quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A RÚSSIA SE 'AMOLDA' À PALESTINA

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"A Rússia vem preparando terreno para vir a exercer o papel de um mediador confiável a todas as partes do conflito Israel/Palestina".
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A Rússia, adversária ferrenha dos EUA&OTAN, detém bom trânsito em muitos dos países do Oriente Médio, e integra o BRICS - convindo lembrar que muitos analistas, sobretudo os orientais, sustentam que o que se está a ver no front é, também, o confronto Ocidente x BRICS. Como observadora discreta, a China, presidente atual da ONU (o que, miseravelmente, pouco significa), e que  pode deixar Tio Sam e parceiros a ver navios/submarinos


Por Pepe Escobar,
"A complexa e nuançada questão da neutralidade geopolítica da Rússia na tragédia Israel-Palestina finalmente foi esclarecida na semana passada, e em termos nada ambíguos.

A Prova A é o presidente Putin, em 30 de outubro, dirigindo-se pessoalmente ao Conselho de Segurança de seu país, a altas autoridades do governo e aos dirigentes das agências de segurança.

Entre outros notáveis, estavam na plateia o Primeiro-Ministro Mikhail Mishustin, o Presidente da Duma Vyacheslav Volodin; o Secretário do Conselho de Segurança Nikolai Patrushev, o Chanceler Sergei Lavrov, o Diretor da FSB Alexander Bortnikov; e o Diretor da SVR (inteligência estrangeira) Sergei Narishkin.

Putin não demorou a ir direto ao ponto, detalhando a postura oficial da Federação Russa na atual incandescência geopolítica das duas guerras entrelaçadas, Ucrânia e Israel-Palestina. Sua fala dirigiu-se tanto a sua plateia de alto nível como às lideranças políticas do Hegêmona Ocidental.

"Não há justificativa para os terríveis acontecimentos que vêm tendo lugar em Gaza, onde centenas de milhares de pessoas inocentes vêm sendo indiscriminadamente mortas, sem ter para onde fugir nem onde se esconder dos bombardeios. Ao ver crianças manchadas de sangue, crianças mortas, o sofrimento de mulheres e idosos, equipes médicas sendo mortas, cerramos os punhos e nossos olhos se enchem de lágrimas".

A coalizão do caos liderada pelos Estados Unidos - Veio então a visão geral do contexto: "Temos que entender com clareza quem, na realidade, está por trás da tragédia dos povos do Oriente Médio e de outras regiões do mundo, quem vem organizando o caos mortífero e quem se beneficia dessa situação".

Em termos nada incertos, Putin descreveu "as atuais elites dominantes dos Estados Unidos e de seus satélites" como sendo as principais beneficiárias da instabilidade global, usada por elas para extrair sua renda sangrenta. Sua estratégia também é clara. Os Estados Unidos, como uma superpotência global, vêm enfraquecendo e perdendo sua posição, e todos veem e entendem esse fato, a julgar até mesmo pelas tendências da economia mundial".

O presidente russo traçou uma conexão direta entre a intenção americana de estender sua "ditadura global" e sua política obcecada com a promoção de um ininterrupto caos: "Esse caos ajudará a conter e desestabilizar seus rivais ou, como eles dizem, seus opositores geopolíticos, entre os quais eles também colocam nosso país, que na verdade, são os novos centros do crescimento global e países soberanos independentes que não se prestam a se prostrar submissamente e a desempenhar o papel de servos".

É de importância crucial que Putin tenha feito questão de "mais uma vez repetir" a suas audiências interna e do Sul Global que, "as elites dominantes dos Estados Unidos e de seus satélites estão por trás da tragédia dos palestinos, do massacre do Oriente Médio em geral, do conflito na Ucrânia e de muitos outros conflitos espalhados pelo mundo – no Afeganistão, Iraque, Síria etc.".

Esse é um ponto de importância vital. Ao fundir os perpetradores do conflito na Ucrânia e da guerra em Gaza – "os Estados Unidos e seus satélites" - o presidente russo, de fato, incluiu Israel na agenda do "caos" do Hegêmona do Ocidente.

Moscou se alinha com a verdadeira "comunidade internacional" - Em essência, o que isso nos mostra é que a Federação Russa, de forma inequívoca, alinha-se com a maioria esmagadora da opinião pública do Sul Global/Maioria Global – do mundo árabe a todas as terras do Islã e mais além, na África, Ásia e América Latina.

É interessante que Moscou tenha se alinhado com as análises do Líder iraniano Aiatolá Khamenei – um parceiro estratégico da Rússia – e com o secretário-geral do Hezbollah Hassan Nasrallah, em sua cáustica e sofisticada fala com tons de Sun-Tzu desta última sexta-feira, sobre "a aranha que tenta enredar o planeta inteiro e todo mundo em sua teia".

A Prova B da posição oficial da Rússia sobre a questão Israel-Palestina, veio do representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, em uma sessão especial da Assembleia Geral sobre a Palestina, dois dias depois da fala de Putin.

Nebenzya deixou abundantemente claro que Israel, como uma potência ocupante, não tem o "direito de autodefesa" – fato esse corroborado por uma decisão consultiva da Corte Internacional das Nações Unidas já em 2004.

À época, a corte estabeleceu também, em uma votação judicial de 14 a 1, que a construção por Israel de um maciço muro na Palestina ocupada, inclusive em Jerusalém Oriental, é contrária ao direito internacional.

Nebenzya, em termos legais, anulou o incessantemente invocado argumento do "direito à autodefesa" brandido por Tel Aviv e por toda a galáxia OTAN. O Hegêmona, protetor de Tel Aviv, recentemente vetou o projeto humanitário apresentado pelo Brasil no Conselho de Segurança das nações Unidas pela simples razão de o texto não mencionar o "direito à autodefesa" de Israel.

Apesar de ressaltar que Moscou reconhece o direito de Israel de garantir sua própria segurança, Nebenzya enfatizou que esse direito "só poderia ser plenamente assegurado no caso de haver uma solução justa para o problema palestino com base nas resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas".

O histórico mostra que Israel não respeita qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU no tocante à Palestina. (...).

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