sábado, 14 de janeiro de 2017

O OLHAR DAS CRIANÇAS SOBRE O MUNDO


20 filmes que exploram o olhar das crianças sobre o mundo

Por Dafne Melo (Do Centro de Referências em Educação Integral)

Como as crianças vivem momentos de efervescência política? Como vivem o acirramento da luta de classes? Como elaboram o luto, as perdas e o abandono? Ou a separação de seus pais? Como elas experimentam a pobreza e as mazelas do mundo?
Quando pensamos em filmes com crianças, não vêm à nossa cabeça realidades adversas e complexas, mas o cinema tem se dedicado bastante em construir um olhar infantil sobre situações permeadas pelo sofrimento.
E se a realidade vivida é difícil de suportar, maior a necessidade de substituí-la por outra mais lúdica e poética, o que as crianças fazem melhor do que ninguém.
“O privilégio da infância é podermos transitar livremente entre a magia da vida e os mingaus de aveia, entre um medo desmesurado e uma alegria sem limites (…) Eu sentia dificuldade para distinguir entre o que era imaginado e o que era real”, escreveu o cineasta sueco Ingmar Bergman.
Centro de Referências em Educação Integral preparou uma seleção de produções, de diversos países, que registram histórias nas quais diversos acontecimentos – da separação dos pais a eventos históricos trágicos, passando por situações de vulnerabilidade social e o luto – são protagonizadas por crianças.

#1. A culpa é do Fidel (Julie Gravas, França, 2007) Classificação indicativa: livre

Anna, 9 anos, leva uma vida tranquila e de “princesa” ao lado dos pais e do irmãozinho, em Paris, na década de 1970. A vida da família é alterada pela chegada de uma tia de Anna, acompanhada de sua filha, exiladas da Espanha pela ditadura franquista após o desaparecimento de seu companheiro. Os pais de Anna decidem dedicar-se mais ativamente à militância e mudam-se para um pequeno apartamento. A mãe passa a escrever um livro sobre o direito ao aborto, enquanto o pai busca apoio ao governo chileno de Salvador Allende, no Chile. Obrigada a deixar a casa e a rotina da qual tanto gostava, Anna se vê cercada de militantes, os “barbudos”, e busca entender e se adaptar – a contragosto – à nova realidade.
#2. Pelos olhos de Maisie (Scott McGehee e David Siegel, EUA, 2012).
Classificação indicativa: 12 anos

Como uma criança de 7 anos vive a separação dos pais? Como entende a nova dinâmica familiar e as disputas entre os progenitores? Esse é o pano de fundo de Pelos olhos de Maisie, que conta a história sob o ponto de vista da menina disputada por uma mãe cantora de rock e um pai absorvido pelo trabalho. Apesar de contar com recursos financeiros e educacionais, Maisie se sente só e busca construir laços afetivos com outros adultos presentes em sua vida.
#3. Minha vida de cachorro (Lasse Hallström, Suécia, 1985)
Classificação indicativa: livre
Ingemar é um menino inquieto de 12 anos que mora com o irmão mais velho, a mãe, e sua cachorrinha Sickan, sua grande companheira. Sozinha, cansada e doente, a mãe envia os filhos para uma temporada com os tios, para que ela possa tentar se recuperar. Ingemar é mandado ao interior da Suécia, onde é bem recebido pelo tio Gunnar. Ali, conhece novos amigos e se insere aos poucos na pequena comunidade, ao passo que precisa lidar com a morte iminente da mãe, com a ausência da cachorrinha e ainda entender o complexo mundo dos adultos. O filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e foi indicado aos Oscar de Direção e Roteiro.
#4. Machuca (Andrés Wood, Chile, 2004)
Classificação indicativa: 12 anos
A passagem da infância para a adolescência também se faz presente em Machuca, sobrenome de um dos dois personagens que protagonizam o filme chileno. Gonzalo, loiro, branco e de uma família abastada, torna-se amigo de Pedro, garoto pobre, de origem indígena e morador da periferia de Santiago. Os dois garotos se conhecem na escola, dirigida por um padre progressista que, no Chile do início da década de 1970, decide colocar estudantes de baixa renda dentro da instituição. Conforme a situação política do país se complexifica e a luta de classes se acirra, os diferentes universos de Gonzalo e Pedro começam a perder as pontes possíveis, em meio a transição violenta do governo de Salvador Allende para a ditadura de Augusto Pinochet.
#5. Infância clandestina (Benjamín Ávila, Argentina, 2012)
Classificação indicativa: 14 anos
A temática da ditadura militar e de pais militantes aparece novamente na produção argentina, baseada na vida e na experiência do próprio diretor. Juan, um menino com cerca de 12 anos, vive na clandestinidade junto com os pais e o tio, militantes montoneros. Para fora de casa, Juan tem outra identidade, Ernesto, e precisa escondê-la de seus novos colegas da escola, incluindo a menina por quem se apaixona, assim como ocultar as atividades políticas de seus familiares. Outra produção argentina que também aborda o olhar infantil sobre a ditadura é Kamchatka, de 2002. No Brasil, O ano em que meus pais saíram de férias tem um enredo semelhante.
#6. Filhos do Paraíso (Majid Majidi, Irã, 1998)
Classificação indicativa: livre
Ali, um garoto de 9 anos, de uma família pobre, leva os sapatos de sua irmã para consertar, mas acaba por perdê-los no caminho de casa. Sabendo que os pais não têm dinheiro para comprar outro, ele e a irmã mais nova passam a compartilhar o tênis do menino, o que fazem escondido e com muitos sacrifícios e artimanhas. Para tentar resolver o problema, o garoto se inscreve em uma corrida infantil, cujo prêmio para o terceiro colocado é um novo par de sapatos. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
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