quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A CORRUPÇÃO GLOBAL SEGUNDO WOLFGANG STREECK


".Corrupção é a grosseira violação da lei e o sistemático assalto à confiança do público - public trust - e às expectativas morais, em busca do sucesso e do enriquecimento pessoal ou institucional.
.Especialmente agora, quando se multiplicam as oportunidades de enriquecimento rápido no regime político neo-liberal.
.A corrupção é endêmica à 'financeirização' da Economia, onde se ganha muito dinheiro muito rápido, fazendo atalhos na lei, ou, simplesmente, infringindo a lei, como em operações de insider trading, refinanciamento de hipotecas, lavagem de dinheiro, e fixação artificial de taxas de juros e de câmbio.
(...)
.Na verdade, no regime de 'financeirização' da Economia a corrupção é uma forma de vida e já não provoca mais indignação.
.Só nos Estados Unidos, em 2014, os maiores bancos concordaram em pagar multas de US$ 100 bilhões em acordos fora da Justiça, por infrações cometidas na crise que levou à crise de 2008.
.Bancos europeus e americanos somados pagaram US$ 260 bilhões em multas por causa de 2008 e nenhum dos casos foi levado à Justiça.
(O Ministro da Justiça de Obama, Eric Holder, não processou nenhum banco e depois foi trabalhar em Wall Street…)
Uma das formas de corrupção é conhecida como de 'portas giratórias' - os funcionários públicos que vão trabalhar em empresas privadas e 'vendem' seus conhecimentos adquiridos no Governo aos novos empregadores.
Robert Rubin e Henry Paulsen, Ministros da Fazenda de Clinton e George Bush, vieram da Goldman Sachs e, quando saíram, continuaram prestando serviços a bancos (Rubin foi para o Citi).
(Em tempo: executivos da Goldman ocuparão diversos cargos do primeiro escalão do Governo Trump – PHA)
Larry Summers, vice e Ministro da Fazenda de Clinton, concebeu a desregulamentação do sistema bancário e depois foi dispensado do cargo de reitor da Universidade de Harvard, sob a suspeita de participar de operações de insider trading com ações de empresas russas (e só não foi presidente do Banco Central, indicado por Obama, porque não quis divulgar sua fortuna pessoal.)
Tony Blair, primeiro-ministro inglês, é 'conselheiro' de uma dezena de empresas – entre elas o banco americano JP Morgan - e o chanceler alemão Gerhard Schroder saiu do Governo para dirigir uma empresa russa de gás – cujo maior cliente é o consumidor… alemão!
Tem também a corrupção no Esporte.
(...)
Sir Sebastian Cole é presidente da infamemente corrupta Federação Internacional de Atletas, representante da Nike, e negocia direitos de transmissão de eventos.
(...)
E a corrupção privada?
A Volkswagen fraudou o sistema de controle de poluição dos carros a diesel, para aplicar mais recursos no marketing.
A generalizada corrupção passou a ser considerada um “fato da vida” (menos quando atinge petistas… - PHA), porque no regime neoliberal é “um fato da vida”, rotineiro, converter a confiança pública – public trust – em dinheiro privado.
É natural o super-rico ficar ainda mais rico.
E instala-se o generalizado cinismo."



(Do economista alemão Wolfgang Streeck, autor de "How Will Capitalism End", em post publicado no site Conversa Afiada, sobre a falência de tal modelo em face da mentalidade neoliberal reinante - sendo que não se tem ideia sobre que modelo o substituirá. O livro citado foi descrito por Paulo Henrique Amorim no post "A desigualdade aumenta e o Capitalismo vai acabar" - AQUI. As observações, como frisa Paulo Henrique, estão reproduzidas de forma não literal).

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