quinta-feira, 9 de março de 2017

BRASIL, RECESSÃO E DEPRESSÃO


"Os ciclos recessivos não se resolvem apertando um botão, o processo é lento e passa pelo aumento da renda na ponta da demanda. O Brasil não está apenas em recessão, trata-se de uma DEPRESSÃO, fase mais profunda pela decorrência do tempo da recessão e de sua perspectiva de permanência.

A declaração do Ministro da Fazenda de que "a recessão acabou" indica não só leviandade incompatível com o cargo, pressupõe também um completo desconhecimento de economia, de história da economia e de história do pensamento econômico, o ciclo da recessão tem uma duração de ida e volta que se contam por anos e não por semanas.

Como é possível estar em recessão no último trimestre de 2016, e os números do IBGE divulgados na segunda-feira mostram isso, e no trimestre seguinte, como por milagre, dizer que a recessão acabou?

A recessão, como o câncer, não acaba de um dia para o outro e depende de condições objetivas que não se apresentam.

Um dos clássicos sinais do reaquecimento da atividade econômica é a alta da inflação e não seu oposto, a BAIXA DA INFLAÇÃO no caso brasileiro indica perda do poder de compra, os produtos e serviços não têm compradores e com isso o mercado esfria, empregos são cortados e a recessão se transforma em depressão.

Na crise de 1929, o fim da recessão se deu exclusivamente pelo aumento do poder de compra pela criação de empregos por políticas públicas, os CIVILIAN CONSERVATION CORPS, que criou seis milhões de empregos, e a RECONSTRUCTION FINANCE CORP., que salvou 120.000 empresas injetando dinheiro na economia. A saída da crise levou 8 anos e só terminou com a Segunda Guerra e suas imensas encomendas de material bélico; todo o processo que determinou o fim da Grande Depressão se deu por expansão monetária em grande escala para gerar poder de compra.

A impressão que se tem hoje no Brasil, tanto na equipe econômica como na mídia econômica, é de um absoluto desconhecimento de princípios elementares de economia, em achar que se sai da recessão com pequenos gestos e micro iniciativas, como R$ 17 bilhões em concessões que se pretende lançar. As concessões mudam a gestão de ativos públicos para administração privada, NÃO CRIAM EMPREGOS e não têm como sequer fazer coceira na recessão.

A recessão-depressão brasileira necessita de DOIS TRILHÕES DE REAIS de expansão monetária para criar demanda, será preciso correr o risco de inflação que pode ocorrer em pequena escala, não existe outro meio de sair da recessão em prazo razoável. Na atual política econômica, NÃO HÁ NENHUM ELEMENTO para sair da recessão."






(De André Araújo, analista político-econômico e consultor internacional, post intitulado "A retomada fantasma", aqui.

Referindo-se a comentário de um leitor, Araújo observou:

DINHEIRO DE HELICÓPTERO segundo Milton Friedman: O papa da segunda escola monetarista, a de Chicago, Milton Friedman, sugere que para acabar uma recessão profunda o mais racional método é JOGAR DINHEIRO DE HELICÓPTERO para que os transeuntes peguem e passem a  gastar, assim reativando a economia.
Segundo Friedman, que não oferecia almoço grátis, É MAIS BARATO PARA O PAIS JOGAR DINHEIRO DE HELICÓPTERO DO QUE BANCAR OS CUSTOS DE UMA RECESSÃO PROLONGADA.
A atual política econômica aqui faz o contrario: diante de uma recessão prolongada ENCOLHE O DINHEIRO E TRAVA AINDA MAIS A ECONOMIA; o bisturi dessa operação é a INFLAÇÃO NO CENTRO DA META, que agora querem reduzir para 3%."
Foi então que um outro leitor ponderou:
"Eu acho que distribuir dinheiro aos transeuntes poderia até aquecer a economia, pois a demanda aumentaria, mas isso só seria possível na hipótese da recessão ser causada pela superprodução. No médio prazo, o mercado de trabalho absorveria trabalhadores desempregados, aumentando a (super)produção e piorando o quadro recessivo/depressivo. No caso de escassez da oferta, a distribuição de dinheiro aos transeuntes e o conseqüente aumento da demanda só faria piorar o quadro recessivo, fazendo a economia se tornar hiperinflacionária.
No caso da superprodução, o melhor a fazer seria reduzir a jornada de trabalho.
As crises são inerentes ao modo de produção capitalista."
Ao que Araújo devolveu:
"Não há incêndio algum, há uma paz de cemitério na economia por falta  de RENDA, que causa falta de DEMANDA, mas há enorme capacidade ociosa nos ativos de produção, as fábricas de cimento estão operando com 30% da capacidade, o aumento de poder de compra aumenta a produção sem causar inflação por causa da CAPACIDADE OCIOSA em todos os setores da economia, de barbeiros a siderúrgicas. Não entendi seu raciocínio, não há nesse quadro atual risco de hiperinflação e sequer de inflação, pois o primeiro degrau da inflação é a escassez de mão de obra, que gera aumento de salários; estamos há anos luz disso."
Observações deste blog, a partir de trechos destacados dos comentários do articulista André Araújo:
1. "O papa da segunda escola monetarista, a de Chicago, Milton Friedman, sugere que para acabar uma recessão profunda o mais racional método é JOGAR DINHEIRO DE HELICÓPTERO para que os transeuntes peguem e passem a  gastar, assim reativando a economia."
- Aqui, Friedman faz lembrar a folclórica [ou aconteceu mesmo? Bem que pode ter acontecido] resposta dada por John Maynard Keynes a Franklin Delano Roosevelt, que lhe perguntara sobre em que um país em depressão extrema como os EUA iriam investir recursos públicos de molde a aquecer a demanda: "Presidente, o senhor pode determinar a aplicação de recursos até em coisas aparentemente sem sentido, como vias férreas de longo curso, ligando o nada ao coisa nenhuma; o importante é que isso vai mexer com a economia, mediante encomendas de aço, ferro, madeira etc., e isso gerará salários, faturamentos e lucros, que por sua vez gerarão impostos, alavancando o sistema!"
2. "...há uma paz de cemitério na economia por falta  de RENDA, que causa falta de DEMANDA, mas há enorme capacidade ociosa nos ativos de produção, as fábricas de cimento estão operando com 30% da capacidade..."
- FÁBRICA DE CIMENTO EM FRONTEIRAS DEMITE 500 E FECHA UNIDADE NO PIAUÍ: A Itapissuma, produtora de cimento hidráulico, anunciou nesta segunda-feira (6) o fechamento de sua unidade localizada na Fazenda Monte Alvão, zona rural do município de Fronteiras, no Sul do Piauí. A suspensão das atividades atinge cerca de 500 trabalhadores, conforme relato de funcionários... - Fonte: G1 - AQUI.
O governo do Piauí está desenvolvendo esforços visando a evitar o fechamento da empresa, uma das maiores contribuintes de ICMS do estado do Piauí).

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