terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A LAVA JATO E A ECONOMIA BRASILEIRA


Como a Lava Jato está travando a economia

Por André Araújo

Diz o maior jornal da Espanha, EL PAÍS, (em recente edição). Olhando de fora e de longe o jornal viu aquilo que aqui muitos se recusam a ver, especialmente aqueles que não têm qualquer risco de desemprego. A paralisia dos projetos de infraestrutura é a tônica do jornal, como sempre muito bem informado. A loucura na ânsia punitiva de um "comitê de salvação pública" acabar com grandes construtoras e agora bancos, estaleiros, toda a cadeia de óleo e gás, como se isso fosse necessário como efeito colateral de uma campanha de justiciamento, vai causar ao País um prejuízo infinitamente maior que a corrupção que visa debelar. Como será que não percebem isso que está na cara de todos?  A explicação " Miriam Leitão", que depois do processo teremos um País melhor, é própria de um completo desconhecimento do mundo real. Empresas de grande porte são resultado de 50 ou mais anos de formação, não se criam novas rapidamente, é processo longo, de gerações, nos escombros das atuais não virão em curto prazo novas.

É uma visão de Poliana, tudo cor de rosa, fora da realidade factual, a desagregação de equipes de construtoras não se repara da noite para o dia, cada engenheiro dispensado vai cuidar de vida de forma diferente, não se rejuntam numa nova empresa, esse é o mundo real e não o mundo dos sonhos de idealistas que desconhecem a realidade econômica.

A desmontagem do setor de infraestrutura do País, um dos maiores do mundo, é o tema da reportagem de EL PAIS.

Lamentavelmente tenho visto entre amigos bem intencionados essa visão de "temos que fazer justiça" prendendo esses corruptos, mas não são capazes de medir efeitos colaterais que não são tão claros para quem não domina uma visão de conjunto da economia. Grande parte da culpa é da mídia, ao dar ênfase a aspectos midiáticos e não a consequências.

(Recentemente, os) formadores de opinião da GLOBONEWS, liderados por  Renata Lo Prete e Merval Pereira, no Jornal das Dez, estavam em êxtase com uma longa reportagem sobre a transferência de prisão de André Esteves em filmagem ao vivo tirada por helicóptero; o grupo estava EUFÓRICO, rindo e trocando graçolas, estavam delirando com o cortejo de carros, muitos, com pessoal fortemente armado como se fossem combater o ISIS,  para levar Esteves da carceragem da PF para o Presídio Ari Franco, um verdadeiro esquadrão de combate para dar efeito televisivo máximo, a turma da GLOBONEWS, Merval de pé, coisa rara, não continha a alegria, como se estivessem inebriados por champagne Taittinger, ainda maior porque o STF negou Habeas Corpus a Esteves. NENHUM, absolutamente nenhum comentário, entre tantos jornalistas experientes, sobre os efeitos dessa prisão sobre o banco BTG, sobre os demais bancos, sobre o investimento estrangeiro e a visão exterior do Brasil.
  
A prisão de Esteves saiu em artigos longos em toda a imprensa econômica mundial, no Financial Times foi matéria de primeira página, no WSJ (nota deste blog: Wall Street Journal) idem; por que o pessoal da Globonews não se estendeu sobre isso ao invés de comentar a cor da camisa e da calça do Esteves entrando no Instituto Médico Legal?

Medíocres e limitados, o que está em jogo é muito mais do que a pessoa do Esteves, é o futuro do País. (Fonte: aqui).

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A abordagem acima suscitou críticas ao articulista, que estaria a pregar certa leniência relativamente ao tratamento a conferir aos implicados no lamaçal da corrupção. Como acompanho regularmente as análises de sua autoria, sei que o propósito que o move é o da defesa dos interesses econômicos do Brasil, os quais são fortemente afetados pela espetacularização midiática - como se não bastasse o fato de a própria condução da Lava Jato, que diz respeito à principal empresa pública nacional - movimentadora de parcela significativa do PIB e vítima de contínua corrupção desde os anos 90 - estar prestes a completar dois anos (março de 2016). Não há sistema econômico capaz de resistir a tal realidade. 

De 2014 para cá, o PIB do Brasil sofreu redução de 5,8%, significando que a "queda do Brasil é a mais forte e mais longa entre economias globais", conforme se vê AQUI.

Diante da crise global sobre 'commodities' e das repercussões da Lava Jato, nenhuma estranheza.  

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