quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

BANCOS: A SÍNDROME DIGITAL


A piração digital dos bancos

Por André Araújo

Uma profusão de anúncios de bancos e fundos de investimentos na mídia eletrônica papagaiando as vantagens de SER DIGITAL. Vantagem para quem? Vantagem para os anunciantes, que, quanto mais digitais forem seus serviços, menos custam aos anunciantes. Mas qual a vantagem para os clientes? NENHUMA, porque a redução dos custos não implica a redução das tarifas, dos juros ou das comissões.
O Brasil tem certas idiossincrasias no uso de tecnologia. São manias tipicamente brasileiras e vícios que vêm da volúpia do sistema financeiro por mais lucros e menos trabalho.
Nos EUA, berço de tudo isso, o uso de informatização no sistema financeiro é mais discreta  que no Brasil. Os bancos não empurram o cliente para o SER DIGITAL com essa sofreguidão,  pode-se usar toda tecnologia disponível SE VOCÊ QUISER. É incrível como o sistema financeiro brasileiro tem uma compulsão pelo digital, é claramente um sistema excessivamente informatizado. Por exemplo, nos EUA continua-se usando intensamente o cheque para pagamentos e a compensação pode demorar 15 dias se o emitente e o depositante foram de regiões distintas, há lá 12 bancos centrais, um por região; assim, um cheque de Filadélfia depositado em Dallas pode levar duas semanas para compensar.
Usa-se menos transferência eletrônica que no Brasil, você paga seu dentista mandando um cheque pelo correio, não há essa volúpia por super velocidade nas operações.
Há um problema sério no excesso do digital. Muita gente mais velha não quer ou não sabe usar sistemas eletrônicos mas os bancos empurram todos para o digital, reduzindo cada vez mais a opção pelo atendimento pessoal. Nos EUA você pode usar a eletrônica ou pode optar por atendimento pessoal porque lá, como aqui, há muita gente de idade que não convive bem com o mundo digital ou gosta de ser atendido por gente de carne e osso e a instituição respeita essa atitude do cliente. Aqui não, o cliente que se adapte ao banco.
Há um enorme valor mercadológico no contato pessoal, uma pessoa precisa ver um rosto para ser convencida a investir, precisa ter alguém com quem falar, afinal este mundo ainda tem gente morando, não só robôs. De onde surgiu o gênio nesses bancos que acha que todo mundo quer ser digital, um ET? Quem disse isso para eles?
Isso parece uma loucura. Nos bancos americanos há muito mais contato pessoal que no Brasil, e olha que eles são os reis dos sistemas eletrônicos - mas não são imbecilizados como parece ser o caso de financistas brasileiros e seus publicitários "geniais" que operam em manada.
O problema mais sério é que as vantagens econômicas de redução de custo de operações pelo uso exclusivo de digitalização não é sequer repartido com o cliente, o banco se apropria integralmente dessa economia só para ele, a vantagem é só dele, as tarifas não param de subir e as comissões pela gestão de fundos são absurdas, cortam gente e ficam com o dinheiro da folha, mas você continua pagando a folha integral de salários inexistentes.
E a incrível artilharia de anúncios tenta convencer o público de que é melhor ser digital. Mas melhor em que? Pagam cozinheiros, Pedro Andrade, Benício e mil e uma celebridades tentando vender a ideia de que é ótimo ser digital. Estão enchendo com isso e parecem todos os anúncios feitos pela mesma agência, operam em coro, é um anúncio atrás do outro.
O sonho de bancos e fundos é SER TOTALMENTE DIGITAL, não ter agências físicas, telefonistas, atendentes. O Pactual se orgulha de não ter nada, nem cartão, nem talão, nem telefone, nem café, nem banheiro, mas quem fica com o "savings", a economia de todos esses "nãos"? Não tem nada, mas na hora de cobrar a comissão, os "fees" parece que são antigos; as taxas e comissões não ficaram "moderninhas", continuam bem velhacas.
Que tal abolir o bancos e os fundos de investimento, um dia poderão ser inúteis, por que não? (Fonte: AQUI).
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A 'receita' é a seguinte: Todos são sôfregos, o sistema é imediatista. Agilidade é sinônimo de modernidade. O cliente aplaude o esquema: é isso o que ele quer. O dentista quer receber imediatamente seus honorários, não dentro de duas semanas, como às vezes ocorre nos EUA. Se o cliente resiste, é porque não é moderno o suficiente, e há mais modernos do que 'anacrônicos' no país, ok? Sem contar que de tempos em tempos os custos são barateados mediante programas de demissão voluntária ou aposentadoria incentivada. Ganhos de eficiência para a empresa e eficácia garantida para o Deus mercado. Enfim, o argumento definitivo: Entendam o nosso drama: Se não embarcarmos nessa 'receita', a concorrência vai nos esmagar, os analistas nos trucidarão, as cotações despencarão. E nós precisamos sobreviver, entende? 
E quanto à velharada anacrônica? Ora, ora, que se 'modernize', como aquelas simpáticas senhoras do comercial do Itaú.

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