sexta-feira, 20 de maio de 2022

FILHOS DO PROUNI: AS PESSOAS QUE MUDARAM DE VIDA PELA EDUCAÇÃO


Por Alessandro Fernandes (No DCM)

Bruna Oliveira é uma mulher negra e nutricionista da cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, Helen Christo mora em São Paulo e hoje é jornalista, assim como Pedro Marin, que atua na mídia alternativa; já Carlos Eduardo é psicólogo e reside na cidade de Fortaleza. Na pequena Barra Velha, uma cidade do litoral de Santa Catarina, Vanessa Ribeiro atua no setor de advocacia, enquanto que em Pelotas Elielton atua como fisioterapeuta há pouco mais de dez anos. Mas o que essas pessoas, de diferentes lugares, têm em comum? Todas foram beneficiárias do Programa Universidade Para Todos (ProUni), criado no ano de 2005 no então governo Lula e que tem o objetivo de financiar vagas em instituições de ensino privadas para alunos de baixa renda.

Segundo o banco de dados do Ministério da Educação, entre 2005, ano de criação do programa, e 2020, cerca de 2,8 milhões de pessoas foram atendidas pelo ProUni em todo o Brasil. Em meio aos números, estão as vidas de inúmeras pessoas que conseguiram chegar até à universidade e obtiveram um diploma de graduação, como é o caso das histórias dos profissionais que o DCM contará com exclusividade nesta reportagem.

Mesmo impactando inúmeras pessoas advindas da escola pública, a partir do segundo semestre deste ano, pessoas que tenham cursado o Ensino Médio em colégios privados também poderão concorrer a uma vaga no programa, desde que comprovem uma renda familiar de no máximo um salário-mínimo e meio para bolsas integrais e três salários mínimos para as parciais. A mudança foi feita através da Medida Provisória (MP) n° 1075, de 6 de dezembro do ano passado. Além disso, o número de bolsas ofertadas em 2021 foi 29,5% menor do que no ano anterior, voltando ao patamar de 2013, o que representa, consequentemente, uma dificuldade maior em acessar o ensino superior.

Para o professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG) Nelson Cardoso, “Essa é uma mentalidade que existe. Quem está no poder hoje no Brasil pensa desse jeito. O próprio ministro já disse que o ensino superior não é para todos e o que deveria ser expandido no Brasil é a educação profissional.”

Por outro lado, Bruna, Helen, Carlos Eduardo, Vanessa, Elielton e Pedro contam como chegaram até à universidade através do ProUni e o impacto do programa na vida de cada um.

Bruna, sobre o Prouni: "Não consigo imaginar como seria minha vida sem minha formação acadêmica"


Bruna Oliveira, conhecida como Bruna Crioula, tem 31 anos e é formada em nutrição pela Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Atualmente, ela é mestranda em Ciências Sociais e atua como nutricionista ecológica, comunicadora popular e pesquisadora alimentar.

Ela conta que teve conhecimento do Programa ainda no ensino fundamental, quando sonhava em entrar na universidade. “Meu encontro com o ProUni foi durante o ensino fundamental. Na época eu queria cursar Moda, um curso inexistente em universidades públicas. Minha família não tinha condições financeiras de arcar com as despesas de uma graduação e foi nessa busca que encontrei o Enem e o ProUni”.

Hoje, depois de ter sido beneficiária do programa, Bruna comenta que não consegue “imaginar” como seria  a vida dela sem a formação acadêmica. “Foi fundamental para que chegasse em lugares não planejados. O universo acadêmico é fértil para diferentes experiências que eu procurei viver da maneira mais intensa e comprometida possível. Não consigo imaginar como seria minha vida sem minha formação acadêmica.”, afirmou. “Não adquiri somente uma bagagem acadêmica, não acumulei apenas conhecimentos científicos. Por meio do meu ingresso no Ensino Superior eu ampliei meus horizontes para ser um sujeito político”, conclui.

