terça-feira, 25 de novembro de 2014

A LÓGICA DE GARCIA


"Em recente comentário televisado, o jornalista Alexandre Garcia (Rede Globo), afirmou que 53 milhões de brasileiros que votaram em Dilma são cúmplices de corrupção. A lógica do jornalista me pareceu interessante. Por isto resolvei utilizá-la.

A Globo já sonegou impostos. Isto fez dos anunciantes, empregados e telespectadores da Rede Globo coautores do crime de sonegação fiscal? Pela lógica de Alexandre Garcia, SIM.

Várias celebridades da Globo são viciadas em cocaína. Isto faz dos telespectadores da Globo usuários de cocaína ou incentivadores do tráfico da droga que movimenta a cena global?

As organizações Globo apoiaram ativamente o golpe de 1964 e se beneficiaram da generosidade dos militares enquanto os mesmos estiveram no poder. Os militares mataram e torturaram dissidentes do regime, crimes que devem ser punidos segundo decisão da OEA. Os donos da Rede Globo serão responsabilizados pelos crimes que ajudaram os militares a cometer?

Há algumas décadas a Globo vendeu Fernando Collor aos brasileiros. O caçador de marajás foi transformado em herói nacional e, depois, em presidente. Collor naufragou na corrupção e foi Impedido de seguir na presidência, mas a Globo continuou a transmitir seus programinhas e noticiários normalmente como se não fosse cúmplice da corrupção.

Várias empresas investigadas na “Operação Lava a Jato” são anunciantes da Rede Globo. O clã Marinho teve e tem lucro para divulgar uma bela e imaculada imagem pública dos empresários corruptores e criminosos que foram presos. Pela lógica do Alexandre Garcia, a Rede Globo deveria ser investigada por lucrar para acobertar a corrupção empresarial?

A Justiça Eleitoral é guardiã do registro do PT e homologou a candidatura de Dilma Rousseff.  Se levarmos a sério o padrão Alexandre Garcia de raciocínio lógico, quem permitiu que a candidata disputasse a eleição e recebesse os votos é, sem dúvida, cúmplice de corrupção. Por que Alexandre Garcia, rejeitando sua própria lógica, atacou 53 milhões de eleitores (em vez) de responsabilizar pessoalmente os Ministros do TSE que possibilitaram que a candidata fosse votada?

Não vou dar mais nenhum exemplo. Não é preciso. No Brasil cada qual é responsável apenas por suas ações e omissões. Ninguém pode ser responsabilizado pelos atos de terceiros. A lógica de Alexandre Garcia é abusiva e, do ponto de vista jurídico, irrelevante. Se fosse voltada contra o empregador dele, a Globo teria que ser fechada e murada para ser transformada num Presídio Fashion de Segurança Máxima. Não creio que isto é necessário. Mas há algo que pode ser feito.

Ao dizer publicamente que 53 milhões de eleitores de Dilma são corruptos e, portanto, criminosos que merecem ser presos, Alexandre Garcia ofendeu-os profundamente. O jornalista pode e deve ser processado civil e criminalmente por cada um destes eleitores (ou até mesmo pelo MPF, que é o guardião dos direitos coletivos e difusos dos brasileiros). E a empresa que divulgou o vídeo dele (a Rede Globo) pode ser considerada co-responsável pelo dano moral causado aos eleitores do PT."






(De Fábio de Oliveira Ribeiro, em post intitulado "Alexandre Garcia e os abusos da lógica", AQUI, sobre comentário feito pelo jornalista global relativamente à Lava Jato.

Algo me diz que Garcia está um tanto apreensivo ante:

.a) a possibilidade - mesmo que remota, para alguns - de a Operação Lava Jato revelar os escândalos tenebrosos do passado, implicando figuras até hoje tidas e havidas como de ilibada conduta. (É perfeitamente possível que  algum ou alguns empreiteiros venham a, a exemplo de outros réus, optar  pela delação premiada e revelem os primórdios de suas perniciosas relações com a Petrobras e outras empresas. Isso sem contar com outra particularidade: os políticos que já figuram no rol dos implicados, cujos nomes, salvo os citados em vazamentos seletivos, certamente virão à tona após a fase 7 da Operação Lava Jato?), e

.b) o fato de que, pela primeira vez na história deste país, empresas corruptoras estão sendo criminalmente enquadradas, o que subverte a 'ordem das coisas', ou seja, pode significar o enterro da impunidade, algo, aliás, que está sendo possível graças à Lei 12.846, sancionada por Dilma Rousseff em dezembro de 2013, com vigência a partir de janeiro de 2014, valendo notar que a Operação Lava Jato foi deflagrada em março, como se seus patrocinadores estivessem, com justa razão, a aguardar a nova realidade trazida por referida lei. Tais particularidades, claro, causam um especial incômodo à mídia e seus parceiros, que não querem admitir o mérito de Dilma relativamente à questão, tentando a todo custo 'esconder' o assunto. Mas, se tudo chegar ao desfecho esperado, com a punição de todos os implicados, não há como evitar que o episódio e 'sua' Lei se tornem divisores de água, fatos marcantes da História. Para desagrado e irritação de muitos 'analistas'...).

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