'Me pediram pra deixar de lado toda a tristeza, pra só trazer alegrias e não falar de pobreza. E mais, prometeram que se eu cantasse feliz, agradava com certeza. Eu que não posso enganar, misturo tudo o que vivo. Canto sem competidor, partindo da natureza do lugar onde nasci. Faço versos com clareza, à rima, belo e tristeza. Não separo dor de amor. Deixo claro que a firmeza do meu canto vem da certeza que tenho de que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza foi que me fez cantador [escritor]'.
Durante os últimos meses, neste GGN, verificando as seriedades políticas, econômicas e sociais de meus pares, procurei dar uma aliviada, partindo para o humor, a cultura, em conteúdos e formas sempre galhofeiros e farofeiros, como aprendi a entender graças a Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna e Antônio Cândido, o povo brasileiro, em suas antropologia, sociologia e ciência política.
Fui de continuação do “Dominó de Botequim”, reaberto no céu com a morte do português Serafim e instalado Conselho Consultivo magistral. Pouca audiência. Vendo a situação política atual, arrependo-me não ter convidado o torturador e assassino coronel Brilhante Ustra, ídolo de Jair Bolsonaro.
Também insisti com as entrevistas fictícias e bem-humoradas de candidatos a cargos públicos. Querem alguém mais caricato do que Doriana Jr.? O “Desfile de Estrelas”, lembram? Mais uma vez, foi baixo o índice f. Reuni Nestor, Pestana e os amigos do Pi π, e nada, mesmo com o patrocínio de Mr. Mark.
Apenas estava covarde e não queria me lembrar do que passei entre 1964 e 1985. Muito menos dos amigos dos movimentos estudantis e operários, torturados, sumidos ou mortos. Conheceram-nos ou os bons empregos os obnubilaram? Fodam-se, né?
Enraiveci quando vi a possibilidade de isso voltar, estando eu aqui ou não. Tanto faz. Então, esqueçam minhas letras meigas, engraçadas, apenas espero que ao elegerem esse ogro, que esfregou em suas caras declarações e demonstrações antidemocráticas, e nada fez em seus mandatos saibam que ele fará o Brasil voltar à ditadura e falta de liberdade de expressão, perseguição a mim e aos que estão a meu lado.
Tenho sido ameaçado pelo que escrevo através das redes sociais, pois não me escondo em heterônimos e me declaro publicamente. Não tenho medo da burrice. Teria alguns deles tivessem lido o básico livro das misses “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry. Nem isso, pelo menos poderiam ser misses em corpos perfeitos. Mas nem isso, bostas frotenses e pascoais.
Tenham certeza do que fazem ao eleger Jair Bolsonaro. Se estiverem trazendo a ditadura de volta será melhor do que um ignorante que não resiste a discutir suas ideias em um debate. Foge, se esconde, por quê? Tudo bem para vocês a quem continuarei enfiando minha fé e cega faca amolada.
Venham me calar. Espero-os. Escrevo publicamente, nome e endereços explícitos. Toda a minha, talvez fraca reação, será para honrar todos os que tombaram na luta pela democracia, pobres e não-cidadãos. Serei Nordeste, como são Alceu, Chico César, Miguel Nicolelis, e o assassinado Moa do Katendê, irmãos de fé.
Assim, quem me espera meigo, serei assassino a esfregar na face cruel de vocês o meu ódio. Vocês mataram brasileiros meus amigos, escapei por pouco, então, se não entendem o grave momento que passamos e nos trará as maiores traições à democracia, me esqueçam, pois escrevo com o ódio que habita meu fígado e assim continuarei até a morte."
(De Rui Daher, post intitulado "Porque o fígado resolveu falar", publicado no GGN - Aqui.
As fakenews brilharam intensa e impunemente no WhatsApp. Queríamos o quê?)
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