quarta-feira, 30 de setembro de 2020
ELES DISSERAM E/OU CANTARAM
ENTRE A UTOPIA E A DISTOPIA: 'O DILEMA DAS REDES' ESQUECE DO PRINCIPAL DILEMA DO CAPITALISMO
"...o dilema é outro, e ainda não abordado por qualquer documentário desse verdadeiro subgênero que surgiu após os escândalos da Cambridge Analytica: a contradição entre transformar um bem de interesse público (comunicação, conhecimento, informação) em produto de interesse privado – o lucro. Esse é o dilema da própria natureza do capitalismo, que nenhuma política de transparência ou compliance irá resolver." / (Este artigo guarda relação com "'The Boys' e 'O Dilema Das Redes': Esquerda Precisa De Hackers E 'Artivistas' [Ou O Esdrúxulo Indecline]" - Aqui).
Por Wilson Ferreira
“O Dilema das Redes” (The Social Dilemma, 2020) chega à Netflix na trilha de uma série de produções sobre a manipulação mercadológica e política dos dados de usuários das mídias sociais, desde a controvertida vitória eleitoral de Trump em 2016. Mas traz uma novidade: entrevista os primeiros executivos de Bigtechs como Twitter, Facebook e Instagram. Envergonhados, tentam explicar como projetos tão altruístas deram tão errado, como o botão do “Curtir” que pretendia “espalhar positividade pelo mundo”. O documentário tenta apresentar o “dilema” que dá título à produção: as redes e aplicativos simultaneamente entre utopias e distopias. Porém, não consegue enxergar o principal dilema que tem a ver com própria natureza do Capitalismo: bens de interesse público (comunicação, conhecimento, informação) apropriados como produtos de interesse privado – o lucro.
O documentário O Dilema das Redes (The Social Dilemma, 2020) abre com uma sinistra citação de Sófocles: “Nada tão grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”. Esta frase certamente inspirou o urbanista e filósofo francês Paul Virilio – para ele, toda nova tecnologia produz o seu acidente; “o progresso e a catástrofe são anverso e reverso da mesma moeda”, afirma no documentário de Stéphane Paoli, Paul Virilio: Pensar a Velocidade (2009) – clique aqui.
E esse “acidente” ou “maldição” proveniente de algo tão vasto que entrou em nossas vidas somente poderia ter sido provocado pela digitalização multimídia das conexões humanas através da WWW – a World Wide Web.
Nas suas origens, a digitalização surgiu como mera ferramenta para aumentar a produtividade. Editores de texto, programas de computação gráfica, diagramação e edição de imagens vetoriais revolucionaram a produção de conteúdos midiáticos, impressos ou audiovisuais.
Mas essa revolução foi muito além: de aplicativos evoluiu para plataformas que forçaram a convergência não apenas das mídias, mas das próprias conexões e interações humanas em ambiente digitais – a ferramenta virou “cibercultura”, algo mais insidioso, envolvente e invasivo.
“Nunca antes na História 50 designers tomaram decisões que tivessem impacto em dois bilhões de pessoas”, afirma no documentário Tristan Harris, ex-especialista em Designer de Ética do Google.
O Dilema Social vem na esteira de uma série de produções que repercutiram o escândalo da coleta de dados do Facebook-Cambridge Analytica a partir de 2014, envolvidos no Brexit e a campanha vitoriosa de Donald Trump – o filme Brexit (2019) e documentários como Privacidade Hackeada (2019), The Cleaners (2018), Sujeito a Termos e Condições (2013) etc.
Mas a principal vantagem é que O Dilema Social traz entrevistas com os primeiros executivos das bigtechs como Twitter, Instagram, Pinterest e Facebook. Quando começamos a ver essas entrevistas percebemos que ao contar suas histórias ficam visivelmente envergonhados e desconfortáveis diante das câmeras. O tom é confessional, como se estivessem pedindo desculpas por ideias que supostamente eram bem-intencionadas.