Um dos principais problemas apontados pelos estudantes em relação ao ProUni é a dificuldade em acessar programas de assistência estudantil que possam garantir a permanência dos universitários nos ambientes acadêmicos, especialmente se for um curso em período integral, por exemplo. No entanto, Bruna diz que foi “beneficiária de todas as políticas de assistência estudantil oferecidas pela instituição. Foram graças a essas ações que eu conseguia me alimentar, me deslocar da minha casa até a universidade, assim como, passar por momentos de sobrecarga com acompanhamento psicológico”.

Mesmo assim, ela conta que o fato de ser mulher, empobrecida e negra foram fatores que a colocaram em situações difíceis. “Minhas dificuldades tinham relação com o meu lugar de fala e cosmopercepção de mundo. Enquanto uma jovem mulher negra, as opressões se adensam e se manifestam das formas mais inesperadas. A sociedade brasileira, especialmente as elites que ocupam esses espaços de formação, não estão acostumadas e nem desejam partilhar esses contextos com pessoas pobres e periféricas. Então, minha presença nos campus incomodava muita gente, entre alunos e professores.”

Apesar do preconceito relatado por Bruna, o número de pessoas não-brancas que ingressaram no ProUni sempre foi superior ao número de estudantes autodeclarados brancos. Em 2020, por exemplo, 40% dos alunos eram brancos, enquanto 57% eram negros nas turmas de Ensino a Distância (EaD). Já na modalidade presencial, no mesmo ano, o grupo era composto de 39% de pessoas brancas e 59% de estudantes negros. Indígenas e amarelos registraram porcentagens abaixo dos 2% em ambas as modalidades. 

Vanessa: "Eu fui a primeira pessoa da minha família a entrar numa universidade"


Vanessa Ribeiro tem 28 anos e mora na cidade de Barra Velha, no litoral de Santa Catarina. Ela, que perdeu a mãe ainda jovem, precisou dividir o tempo entre o sonho de se formar na universidade e trabalhar para ajudar nas contas de casa. Hoje, é advogada depois de ser aluna do ProUni na Universidade Univille, em Joinville, distante 48km da sua cidade natal.

A jurista ingressou no curso no ano de 2010 e foi a primeira da família a ter um diploma universitário. “Eu não teria conseguido entrar na faculdade se não fosse o ProUni, porque não tinha condições financeiras na época. Eu fui a primeira pessoa da minha família à entrar na universidade”, comenta.

Apesar disso, não foram poucas as dificuldades que a jovem enfrentou. Além de precisar se deslocar diariamente, ela também tinha a necessidade de buscar empregos de meio período, ou estágios, para custear o valor das passagens e auxiliar na renda da casa. Por causa disso, precisou trancar o curso durante um tempo.

“Na época a minha mãe havia falecido e eu optei por algo mais próximo de casa, mas foi um período muito difícil. A gente tem todos os outros gastos, eu precisava me deslocar, gastos com livros, com alimentação, tanto que foi um dos motivos que eu optei por trancar a universidade”, declarou Vanessa.

Sem o ProUni, Vanessa disse que “Hoje eu seria uma pessoa a menos formada no país, uma pessoa a menos na minha área de trabalho.” - (...).

(Seguem-se diversos outros depoimentos, igualmente interessantes. Para ler a íntegra da matéria, clique Aqui).

................
"Segundo o banco de dados do Ministério da Educação, entre 2005, ano de criação do programa, e 2020, cerca de 2,8 milhões de pessoas foram atendidas pelo ProUni em todo o Brasil."

Enquanto isso, o presidente Bolsonaro, referindo-se ao casamento de Lula e Janja, questionou se o petista convidou “algum pobre” para a cerimônia.

Ao que o leitor poderia dizer:

"Não sei se algum pobre foi convidado para o CASAMENTO, o que sei é que o Lula anunciou que, eleito, vai convidar os pobres para o ORÇAMENTO!"

Nenhum comentário: