 foram fruto da sua cabeça. Os desastres de 2015 se deveram à pressão suicida do mercado/mídia e a erros trágicos de diagnóstico de Joaquim Levy, que persistiram na gestão Henrique Meirelles.
1º Passo - a crise fiscal
A crise fiscal do governo Dilma Rousseff foi fruto direto de um erro de diagnóstico dos economistas.
Basearam-se em estudos dos anos 90 – que haviam sido revisados pelo FMI em 2012 – segundo os quais subsídios fiscais tinham Impacto positivo no PIB. A enxurrada de subsídios se somou à compressão das tarifas de energia, visando conter a inflação. Havia um quadro externo de queda nos preços internacionais de commodities, prenunciando reflexos negativos sobre o país. E a Lava Jato cumprindo sua missão de destruir a economia brasileira.
A pobreza institucional e política do país permitiu que toda a estratégia fosse comandada de forma autocrática por Dilma e Guido Mantega, abrindo mão de qualquer consulta a outras cabeças.
2º Passo - O ajuste fiscal radical
Joaquim Levy encontrou pela frente o seguinte quadro:
1.     Crise fiscal, decorrente da queda da atividade econômica e do exagero dos subsídios concedidos na gestão Mantega.
2.     Problemas no front externo com a compressão do câmbio.
3.     Aceleração da Selic impactando profundamente a dívida pública.
4.     Desmonte da cadeia do petróleo e gás pela compressão das tarifas e pelo missão internacional da Lava Jato.
A estratégia desenhada por Levy/mercado  consistia em um choque tarifário gigantesco, um profundo arrocho fiscal e uma desvalorização cambial.
A tática consistia em equilibrar rapidamente as contas públicas, através dessa dupla investida, equilibrar a relação dívida/PIB (principal indicador de solidez fiscal). E, com isso, despertar a fé dos empresários na solidez fiscal. Bastaria para trazer de volta os investimentos em um prazo exíguo. Com os investimentos de volta, haveria a volta do crescimento e, consequentemente, da arrecadação fiscal.
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Em seguida, a análise dos números de 2016, por Laura Carvalho:

Economia brasileira leva de 7 a 1
Por Laura Carvalho (Na Folha de São Paulo)

Os números de 2016 recém-divulgados pelo IBGE confirmaram o colapso vivido pela economia brasileira desde o início da maior crise econômica da qual já tivemos notícia —ou estatística.

Desde 2014, a queda acumulada do PIB já chega a 7,2% em níveis absolutos e a 9,1% em termos per capita.

O ritmo de contração da economia, que diminuiu entre o segundo trimestre de 2015 e o segundo trimestre de 2016, parece ter acelerado desde o fim do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Ao contrário do prometido, a troca de liderança não foi suficiente para o retorno à estabilidade e a retomada dos investimentos.

Entre os mais otimistas, restaram apenas os que defendem que a aprovação da PEC do "teto de gastos" e da reforma da Previdência se encarregará de colocar o país novamente na rota do crescimento robusto, pois abriria espaço para a redução dos juros e a volta da confiança.

Entre os mais pessimistas, estão os que, como eu, acreditam que, em um contexto de capacidade ociosa da indústria, desemprego elevado e alto endividamento privado, as contrações sucessivas nos investimentos públicos continuarão impedindo uma retomada substantiva dos investimentos privados e do consumo das famílias nos próximos anos.

Dado o baixo patamar em que a economia se encontra, as medidas anunciadas pelo governo até aqui podem, no máximo, substituir recessão por estagnação.

As previsões distintas sobre o futuro refletem diagnósticos também distintos sobre as causas da crise.

Enquanto, para muitos analistas, a crise é explicada pela gastança desenfreada, para alguns de nós, a deterioração nas contas públicas desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff é sobretudo fruto de uma queda na arrecadação —pelas custosas desonerações concedidas e pelo baixo crescimento. Na segunda hipótese, o corte de gastos e investimentos públicos implementado desde 2015 lançou gasolina ao fogo.

Como mostrou Vinicius Torres Freire em coluna nesta Folha, quase não há registro histórico de uma crise dessa magnitude em um país com tamanho, instituições e renda per capita minimamente comparáveis aos nossos. Sobretudo fora de um contexto de crise financeira.

Em 2015, a Rússia foi o único outro país entre os 46 que constam da base de dados da OCDE a passar por uma recessão.

Ainda assim, mesmo sofrendo sanções econômicas de Estados Unidos, União Europeia, Japão e Canadá pelo conflito na Ucrânia, a queda acumulada foi de cerca de 4% no biênio 2015-2016 e parece já ter chegado ao fim.

No Brasil, nem a crise da dívida da década de 1980 nem o confisco da poupança em meio à hiperinflação tiveram efeitos recessivos tão profundos ou duradouros. A economia mexicana caiu menos de 4% quando declarou a moratória da dívida em 1982. Atribuir todo o colapso atual a uma irresponsabilidade com as contas públicas ou ao descontrole de preços parece pouco plausível.

Mas o ajuste fiscal tampouco explica o tamanho do buraco em que nos metemos. As repercussões da Operação Lava Jato, as aberrações do nosso sistema político e o troca-troca de ministros pelos piores motivos, por exemplo, têm de ser levados em conta.

O governo Temer não parece mesmo ter vindo para assegurar a estabilidade política, superar o caos institucional ou colocar o "país nos trilhos". (Aqui).

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A estratégia 2017 parece ser a seguinte: a) ensejar o déficit das contas federais e dos estados, de molde a tornar 'incontornável' a necessidade de venda de bens públicos como forma de atrair capitais, inclusive e especialmente de investidores/especuladores externos; b) no mesmo passo, aprovar a 'modernização' das relações de trabalho, previdenciárias e tributárias, tornando o país 'suculento' a investidores em geral.

Os problemas: (a) a resistência/incerteza relativamente à 'modernização' das relações acima citadas, presentes a Lava Jato e a proximidade das eleições 2018; (b) a inesperada vitória de Trump e o boom de investimentos internos norte-americanos, notadamente via elevação dos investimentos no complexo militar-industrial e retorno aos EUA de empresas que migraram para o México, especialmente, e outros países. Referido boom poderá pressionar a inflação norte-americana, compelindo o governo a aumentar os juros, o que atrairá investidores/especuladores diversos, em especial os estadunidenses, pressionando, e muito, o Brasil.

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