Como, por exemplo, a fala de Justin Rosenstein, o inventor do recurso mais onipresente do Facebook: o botão “curtir”. Timidamente, diz que a intenção era “espalhar positividade pelo mundo” – o que pode haver de errado em permitir que seus amigos curtam algo que você postou?
A consequência é que as pessoas se deprimem ao não receberem curtidas, alterando o padrão de comportamento para receberem aprovação – o que resulta na compulsão e viciosidade (impulsionada por problemas de reconhecimento e autoestima), criando a chamada “Economia da Atenção”.
O documentário revela toda a ciência cognitivo-comportamental por trás das ambições altruístas – as estratégias de “extração de atenção”: como essas empresas exploram a necessidade evolutiva cerebral por conexão pessoal.
“Se o produto é gratuito, então você é o produto!”, alerta Tristan Harris.
Multiplique tudo isso numa terra sem regulamentação como a Internet e teremos o impacto político: democracias que podem ser derrubadas em questão de meses quando o produto “atenção” se transforma em dados disponíveis para articulação de golpes políticos.
O Documentário
O Dilema Social pode ser dividido claramente em duas partes: a descrição dos mecanismos da economia da atenção baseada em pesquisas neurocognitivas e comportamentais da Universidade de Stanford; e como a perniciosidade das plataformas não é um bug, mas o recurso principal – isto é, extremistas de direita não hackeiam o Facebook, simplesmente se utilizam da plataforma social para criar polarizações e derrubar governos democraticamente eleitos pelo planeta.
O fio condutor é uma reencenação dramática sobre os perigos da mídia social, protagonizada por Skye (Skyler Gisondo) interpretando um adolescente viciado compulsivamente por dispositivos móveis. Como as relações com seus familiares vão se deteriorando até ser seduzido pela desinformação extremista.
Fica claro como o público se torna incapaz de absorver qualquer narrativa da velha mídia que requeira atenção contínua sem o “reforço positivo intermitente” do botão “curtir” para clicar. Em detalhes é descrito como o tempo de atenção ou como o gestual do clique e o desenrolar da time line com o polegar deslizando na tela touchscreen foram cientificamente projetados pelos primeiros designers, apoiados em dados científicos cognitivo-comportamentais.
A atualização do neuromarketing do velho princípio do “reforço positivo” do psicólogo russo Pavlov nas suas experiências com cães em laboratórios na década de 1930.
A primeira parte de O Dilema Social mostra amplos dados que apontam para o aumento da ansiedade, depressão e suicídios, coincidindo com a hegemonia das redes sociais e telefones celulares, especialmente entre adolescentes e estudantes do ensino médio.
O documentário mostra que a maioria das pessoas está ciente de que estão sendo exploradas em busca de dados, enquanto permanecem nessas plataformas. Porém, poucos percebem o quão profundo é a extração desses dados. O negócio não se limita apenas a busca por atenção e cliques para um anúncio, p. ex., do tênis favorito – esse é apenas um álibi para a prospecção de algo mais valioso e invasivo: o usuário como produto, seu próprio conteúdo gerado como índices de atitudes, comportamento, hábitos e ideologia política. Que se sedimentam em perfis psicométricos, a pedra filosofal para fins mercadológicos e políticos. A coleta de dados vendidos para aqueles que derem o lance mais alto.
A professora e pesquisadora Shoshana Zuboff se refere a esse mercado de dados como “ativos humanos” – assim como é o mercado negro de órgãos humanos ou de escravos.
Informação gera desinformação
A chamada Era da Informação caminha rapidamente para a Era da Desinformação, como argumenta um velho conhecido desse Cinegnose, o engenheiro computacional e criador do conceito de Realidade Virtual, Jaron Lanier – crítico de primeira hora do Vale do Silício, mesmo sendo um dos pioneiros.
Entusiasta dos tempos da Web 1.0 (a utopia da “inteligência coletiva”), sintetiza a anomalia criada pelo esquema de monetização da economia de extração da atenção:
Um dos argumentos que uso para explicar quão errada é a linha do tempo de sites como o Facebook, é usando a Wikipédia. Todas as pessoas veem as mesmas informações quando acessam. É um dos poucos sites que funcionam assim.
Agora imagine que a Wikipédia dissesse: "Vamos mostrar a cada pessoa uma definição personalizada e seremos pagos para fazer isso."
Então, a Wikipédia espionaria você, faria cálculos, como: "O que posso fazer para incentivar aquela pessoa a mudar um pouco para beneficiar determinado interesse comercial?" Então, ela mudaria a definição. Consegue imaginar? Pode acreditar, porque é o que acontece no Facebook.
A partir disso, fica fácil imaginar as consequências políticas exponenciais desse neo-solipsismo criado pela desinformação em bolha virtual: a desestabilização de qualquer governo em qualquer parte do mundo. O documentário dá o exemplo de Myanmar. Num país onde Internet é sinônimo de Facebook (os celulares já saem da loja com o perfil do usuário configurado na plataforma), facilmente foi instigado o discurso de ódio contra muçulmanos, dando aos militares uma nova maneira de manipular a opinião pública. (Nota deste Blog: Solipsismo = concepção filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. Veja mais Aqui).
O resultado foi assassinatos em massa, incêndios de vilarejos inteiros e estupros em massa.
O Dilema das Redes mostra como é possível desestabilizar um governo democraticamente eleito em questão de meses ou intervir nas próprias eleições, chegando “as eleições no Brasil fora do comum” que levou à vitória de Bolsonaro – seguindo o mesmo modelo de Trump, nos EUA.
O diagnóstico do documentário é perfeito. Porém, o espectador deve relativizar essa mea culpacoletiva feita por esses ex-CEOS das gigantes tecnológicas – muitos deles saíram ricos dessas empresas e continuam otimistas e com ambições altruístas.
Para começar, o próprio título do documentário: a mídia social e aplicativos ofereceriam simultaneamente utopias e distopias.
A conclusão é que as bigtechs praticariam um “modelo de negócio corrosivo”. Propõem coisas como, por exemplo, taxar os “ativos de dados” das empresas de mídia, “design ético” (seja lá o que for isso...), regras mais simples e claras etc.
Porém, o dilema é outro, e ainda não abordado por qualquer documentário desse verdadeiro subgênero que surgiu após os escândalos da Cambridge Analytica: a contradição entre transformar um bem de interesse público (comunicação, conhecimento, informação) em produto de interesse privado – o lucro.
Esse é o dilema da própria natureza do capitalismo, que nenhuma política de transparência ou compliance irá resolver.
Como demonstrou a crise da Nasdaq em 2000 e o fim da utopia da Web 1.0, no capitalismo o interesse público não se paga, não se sustenta, a não ser que se transforme em mercadoria com interesse privado.
Além do que, as Bigtechs possuem um secreto interesse em fazer vistas grossas à utilização das suas plataformas pelo extremismo político: Afinal, os governos de extrema-direita que assumem as democracias destruídas sempre adotam a agenda neoliberal que, em última instância, sempre beneficia o esquema de negócios das gigantes tecnológicas. - (Fonte: Cinegnose - Aqui).
