De Botton no Twitter
Nada tenho a dizer sobre o fenômeno do Twitter. Não preciso de 140 caracteres para isso.
Cada um se diverte como pode. Eu prefiro ficar mexendo em sítios dos quais me apossei como um vilão dos velhos filmes do faroeste.
Aviso que não estou tentando ser diferente. Isso que está aí, este que está aqui, sou eu e eu sou obrigado a dormir, ou ter insônia, com um barulho desses que eu mesmo faço e de que sou feito.
Aprecio os que apreciam as redes ditas sociais. São almas tímidas e solitárias e, aos domingos, sentam-se num banco da praça e ficam espionando os casais de namorados.
Pronto. Aí está uma frase interessante. Mas não a tuitarei. Pelos motivos que, creio, já explicitei.
Gosto mesmo é de de coisas e pessoas, principalmente livros, com mais de 140 caracteres. Caráter, como prefiro chamar.
Para ficar no exemplo que dá título a estas digitações: Alain de Botton, um jovem (41 anos) suiço, muitíssimo bem educado no Reino Unido e sabe, quase que literalmente, tudo.
Que agradável surpresa foi tomar conhecimento e devorar seu primeiro livro a me cair nas mãos ávidas: Como Proust Pode Mudar Sua Vida. Esse todo mundo leu. Aqui, nos Estados Unidos, aí no Brasil.
Alguns fígados podres acharam que não passava de mera exploração metida a besta. Mera? Mais um livro da leva dessa praga da tal da “auto-ajuda” (auto-ajuda é a turma que fica no pit stop dos carrinhos que disputam Fórmula Um).
Absolutamente. Fascinante. Fiquei à espera de mais. Livros. Do De Botton. Que vieram vindo.
Sou franco: nem um deles mexeu comigo feito o do Proust. Nós, proustianos, somos exclusivos e esotéricos, embora, ocasionalmente, em meio a gabolices várias, podemos dar margem a um best seller, como foi o caso.
Veio depois, ao menos para este criado mudo de caractéres que a vós se dirige, AArquitetura da Felicidade. Umm. Estou pensando.
Tudo bonitinho, tudo no lugar, mas, depois de conferir e raciocinar por 15 segundos, cheguei à conclusão de que era auto-ajuda, era popularização e era tentativa de sacar em cima do sucesso anterior.
Passei, pois, a ignorá-lo. Daí ter me livrado das malhas de sua rede social.
Vejo agora no mais recente exemplar do secular semanário The Spectator (data de 1828) que ele é o diarista convidado. O Diary da revista é uma tradição. Sempre alguém interessante falando, em uma página (são bem mais que 140 caractéres), do que bem entender.
De Stephen Hawking a (acreditem) Joan Collins, que é, juro, ótima, engraçadíssima. Fui dar uma conferida, já que sou assinante há mais de três décadas da revista e leio de cabo a rabo.
De Botton fala disso e daquilo outro. Mas fala principalmente de si. Ele tuita, como tanta gente (boa?). E se promove.
Diz ele ter se viciado no Twitter e que o usa no espírito do Duc de la Rochefoucauld (googlai, internautas menos alertas, googlai), que adianto apenas ser o grande autor francês do Século 17, responsável pelo clássico Maxims.
De Botton acha tuitar mais divertido do que uma publicação tradicional. O moço diz ter uma idéia no banho e, dez segundos depois de dar vazão informática à sua inspiração, tem prontamente a reação de um leitorado que tanto pode chamá-lo de gênio quanto de débil mental.
Nada tenho a opinar. De Botton, após se confessar “irrepreensivelmente vaidoso” insiste em compartilhar com o público presente algumas de suas obras-primas (sim, está sendo irônico). Exemplifico citando-o:
“Há pessoas tão inusitadamente feias que nos sentimos inteligentes achando-as atraentes.”
“O problema dos náufragos é que, na verdade, não ocorrem tantos naufrágios assim.”
“A audácia dos conquistadores de meia-idade não é o excesso de confiança, mas sim o medo cada vez maior da morte.”
“Conduzir os destinos de um país é prova de que a pessoa tem de ser meio limitada para se convencer de que está à altura da tarefa.”
Atenção, eleitores de meu país, para esta última “obra-prima” do De Botton. Que encerra os trabalhos lamentando não ser possível viver de, como os chamam aqui, tweets.
Tweet, tweet, como gorgeiam, de peito cheio, os pássaros muito emplumados.