quarta-feira, 16 de março de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: JK E O APARTAMENTO


Tratado como ladrão, JK foi acusado de ser dono de imóvel em nome de amigo

De Mário Magalhães (Em seu blog, no UOL)

Depois de deixar a Presidência, Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi morar num apartamento novinho em folha na avenida Vieira Souto, Ipanema, o metro quadrado mais caro do país.
A empreiteira que ergueu o prédio havia tocado na região Sul uma obra concedida pela administração JK (1956-1961).
O projeto arquitetônico do prédio foi desenhado por Oscar Niemeyer, que nada cobrou pelo serviço.
Mais de uma vez o ex-presidente visitou as obras do apê que viria a ocupar.
Idem sua mulher, dona Sarah, que pediu numerosas alterações no projeto original.
Um mestre de obras foi afastado, devido a reclamações da antiga primeira-dama.
O imóvel era espaçoso. Jornais publicariam que tinha 1.400 metros quadrados, o que parece exagero. Mas nele JK chegou a discursar para centenas de pessoas.
Juscelino pagava um aluguel irrisório ou morava de graça - as versões variam.
O apartamento em frente ao mar estava em nome de uma empresa controlada pelo banqueiro Sebastião Pais de Almeida.
Multimilionário, o empresário era amigo de JK, em cujo governo havia sido ministro da Fazenda.
Em junho de 1964, a ditadura recém-instalada cassou o mandato de senador de Juscelino e suspendeu seus direitos políticos por dez anos.
O ex-presidente teve a vida devassada, investigado em inquéritos policiais militares.
As autoridades o acusaram de um sem-número de falcatruas, como se fosse um ladrão voraz.
A acusação de maior apelo entre os opositores do ex-governante era a de que, na verdade, o apartamento da Vieira Souto era de Juscelino.
Sem renda para justificar tamanha ostentação, o ex-presidente “corrupto'' teria preferido ocultar o patrimônio.
Portanto, Sebastião Pais de Almeida seria um laranja. Atípico, tal a sua fortuna, mas laranja.
Certa imprensa fez um Carnaval, chancelando as acusações da ditadura, como se vê em títulos de jornal reproduzidos neste post. (Clique no 'aqui' ao final, para ver).
Na Justiça comum, nem julgamento houve.
O procurador considerou não haver provas de que Juscelino fosse o dono do apartamento.
E enumerou provas de que o imóvel pertencia mesmo a Sebastião Pais de Almeida, que o emprestara ao amigo JK.
O juiz mandou arquivar o processo.
Dei com as notícias - onze, abaixo e acima - na apuração do meu próximo livro, sobre Carlos Lacerda (1914-1977), cujo triplex na praia do Flamengo foi alvo dos seus adversários.
Os recortes integram o acervo do velho SNI, Serviço Nacional de Informações, criado justamente em junho de 1964. Estão no Arquivo Nacional.
É certo que outras publicações jornalísticas trataram do apartamento onde a família Kubitschek vivia.
Mas eu reproduzo o que tenho à mão, a papelada sobre Juscelino selecionada pelos arapongas.
O nome do jornal que veiculou cada texto é identificado pelos burocratas do SNI na folha de papel onde os recortes foram colados.
Há um caso em que não se informa qual é o jornal.
E outro em que o título foi manuscrito.
Hoje, Juscelino Kubitschek é considerado grande brasileiro.
Dona Sarah dá nome à rede de hospitais de reabilitação.
Lula
A história do apartamento que não era de JK significa que o triplex do Guarujá não pertence ao ex-presidente Lula?
Não necessariamente.
Desconheço minúcias do inquérito e do processo sobre o petista.
Isso é com a polícia, o Ministério Público e a Justiça.
Sei é que, sem prova, pode se supor muita coisa.
Mas condenar por suposição não é fazer justiça.
Promiscuidade
Tanto no caso de JK quanto no de Lula há indícios de promiscuidade entre agentes públicos e privados.
Tal promiscuidade é condenável e faz mal ao Brasil.
Se é sempre crime ou não, são outros quinhentos. (Aqui).

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