Ficha Técnica |
Título: O Dilema das Redes (documentário) |
Diretor: Jeff Orlowski |
Roteiro:Davis Coombe, Vickie Curtis |
Elenco: Skyler Gisondo, Barbara Gehring, Chris Grundy |
Produção: Exposure Labs, Argent Pictures, |
Distribuição: Netflix |
Ano: 2020 |
País: EUA |
ENQUANTO ISSO NA METRÓPOLE
O MAIOR DE TODOS OS ULTRAJES: TRUMP RECEBEU US$ 73 MILHÕES DE RESTITUIÇÃO DE IR
Por causa de reportagens anteriores, incluindo alguns artigos importantes do Times em outubro de 2016 e maio de 2019, bem como contribuições de biógrafos de Trump, como David Cay Johnston, sabemos, há muito tempo, que o presidente faz de tudo para escapar dos impostos. Entre 1984 e 2004, ele usou perdas reais, reduções de perdas de anos anteriores e outros desvios contábeis para pagar virtualmente nada em impostos de renda federais. De 2005 a 2007, revela este último furo do Times, ele finalmente pagou cerca de setenta milhões de dólares à Receita Federal. Mas então, em 2010, ele exigiu o reembolso total desses pagamentos de impostos. E o IRS [a Receita Federal dos EUA] acedeu ao seu pedido: pagou-lhe US$ 72,9 milhões, incluindo juros. Esta restituição de 2010 parece estar no centro de uma disputa de auditoria entre Trump e as autoridades fiscais que se arrasta por quase uma década. Também parece ser o dinheiro a que Michael Cohen, o ex-advogado pessoal de Trump, estava se referindo em seu depoimento de 2019 ao Congresso, quando se lembrou de Trump mostrando a ele um enorme cheque do Tesouro dos EUA e comentou que Trump "não conseguia acreditar o quanto o governo era estúpido por dar a alguém como ele tanto dinheiro de volta.”
Como uma pessoa que não paga impostos pode ter um grande reembolso? Como sempre com Trump, os detalhes de suas peripécias financeiras são um pouco complicados, mas o esboço básico é bastante fácil de entender. Ele odeia pagar impostos. Para evitar isso, ele recorrerá a praticamente qualquer coisa - e isso inclui explorar seus muitos negócios falidos.
No final da década de oitenta e início da década de noventa, os negócios de Trump, alguns dos quais ele havia pago muito caro quando os comprou, acumularam perdas de mais de um bilhão de dólares, e quatro deles acabaram entrando em processo de falência: três cassinos em Atlantic City e seu Plaza Hotel, em Nova York. Em 1995, ao sair desses destroços, ele declarou prejuízo fiscal de mais de novecentos milhões de dólares, que o IRS permitiu que ele usasse nos anos subsequentes como compensação de quaisquer lucros que seus negócios tivessem. Portanto, mesmo nos anos em que a Trump Organization teve um bom desempenho, suas perdas acumuladas reduziram sua conta de impostos a zero.
De acordo com a nova investigação do Times, esse padrão básico de pesadas perdas em partes do império Trump, compensando ganhos substanciais em outras partes dele, continuou na última década e meia. Desde 2000, por exemplo, os quinze campos de golfe de Trump juntos geraram perdas de $ 315,6 milhões, mesmo com outras empresas Trump - incluindo a Trump Tower, acordos de licenciamento no exterior e um investimento em duas torres de escritórios operadas pela Vornado Realty Trust - gerando receitas substanciais. Em 2011, 2012, 2013 e 2014, Trump não pagou nenhum imposto de renda federal. Em 2016 e 2017 combinados, ele contribuiu o suficiente para o Tesouro dos EUA para comprar uma nova poltrona de amor da Pottery Barn.
As únicas exceções notáveis a esse padrão de pagamentos de impostos mínimos foram os anos de 2005, 2006 e 2007, quando "O Aprendiz", que Trump coproduziu com a NBC, estava indo muito bem, e o grande prejuízo contábil que ele transportou dos anos noventa tinha acabado. “Sem perdas do ano anterior para reduzir sua renda tributável, ele pagou impostos de renda federais substanciais pela primeira vez na vida: um total de US $ 70,1 milhões”, diz o relatório do Times. Esse dinheiro não ficou muito tempo nos cofres do governo dos Estados Unidos.
Em 2010, Trump declarou ao IRS que, durante 2008 e 2009, seus negócios haviam perdido outros US$ 1,4 bilhão. Explorando uma cláusula pouco notada em um texto legislativo que Barack Obama sancionou como parte dos esforços para estimular a economia após a Grande Recessão, Trump afirmou que essa enorme perda lhe deu direito a uma restituição total do imposto de renda que tinha pago em 2005, 2006 e 2007. O IRS rapidamente pagou a reclamação de Trump enquanto se aguardava uma auditoria. O reembolso “acabaria crescendo para US$ 70,1 milhões, mais US$ 2.733.184 em juros”, relata o Times. “Ele também recebeu US$ 21,2 milhões em reembolsos estaduais e locais, que muitas vezes vêm junto com os processos federais.
Trump nunca teve falta de audácia. Em algum momento, porém, alguém do departamento de auditoria do IRS parece ter decidido que essa última manobra estava fora dos limites. De acordo com a legislação tributária, reembolsos de mais de dois milhões de dólares exigem a aprovação do Comitê Conjunto de Tributação do Congresso, que também foi envolvido. Em 2014, um acordo entre Trump e o IRS parecia ter sido alcançado, “mas a auditoria foi retomada e cresceu para incluir os reembolsos do Sr. Trump de 2010 a 2013”, diz o relatório do Times. “Na primavera de 2016, com o Sr. Trump se aproximando da indicação republicana, o caso foi enviado de volta ao comitê [do congresso]. Permaneceu lá, sem solução, com a prescrição repetidamente sendo empurrada para a frente.”
Não está claro por que a disputa se arrasta por tanto tempo, mas o Times destaca uma possibilidade intrigante. Em 2009, Trump finalmente desistiu da propriedade de seus cassinos financeiramente afetados em Atlantic City, que haviam entrado novamente em falência. No mesmo ano, suas declarações de impostos incluíram “uma declaração de mais de US$ 700 milhões em prejuízos comerciais que ele não teve permissão para usar em anos anteriores”, diz o Times. Os proprietários que abandonam os negócios deficitários podem reivindicar parte dos prejuízos em que incorreram para fins fiscais, mas devem desistir totalmente dos negócios e não receber nada de valor em troca. Trump conseguiu algo. Quando o Trump Entertainment Resorts foi reestruturado e colocado sob nova propriedade, ele recebeu 5% das ações da empresa sucessora. “Os materiais analisados pelo Times não deixam claro se o pedido de reembolso do Sr. Trump refletiu sua declaração pública de abandono”, diz o relatório. “Se assim fosse, aqueles 5 por cento poderiam colocar todo o seu reembolso em questão.”
Incluindo os juros acumulados desde 2010, poderia custar a Trump cerca de cem milhões de dólares para reembolsar o IRS, calcula o Times. Se ele fosse um bilionário genuíno, poderia levantar essa quantia sem muitos problemas. Mas, dadas as evidências de que muitos de seus negócios, incluindo o Trump International Hotel em Washington, DC, parecem ter perdas substanciais, ele poderia pagar cem milhões de dólares?
Os negócios de Trump “relataram um caixa disponível de US$ 34,7 milhões em 2018, queda de 40% em relação a cinco anos antes”, diz a reportagem do Times. Em teoria, ele poderia tomar outro empréstimo bancário para pagar uma grande conta de impostos. Durante a última década, porém, ele já fez muitos empréstimos. O New York Times diz: “nesse momento, ele é pessoalmente responsável por empréstimos e outras dívidas que totalizam US$ 421 milhões, com a maior parte vencendo em quatro anos. Caso ele ganhe a reeleição, seus credores podem ser colocados em uma posição sem precedentes de executar hipotecas e retomar imóveis de um presidente em exercício.”
Caso Trump perca a eleição, o que as pesquisas de opinião sugerem ser o resultado mais provável, ele terá de lidar com o IRS e seus credores bancários como um cidadão privado. Será este, talvez, um dos motivos pelos quais ele não se compromete a aceitar o resultado da eleição e a deixar a Casa Branca sem protestar se o resultado for contrário a ele?
Aconteça o que acontecer em 3 de novembro, a história do Times confirma que Trump joga contra o IRS há décadas. Mostra também que, na estrutura tributária dos Estados Unidos, existe um conjunto de regras para a maioria e outro para os muito ricos. Um trapaceiro de confiança desde o início, Trump explorou essa configuração para desnudar o Tesouro dos EUA, enriquecer-se e zombar de todo o sistema. Se algo de bom resulta de tudo isso, é que os argumentos para reformas significativas das leis tributárias e uma aplicação mais rígida estão agora mais fortes do que nunca. Claro, Trump terá que, pelo voto, ser colocado para fora do cargo para que a mudança aconteça. - (Aqui).
*Publicado originalmente em 'The New Yorker' | Tradução de César Locatelli
terça-feira, 29 de setembro de 2020
ELEIÇÕES AMERICANAS: O PRIMEIRO DEBATE
R J Matson. (EUA).
ELES DISSERAM E/OU CANTARAM
'PASSANDO A BOIADA': SALLES ACABA COM PROTEÇÃO A RESERVAS AMBIENTAIS
O Ministro do Meio Ambiente (queremos dizer, Contra o Meio Ambiente) tenta dar seguimento ao desmonte ambiental. Com a palavra o Supremo (Aqui).
('Vamos aproveitar para passar a boiada!')
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, aprovou nesta segunda-feira (28) a extinção de duas resoluções que definiam áreas de proteção permanente de manguezais e de restingas do litoral brasileiro, de acordo com o Estado de S. Paulo.
Com a revogação, o caminho fica aberto a especulações imobiliárias nas faixas de vegetação de praias e para a ocupação de áreas de mangues para produção de camarão. Foi anulada também uma resolução que marcava como obrigatório o licenciamento ambiental para projetos de irrigação.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), presidido por Salles, aprovou ainda a queima de materiais de embalagens e restos de agrotóxicos em fornos industriais para serem transformados em cimento.
Os deputados federais Nilto Tatto, Enio Jose Verri e Gleisi Hoffmann, da bancada do PT, entraram com uma ação popular nesta segunda-feira (junto ao STF) contra o desmonte do meio ambiente*. - (Aqui).
................
* = Em seguida, outros parlamentares também recorreram ao Supremo.
PRIORIDADE AMBIENTAL
FINDA A VIAGEM, QUE PERIGOS ENFRENTAMOS AO DESEMBARCAR NO PLANETA COVID?
(Mapa global de casos covid-19 em 27 set - Univ. Johns Hopkins)
Por Salvador Nogueira
Um voo até Marte leva seis meses e meio. É também o tempo aproximado desde que iniciamos os protocolos de isolamento em razão da pandemia. E agora, vendo nosso destino pela janela, já é hora de começar a pensar sobre procedimentos de desembarque. Não fomos a Marte, mas certamente, depois desses seis meses, estamos todos nós chegando a outro planeta.
Antes de mais nada, que fique claro: não defendo aqui o fim do isolamento e o início do oba-oba. Da mesma forma que um grupo de astronautas, ao ir a Marte, não encerra sua clausura ao chegar ao planeta vermelho – meramente ganha um pouco mais de liberdade para transitar um pouco além dos limites de sua nave –, o mesmo se dá com a gente aqui. Lidar com a pandemia é um processo de administração de riscos – individuais e coletivos.
A gestão do risco coletivo é feita (ou não) pela administração pública e consiste (ou deveria consistir, mas não consiste, no caso federal) em promover medidas para reduzir a capacidade do vírus de se espalhar e não permitir o colapso do sistema de saúde.
E quanto ao risco individual? É possível jogarmos luz sobre essa questão, a fim de informar nossas próprias escolhas nas próximas semanas e meses? Cada pessoa está sob fatores e circunstâncias diferentes, o que impede cálculos exatos. Mas uma conta de verso do envelope fornece um palpite informado a respeito. Coisa simples, de ordem de grandeza.
Dado que, dos que se contaminam com o SARS-CoV-2, morrem cerca de 0,5%; a média móvel de mortes na capital paulista está ao redor de 30 por dia; e cada novo contaminado pode passar uns 10 dias contagioso; dá para estimar que há cerca de 60 mil pessoas circulando na capital com a capacidade de transmitir o vírus – 1 em 200.
Ou seja, a chance de um lojista qualquer estar contagioso quando você entra na loja dele hoje é de modestos 0,5%. Se você estiver de máscara, ele estiver de máscara, a interação for rápida, vocês mantiverem distância e não houver mais ninguém na loja, não é maluco pensar que o risco de contágio pode ser derrubado por um fator 10, para 0,05%. Em termos individuais, nada que apavore. Mas calma.
Refaça as contas para um ambiente fechado, com 50 pessoas, respirando o mesmo ar durante mais de uma hora. A chance de ao menos uma pessoa ali estar contagiosa sobe para 25%, e o fato de não haver boa circulação de ar sugere que ela poderá contaminar muita gente – digamos, 20% dos presentes. A chance de você contrair o vírus numa “festa do Fux” em São Paulo hoje é de 5% – nada negligenciável.
Agora, termine pensando nas escolas. Os frequentadores serão expostos a múltiplas “festas do Fux” por semana. Mesmo em classes com apenas 10 alunos, a cada 20 dias deve passar por cada uma delas ao menos um potencial transmissor do vírus.
É verdade que crianças ficam menos doentes. Mas e quanto a parentes, professores e funcionários? Trata-se de um risco individual inaceitável para todos eles – para tentar salvar um mês ou dois de aulas, depois de perdidos seis, e com uma potencial vacina no horizonte para o ano que vem. Vale o risco? Acho que não. - (Fonte: Folha - Aqui).
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
ELES CANTARAM E/OU DISSERAM
DEPOIS DA PRIMEIRA VACINA, RÚSSIA PARTE PARA NOVA INICIATIVA CONTRA A COVID-19
Cientistas Russos Encontram Nova Forma De Tratamento Para Casos Graves De Covid-19
(Russos Partem Para Nova Iniciativa)
De acordo com os especialistas do Instituto de Pesquisa de Medicina de Emergência Dzhanelidze, de São Petersburgo, a COVID-19 pode ser tratada de maneira similar aos casos de intoxicação por hemotoxinas, substâncias que destroem os glóbulos vermelhos do sangue, informou o jornal russo Izvestia.
Uma hipótese citada anteriormente por cientistas chineses sugere que o coronavírus tem um efeito hemotóxico. Segundo a teoria, o vírus afeta as células do sistema imunológico, deslocando os átomos de ferro bivalente das moléculas de hemoglobina, detalhou a mídia.
Estes átomos de ferro livres ingressam na corrente sanguínea, provocando danos nas paredes dos vasos sanguíneos e dando início à formação de coágulos. Este processo conduz a danos múltiplos nos órgãos.
Processos patológicos similares podem ser observados em pacientes com intoxicações agudas com venenos hemolíticos, os quais provocam a destruição das hemácias, células que transportam o oxigênio, o que também faz com que o ferro livre ingresse no sangue.
Um excesso de ferro livre provoca uma diminuição do teor de oxigênio nos tecidos, algo que é observado em pacientes com COVID-19 em estado crítico. Por isso, os cientistas sugerem que seja possível tratar a infecção da mesma forma que é tratado o envenenamento com hemotoxinas.
De acordo com especialistas consultados pelo jornal Izvestia, a terapia para limpar o corpo do ferro livre pode ser incluída no conjunto de medidas para tratar os doentes de COVID-19, mas não pode ser usada como um tratamento independente.
Por outro lado, levando em consideração que a Organização Mundial da Saúde prevê um aumento na mortalidade da pandemia de coronavírus, qualquer método que possa salvar a vida dos pacientes deve ser estudado e experimentado, afirmam os especialistas.
Uma equipe de cientistas russos sugeriu tratar os pacientes gravemente afetados pelo coronavírus SARS-Cov-2 da mesma maneira que são tratados alguns casos de intoxicação.
De acordo com os especialistas do Instituto de Pesquisa de Medicina de Emergência Dzhanelidze, de São Petersburgo, a COVID-19 pode ser tratada de maneira similar aos casos de intoxicação por hemotoxinas, substâncias que destroem os glóbulos vermelhos do sangue, informou o jornal russo Izvestia. - (Aqui).